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Existem mais de 500 espécies de tubarões pelo mundo. Em Portugal, o número fixa-se à volta de 40 tipos diferentes
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Existem mais de 500 espécies de tubarões pelo mundo. Em Portugal, o número fixa-se à volta de 40 tipos diferentes

Existem mais de 500 espécies de tubarões pelo mundo. Em Portugal, o número fixa-se à volta de 40 tipos diferentes

Tubarões nas águas portuguesas? São os mesmos de sempre e não são perigosos. Apenas procuram comida e água quente

Não é só pelos filmes norte-americanos que os tubarões nadam. Em Portugal, várias espécies vivem nas nossas águas durante todo o ano, mas é no verão que a falta de comida os traz para perto da costa.

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Há mais tubarões nas águas portuguesas? Os recentes avistamentos de alguns junto à costa poderia indicar que sim, mas, na verdade, são os mesmos de sempre. Se os vir a nadar mais perto das praias, a razão é simples: vêm à procura de comida, e não é daquela que sabe a banhista, mas sim da que é produzida pelas águas mais quentes. De perigosos têm pouco e podem ser até mais inofensivos que os golfinhos.

No entanto, continuam a ser temidos por muitos e respeitados por outros tantos. São retratados como predadores que dominam as águas mais quentes quando, na verdade, são peixes com uma improvável característica que os distingue de outros: a timidez. Por isso, não é de admirar que se assustem tanto como os humanos quando veem um.

Pelo mundo, há mais de 500 espécies a nadarem pelos mares. Já nas águas portuguesas, o número desce, fixando-se à volta de 40 tipos diferentes. Entre os mais comuns, estão por cá o tubarão-azul, tubarão-cação — muito usado na gastronomia alentejana —, tubarão-branco, tubarão-martelo ou o tubarão-frade. Este último foi avistado recentemente, no domingo, 16 de julho, no parque eólico offshore na costa de Viana do Castelo.

Podendo atingir perto dos 10 metros de comprimento, o tubarão-frade é o segundo maior do mundo, logo a seguir ao tubarão-baleia. Ao Observador, o biólogo marinho Élio Vicente explicou que as duas espécies “não representam qualquer tipo de perigo para os humanos”. No Facebook, a Direção-Geral de Recursos Marítimos partilhou uma fotografia do tubarão-frade reforçando que, apesar de ser “enorme”,“não é perigoso”.

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“Normalmente são avistados onde a água é mais rica em alimento e não mostram receio em se aproximar de pessoas ou embarcações”, pode ler-se na publicação. A espécie alimenta-se de krill [conjunto de espécies de animais invertebrados semelhantes ao camarão], plâncton [conjunto de organismos de dimensão variável, que não têm capacidade natatória para contrariar as correntes, mas que podem fazer migrações verticais nas colunas de água] e ovas de peixe e com a sua “enorme boca, aspiram a água e retêm o alimento, podendo filtrar mais de duas mil toneladas de água por hora.”

Também esta quarta-feira, 19 de julho, foi avistado um tubarão-azul na praia da Baía, em Espinho. O animal despertou a curiosidade dos banhistas, levando muitos a aproximarem-se da beira da água. No Facebook, foi publicado um vídeo do momento no qual se vê o tubarão a afastar-se do areal. Segundo a imprensa local, o animal regressou pouco depois para o alto mar.

O tubarão-azul, também conhecido como tintureira, é uma espécie comum em águas temperadas e tropicais, sendo mais abundante no Oceano Atlântico. Pode medir até cerca de quatro metros e é caracterizado pela sua cor azul.

A presença destes animais nas águas portuguesas é mais normal do que aquilo que se pensa. Apesar de se encontrarem habitualmente muito longe da zona costeira, no verão tendem a aproximar-se porque o alimento começa a abundar assim que a água fica mais quente. No entanto, existem tubarões a viver na nossa costa o ano inteiro.

“Nestas alturas há mais pessoas na praia, portanto a probabilidade de se cruzarem com animais é maior. Eles também cá existem no inverno, só que há menos pessoas dentro de água no inverno, há menos pessoas a passear ao longo da linha costa e, portanto, este tipo de interações ou este tipo de visionamentos é mais reduzido”, explicou o biólogo marinho Élio Vicente.

É, por isso, muito comum a sua aproximação. Como Élio Vicente afirma, é “algo que acontece todos os anos”. Mas, é importante perceber que quando se refere a costa, não é necessariamente à beira mar, junto dos banhistas. “Quando estamos a falar de perto da costa é a algumas dezenas ou centenas de metros [de distância]”, explicou.

Porque é que este fenómeno acontece? Os tubarões sentem-se atraídos pelas praias portuguesas?

Há dois motivos que explicam a aproximação de tubarões à costa portuguesa e os dois interligam-se entre si: a alimentação e a temperatura da água.

Quando há falta de alimento, os peixes procuram áreas onde, normalmente, esse alimento possa existir — geralmente nas partes mais baixas. “O que acontece nesta época do ano é absolutamente normal, principalmente com animais que se alimentam de plâncton, como é o caso do tubarão-frade”, refere o especialista.

