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Elon Musk and Twitter
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“Isto vai ser incrível”, escreveu Elon Musk antes da divulgação dos primeiros Twitter Files

Anadolu Agency

“Isto vai ser incrível”, escreveu Elon Musk antes da divulgação dos primeiros Twitter Files

Anadolu Agency

Twitter Files. A última polémica de Elon Musk é uma bomba política ou pólvora seca?

Divulgação de mails internos do Twitter sobre o caso do filho de Biden mostra que houve censura de notícias mas não prova a existência de interferência política indevida. A história, porém, não acabou

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Elon Musk tinha colocado a fasquia alta. O novo CEO do Twitter, que comprou a plataforma por 44 mil milhões de euros no final de outubro, tem estado desde então nas notícias praticamente todos os dias. E, na semana passada, prometeu novamente agitação: “Isto vai ser incrível”, escreveu no Twitter, acompanhado de um emoji com pipocas. Mas, ao contrário do habitual, cedeu a palavra ao jornalista Matt Taibbi, que publicou uma longa thread intitulada “Twitter Files” e que seria retweetada por Musk pouco depois.

Taibbi — um antigo jornalista da Rolling Stone conhecido pelas suas posições mais à esquerda que é hoje em dia um crítico dos media — foi contactado diretamente pela nova liderança do Twitter para consultar ficheiros internos da empresa e investigar se terá havido ou não interferência política na decisão de não divulgar uma notícia do New York Post, em 2020, que visava Hunter Biden, filho do agora Presidente norte-americano.

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E Musk apressou-se a enquadrar a iniciativa como sendo parte da sua cruzada pela liberdade de expressão. “Esta é uma batalha pelo futuro da civilização. Se a liberdade de expressão for perdida na América, só teremos pela frente a tirania”, tweetou, acrescentando que as pessoas têm direito a “conhecer a verdade”.

Build Presents Alex Gibney, Blair Foster & Matt Taibbi Discussing "Rolling Stone: Stories from the Edge"

Matt Taibbi foi o jornalista que revelou os Twitter Files, que recebeu da própria empresa

WireImage

A reação dos media norte-americanos, porém, não podia ser mais polarizada. Enquanto a Fox News escrevia dezenas de peças para o seu site sobre o assunto e cobria intensamente o tema em antena, a maioria dos canais de televisão e jornais mal abordaram o assunto. O Wall Street Journal reduziu a cobertura jornalística a mínimos, apesar de ter escrito em editorial que a divulgação dos Twitter Files “é notícia seja qual for a definição usada, mesmo que os mainstream media a ignorem”.

O Washington Post foi uma das exceções, escrevendo um artigo mais aprofundado sobre o tema, mas onde se afirma que os Twitter Files “não revelaram nenhuma ‘smoking gun’ de que o gigante tecnológico tenha cedido à vontade dos democratas”, usando a expressão em inglês para uma “arma fumegante”, a prova irrefutável do crime.

Isto tudo apesar de ter sido o tema que levou o antigo Presidente e candidato à reeleição Donald Trump a decretar que a Constituição norte-americana devia ser abolida, os republicanos a prometerem mais investigações a Hunter Biden no Senado e o próprio Musk a demitir um dos trabalhadores do Twitter (e antigo funcionário do FBI), Jim Baker. Baker, por sinal, acabaria por revelar-se uma peça fulcral do puzzle e a razão pela qual os Twitter Files parecerem inicialmente menos bombásticos do que o prometido — uma situação que pode estar a mudar nesta história em contínuo desenvolvimento, onde já se fala em “listas negras” dentro do Twitter e contactos com o FBI.

O que são então os Twitter Files? Têm ou não conteúdo explosivo sobre censura? E qual o seu potencial para influenciar as próximas eleições presidenciais?

O computador de Hunter Biden no centro de todo o caso

Primeiro que tudo, é preciso dar contexto. Os Twitter Files revelam o processo de deliberação interna do Twitter que levou à decisão de censurar um artigo do New York Post e tweets que partilhavam conteúdo do computador portátil de Hunter Biden, filho de Joe Biden, à altura candidato à presidência dos Estados Unidos.

Esse conteúdo foi obtido quando o computador foi posto a arranjar numa loja de informática no Delaware e não foi levantado pelo próprio Hunter. O dono da loja achou ter encontrado material incriminatório e diz que contactou o FBI, mas não foi tido em conta. Decidiu, então, entregar o conteúdo a Rudy Giuliani, um dos advogados e conselheiros de Donald Trump, que o passou para o estratega Steve Bannon e acabou por chegar às mãos de jornalistas do New York Post. Foi também passada a repórteres de outros órgãos, como o Wall Street Journal, que não quiseram contudo divulgar o assunto por não conseguirem comprovar a veracidade daquele material.

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Joe Biden com o filho Hunter Biden, sobre quem recaem as suspeitas relacionadas com a Burisma

Getty Images

O conteúdo que o New York Post considerou ser digno de notícia eram não apenas várias selfies de Hunter sem roupa, mas também um email de 2015 de Vadym Pozharskyi, conselheiro da empresa energética Burisma, onde à altura trabalhava Hunter Biden. Nesse email, Pozharskyi pedia para que Hunter organizasse um encontro com Joe Biden, à altura vice-presidente da administração de Barack Obama. Os advogados de Hunter garantem que o encontro nunca chegou a acontecer.

Apesar disso, o New York Post considerou que o email tinha relevância noticiosa, já que podia dar corpo à tese de que o filho de Biden teria tido um papel na decisão do pai de ameaçar o governo ucraniano de não receber ajuda financeira caso não despedisse o procurador-geral Viktor Shokin. Em publicações na internet, muitos garantem que essa pressão para o despedimento aconteceu por a justiça ucraniana estar a investigar a Burisma, onde trabalhava o filho; vários membros da administração Obama, contudo, garantem que a ameaça foi feita por Shokin não estar a investigar a corrupção política no país. Hunter Biden está neste momento a ser investigado pelo FBI, mas por questões fiscais.

O artigo do New York Post surgiu numa altura em que, como confirmou o agente do FBI Elvis Chan num julgamento que está a decorrer, o FBI estava a ter várias reuniões com representantes do Facebook e do Twitter para os alertar para o risco de desinformação com origem estrangeira em véspera de eleições, à semelhança do que ocorreu com a interferência russa na corrida de 2016. Informação essa que não é nova: já tinha sido confirmada pelo antigo diretor de segurança do Twitter, Yoel Roth, num testemunho perante o Congresso em 2020.

“Envolve um órgão de comunicação social relativamente mainstream, com participação de várias figuras públicas e aconteceu mesmo antes da eleição de 2020. Foi também logo a seguir a uma eleição presidencial que parece ter sido significativamente influenciada por atores estrangeiros."
John P. Wihbey, professor especializado em Tecnologia e Ética da Universidade de Northeastern, sobre as "circunstâncias invulgares" deste caso

A equipa do Twitter decidiu não permitir a partilha do artigo do New York Post, alegando receios de que a informação ali contida pudesse ter sido obtida via hacking. Mais tarde, reverteu essa deliberaçãoi, com o CEO da altura, Jack Dorsey, a classificar como “errada” a decisão de bloquear inicialmente o conteúdo divulgado pelo jornal norte-americano.

John P. Wihbey, professor especializado em Tecnologia e Ética da Universidade de Northeastern (e que trabalhou como consultor para o Twitter), sublinha em declarações ao Observador que todo esse contexto fez com que este caso tivesse ocorrido em “circunstâncias invulgares”. “Envolve um órgão de comunicação social relativamente mainstream, com participação de várias figuras públicas e aconteceu mesmo antes da eleição de 2020. Foi também logo a seguir a uma eleição presidencial que parece ter sido significativamente influenciada por atores estrangeiros”, afirma.

O “erro” do Twitter ao banir um artigo do New York Post

Aquilo que Matt Taibbi revelou agora nos Twitter Files, divulgados no próprio Twitter, é o resultado da sua investigação depois de ter acesso a dados das comunicações internas da empresa sobre o processo de decisão de suspensão do artigo do New York Post. O próprio classificou a investigação como “um conto frankensteiniano de um mecanismo construído por humanos que saiu do controlo do seu criador”.

Isso incluiu print screens dos emails de vários membros da empresa, com alguns a alertarem para o risco da decisão de censurar um artigo de um jornal. “Vamos enfrentar questões difíceis se não tivermos argumentos sólidos”, avisou um funcionário.

O argumento que acabou por ser invocado foi o de que havia uma elevada probabilidade de o material do computador de Hunter Biden ter sido obtido através de hacking, algo que estava previsto na política do Twitter à altura como razão para banir conteúdo. Mas, segundo Taibbi, havia a noção dentro da empresa de que esta era uma decisão controversa. “A desculpa era o hacking, mas, em poucas horas, percebeu-se que não era forte o suficiente. Só que ninguém teve coragem para recuar”, disse um antigo funcionário do Twitter ao jornalista.