"Se eu estiver dentro de água e estiver um tubarão, eu provavelmente fico dentro de água. Se eu estiver dentro de água e se aproximar um golfinho, eu saio imediatamente de água."
Élio Vicente, biólogo marinho

a temperatura da água desempenha um papel essencial na criação deste alimento. Para além de plâncton, há espécies de tubarões que recorrem também a fitoplancton [conjunto dos organismos aquáticos microscópicos que têm capacidade fotossintética e que vivem dispersos flutuando nas colunas de água] e zooplancton [conjunto dos organismos aquáticos que não têm capacidade fotossintética e que vivem dispersos nas colunas de água], cuja disponibilidade é influenciada pela temperatura da água.

“No verão, existe obviamente um aumento tradicional das temperaturas da água, principalmente em zonas costeiras, portanto, de menor profundidade, e isso faz com que haja um pico de produção. Primeiro fitoplanctónica, portanto o plâncton com os micro-organismos de natureza vegetal, depois servem de alimento aos micro-organismos de natureza animal, o zooplancton. E esses organismos servem de alimento a muitos animais, como por exemplo as sardinhas, mas também a alguns tubarões. Vemos estes ciclos anuais em que, nesta época, certos tipos de animais se alimentam em maiores quantidades porque há mais alimento disponível” mais perto da costa, explica.

É seguro para ir a banhos?

Sim. Os tubarões que rondam a nossa costa não são uma ameaça iminente. Como Élio Vicente relembra, “o mito dos tubarões” não existe em Portugal como acontece, por norma, nos filmes norte-americanos.

É comum que as pessoas pensem no “clássico dos tubarões”. Estamos habituados a ver nos EUA os grandes tubarões-brancos junto da costa a atacar surfistas e qualquer pessoa que esteja dentro de água. Mas, na verdade, os tubarões são animais tímidos e tendem a fugir dos humanos.

"Os tubarões só atacam por fome, como os lobos."
Mário Marques, climatologista

O biólogo marinho explica que nos EUA os tubarões surgem mais perto da costa porque se alimentam de focas e de leões marinhos que estejam na praia. Já em Portugal, como não existem esse tipo de espécies, os tubarões que poderiam representar uma ameaça não se aproximam.

“Portanto, não há registos em Portugal de ataques de tubarões, porque embora nós sejamos um país com uma grande diversidade de tubarões nas nossas águas, eles não são perigosos para nós a nível nem do alimento, nem do comportamento”, explicou, acrescentando: “Não olham para nós como alimento e fazem aquilo que a maior parte dos tubarões fazem: fogem porque são tímidos“.

“Se eu estiver dentro de água e estiver um tubarão, eu provavelmente fico dentro de água. Se eu estiver dentro de água e se aproximar um golfinho, eu saio imediatamente de água”, afirmou Élio Vicente, explicando que é mais recorrente que um golfinho tenha um comportamento mais interativo com os humanos, podendo magoar-nos, mesmo que não seja essa a intenção e queira apenas interagir.

Também o climatologista Mário Marques sustenta a opinião de Élio Vincente, reforçando que “os tubarões só atacam por fome, como os lobos”. “Eu acho que a probabilidade de sermos atingidos por um raio é maior do que de sermos atacados por um tubarão”, acrescentou, em conversa com o Observador.

Podemos esperar mais avistamentos durante este verão?

Garantidamente. Apesar de parecer um fenómeno incomum, segundo o biólogo marinho, “nós vemos tubarões em Portugal todos os dias”. No entanto, o que acontece é que as pessoas não o relatam “de uma forma geral”, seja por não terem uma câmara perto no momento, seja por normalizarem o aparecimento do animal.

“O grupo dos tubarões é muito comum na nossa costa, quer os que vivem cá, portanto são espécies residentes, quer aquelas que são transientes, que passam pela nossa costa por motivos de alimentação ou de reprodução”, acrescentou.

São benéficos para Portugal?

Élio Vicente explica que entre as espécies mais conhecidas na nossa costa, o tubarão-branco é uma delas. Apesar de não ser comum que se aproxime da linha costeira, por vezes há registos que mostram a sua presença mais perto das praias.

Desta forma, o biólogo marinho considera que o facto de Portugal ter “ainda a felicidade de encontrar muitas espécies nas nossas águas” é um sinal de qualidade ecológica e de segurança para a pesca.

“Quando estes predadores de topo desaparecem, há todo um desequilíbrio ecológico que faz com que, entre outras coisas, algumas espécies de peixes também comecem a desaparecer”, explicou.

Getty Images/iStockphoto

Os tubarões representam nos oceanos aquilo que os leões representam na savana. Ajudam a manter as populações saudáveis uma vez que, quando se alimentam, atacam os animais mais fracos e doentes. Desta forma, previnem a disseminação de doenças, evitando pandemias e a morte massiva de alimentos de uma espécie.

“Portanto quando os tubarões estão presentes, as populações de peixes de uma forma geral estão saudáveis, porque os alimentos doentes são removidos rapidamente do grupo e portanto evitam a disseminação de doenças”, acrescentou.

Já Jorge Miguel Miranda, ex-presidente do IPMA, também considera ser “um bom sinal”. “Pode ser um sinal de recuperação de equilíbrios ecológicos que são necessários”, afirmou, em conversa com o Observador.

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