A empresa decidiu bloquear o artigo do New York Post em publicações e mensagens privadas, uma medida que, segundo Taibbi “está normalmente reservada a casos extremos, como pornografia infantil”.

“Até pessoas de esquerda como o Kahna avisaram ‘Vocês podem ter boas intenções, mas o efeito geral não vai ser bom’. Ir longe demais e banir notícias cria uma má atmosfera.”
John P. Wihbey

A decisão foi tomada apesar do parecer contra de um político, surpreendentemente do Partido Democrata. Nos emails, é possível ler a opinião do congressista Ro Khanna, que foi consultado, e que diz que, apesar de ser “totalmente um fã de Biden”, considera que não deve ser aberto este precedente. Foi também tomada apesar de, como lembrou o ex-republicano e crítico de Trump David French, na revista Atlantic, “a plataforma à altura já ter permitido a partilha em larga escala de artigos do New York Times com base em informação que tinha sido alvo de leaks sobre a situação fiscal de Donald Trump”.

Dois dias depois, o CEO Jack Dorsey — que não está presente nas conversas agora divulgadas pelo Twitter Files e que, segundo Taibbi, não estava a par da situação — voltou atrás na medida e disse que a decisão tinha sido “um erro”. Já em março deste ano, o New York Times e o Washington Post conseguiram confirmar que pelo menos parte do conteúdo divulgado como sendo do computador de Hunter Biden é autêntico.

Para o professor Wihbey, a escolha do Twitter em censurar o artigo foi uma “má decisão”: “Até pessoas de esquerda como Kahna avisaram ‘Vocês podem ter boas intenções, mas o efeito geral não vai ser bom’. Ir longe demais e banir notícias cria uma má atmosfera”, diz ao Observador. O que não significa, porém, que considere que os Twitter Files trazem alguma revelação bombástica sobre interferência política.

“Não descobrimos nada de novo. Já sabíamos que tinha havido um grande debate dentro da empresa sobre o que fazer com aquela informação, que foi banida e que depois recuaram nisso. A única coisa que vejo ali são pessoas inteligentes a discutir o que fazer numa situação de grande pressão, em que se podia estar perante uma história que vinha de atores com más intenções. Não vejo nada que aponte para comportamento conspiratório”, afirma, destacando as milhões de vezes em que o Twitter tem de tomar decisões do género relativamente a conteúdo que pode violar as suas regras.

Os pedidos da candidatura de Biden — mas também da de Trump

Elon Musk discorda e grande parte do seu entusiasmo com os Twitter Files estão no facto de haver outras revelações sobre a relação da empresa com a campanha de Joe Biden. Só que o conteúdo não é assim tão incriminador.

Alguns dos emails divulgados por Taibbi mostram comunicação direta entre a campanha de Joe Biden e a empresa, com o staff do candidato democrata a pedir para que fossem retiradas determinadas publicações relacionadas com Hunter Biden. “Em 2020, pedidos de atores com ligações relevantes para que fossem apagados tweets eram rotina”, escreveu o jornalista. “Um executivo escrevia a outro: ‘Mais coisas da equipa do Biden para rever’. A resposta chegava: ‘Tratado.”

Há, porém, duas nuances. A primeira é admitida claramente por Taibbi, que reconhece que também eram feitos pedidos pela campanha de Donald Trump: “Ambos os lados tinham acesso a esta ferramenta. Por exemplo, em 2020, tanto pedidos da Casa Branca de Trump como da campanha de Biden foram recebidos e aceites.” Só que, diz o jornalista, “esse sistema não era equilibrado” e baseava-se apenas nos contactos pessoais — beneficiando, por arrasto, os democratas, que conheceriam mais gente dentro do Twitter. Para justificar esta avaliação, Taibbi apresenta os dados que mostram que houve muito mais contribuições financeiras para a campanha de Biden por parte de funcionários do Twitter do que para a de Trump. Não apresenta mais nenhuma prova das ligações diretas da empresa ao candidato democrata.

A segunda nuance é que, no email escolhido por Taibbi para mostrar um desses pedidos da campanha de Biden, a maioria dos links ali apontados diziam respeito a conteúdos que violavam diretamente a política do Twitter e que são removidos sem questionar: eram fotografias de Hunter Biden nu ou em atos sexuais. Nos Twitter Files, Taibbi não refere essa informação. Quem se apercebeu foi o Business Insider e um comentador, Christian Schneider, que usaram ferramentas de arquivo online para ver que tweets apagados eram aqueles.

Há um ponto que o comentador Jim Geraghty, da conservadora National Review, disse ser “um detalhe importante. “A maioria de nós concorda que há uma diferença substancial entre ‘Por favor, retirem estas fotografias do meu filho nu, cuja partilha não foi consentida por ele’ e ‘Por favor, retirem esta informação sobre os negócios do meu filho com estrangeiros duvidosos que me embaraçam a mim e à minha campanha’”. Isto apesar de o próprio Geraghty considerar que os Twitter Files “confirmam os detalhes há muito questionados sobre uma matéria de extrema importância para o futuro do discurso político online da América”.

Geoffrey Kabaservice, historiador, especialista no Partido Republicano e diretor de estudos políticos no think tank conservador Niskanen Center, diz ao Observador que também não vê aqui qualquer “conspiração ou interferência na liberdade de expressão”. “As regras de moderação do Twitter dizem que quando há nudez, isso tem de ser removido. A campanha de Biden estava apenas a lembrá-los das suas próprias regras. E a campanha de Trump estava a fazer o mesmo do outro lado.”

“Essas decisões são do próprio Twitter e não há retórica retorcida suficiente que possa transformar uma história do Twitter num escândalo governamental.”
David French, comentador republicano crítico de Trump

Taibbi considera que o Twitter é pró-democrata e crê haver provas de que havia uma tendência a favor da campanha de Biden dentro da empresa. Mas desmente taxativamente uma das alegações feitas por alguns comentadores conservadores, inclusivamente por ele próprio em agosto: a de que neste caso teria havido interferência direta de agências governamentais, como o FBI, para que o artigo do New York Post fosse censurado — beneficiando indiretamente os democratas. “Não há qualquer prova — pelo menos naquilo que vi — de que haja envolvimento governamental nesta história do computador portátil.”

Um ponto destacado pelo conservador David French na Atlantic, que considerou a decisão de apagar as fotos de Hunter nu acertadas, mas questionou a decisão de banir o artigo. Só que deixa uma ressalva: “Essas decisões são do próprio Twitter e não há retórica retorcida suficiente que possam transformar uma história do Twitter num escândalo governamental”.

Como Trump e o Partido Republicano querem usar os Twitter Files

Isso não impediu alguns atores políticos de se envolverem em toda a linha no caso. O representante James Comer, congressista do Partido Republicano e futuro líder do Comité de Supervisão do Congresso, deixou uma promessa: chamar para audições no Comité “cada empregado do Twitter que esteve envolvido na supressão da história do computador portátil de Hunter Biden”. Em declarações à Fox News, Comer classificou os Twitter Files como “uma história enorme” que mostra “supressão eleitoral”.

Donald Trump também usou o caso para fazer uma proposta revolucionária: abolir a Constituição. “A fraude e deceção massiva e difundida do trabalho conjunto das grandes empresas de tecnologia, o Comité Nacional Democrata e o Partido Democrata”, disse na rede social Truth Social (onde está desde que foi banido do Twitter), “permite a abolição de todas as regras, regulamentos e artigos, até aqueles que estão na Constituição”. E, uma vez mais, Trump pediu novas eleições, considerando que os Twitter Files provam que a eleição foi fraudulenta. “Uma fraude sem precedentes exige uma cura sem precedentes!”, escreveu ainda.

Former U.S. President Donald Trump  Makes An Announcement At His Florida Home

Donald Trump reagiu aos Twitter Files dizendo que provam que a eleição de 2020 foi fraudulenta e pediu a abolição da Constituição

Getty Images

As afirmações levaram à única resposta da Casa Branca aos Twitter Files, ainda que indiretamente, com o assessor de imprensa Andrew Bates a pedir aos republicanos que se distanciem destas declarações de Trump: “Pedir aos membros do Congresso que reafirmem o seu juramento de defender a Constituição não devia ser muito a pedir.”

Mas a estratégia por parte de Trump de usar os Twitter Files para sustentar a sua narrativa de que a eleição de 2020 foi fraudulenta não deverá ficar por aqui, arrisca Geoffrey Kabaservice. “É claro que ele vai tentar usar isto para o beneficiar e, a curto prazo, vai conseguir. Neste momento tudo o que ele tem de fazer é só vencer as primárias do Partido Republicano e, neste momento, 30% a 35% do eleitorado do partido é um eleitorado radical que acredita em tudo o que Trump diz”, afirma ao Observador. “Se um dos seus adversários, como Ron DeSantis, disser ‘Suspender a Constituição não é boa ideia’ vai perder esse eleitorado, por isso nunca o vai fazer”.

Significa isso, porém, que a estratégia republicana de capitalizar os Twitter Files para fazer audições no Congresso e investigações a Hunter Biden também deverá resultar? Este consultor político dúvidas sobre esse ponto. “A massa geral de eleitores não concorda com ideias como estas”, diz, apontando para os recentes resultados das eleições intercalares, onde os republicanos não conseguiram conquistar o Senado. “Isto pode resultar no curto prazo, mas a longo prazo não vai resultar.”

Elon Musk admite que já votou no Partido Democrata no passado, mas agora está cada vez mais a aproximar-se dos republicanos — razão pela qual muitos membros do partido o têm elogiado e defendido publicamente. Musk já disse inclusivamente que gostaria de ver uma candidatura de Ron DeSantis à presidência.

In this photo illustration, Twitter account of Elon Musk is

Musk anunciou recentemente que baniu Kanye West depois de este ter tweetado uma suástica

SOPA Images/LightRocket via Gett

Mas Kabaservice alerta que a aliança recém-formada entre o Partido Republicano e Elon Musk “não é um casamento perfeito”. “A certa altura, ele vai estar mais preocupado com fazer lucro” do que com a política, prevê. E dá já um exemplo concreto: a recente decisão de Musk de, apesar de se definir como um “absolutista da liberdade de expressão”, banir o rapper Kanye West do Twitter novamente, depois de este ter publicado uma imagem de uma Estrela de David com uma suástica lá dentro.

“Há um exemplo que ilustra bem como este é um casamento de conveniência”, diz. Em outubro, a representação dos republicanos no Comité Judiciário da Câmara dos Representantes fez um tweet que dizia apenas “Kanye. Elon. Trump.”, em referência ao rapper Kanye West, ao próprio Musk e ao antigo Presidente. Agora, a 1 de dezembro, esse tweet foi apagado. “Eles achavam que estas figuras iam ajudá-los e agora, com os escândalos todos do Kanye West, começam a achar que foi uma aposta perdida. Não se esqueça que estamos a falar no dia em que o Herschel Walker perdeu”, afirma o historiador, referindo-se à derrota do candidato trumpista no Senado que selou o facto de a câmara alta do Congresso ficar controlada pelos democratas.

Se com Kanye não resultou, a aliança com Musk também pode não ser tão frutífera. O empresário pode demonstrar maior independência do que alguns republicanos esperam, com um sinal já dado: Musk apressou-se a criticar as declarações de Trump sobre a Constituição, dizendo que o documento “é maior do que qualquer Presidente”. “Fim de história”.

O despedimento do antigo funcionário do FBI e o possível volte face dos Twitter Files

As primeiras revelações dos Twitter Files não foram, por tudo isto, a pedrada no charco que alguns anteciparam. Com um Partido Republicano à beira de prováveis primárias entre Trump e DeSantis, a história de Hunter Biden e do Twitter irá provavelmente ser usada por alguns, mas não é certo quem poderá beneficiar.

“É claro que Trump vai tentar usar isto para o beneficiar e, a curto prazo, vai conseguir. Neste momento tudo o que ele tem de fazer é só vencer as primárias do Partido Republicano e, neste momento, 30% a 35% do eleitorado do partido é um eleitorado radical que acredita em tudo o que Trump diz.”
Geoffrey Kabaservice, historiador, especialista no Partido Republicano e diretor de estudos políticos no think tank conservador Niskanen Center

Isso foi evidente nas declarações de algumas das figuras mais insuspeitas de defender o Twitter ou o Partido Democrata. Miranda Devine, colunista do New York Post que publicou o artigo de Hunter, disse na Fox News que esta “não é a smoking gun de que estávamos à espera”. Já Sebastian Gorka, antigo assistente de Trump tornado estrela da talk radio, disse-se “desapontado”. “O Comité Nacional Democrata pedir a uma empresa privada que censure alguma coisa não tem nada a ver com a Primeira Emenda”, disse, referindo-se ao artigo da Constituição que proíbe a interferência direta do governo na liberdade de expressão.

Esta quarta-feira, porém, Taibbi fez novos tweets com outros detalhes. Elon Musk tinha prometido mais revelações dos Twitter Files no sábado passado, mas elas não foram divulgadas. Taibbi explicou agora porquê: porque soube entretanto que a pessoa responsável dentro do Twitter pela seleção de quais os emails que lhe seriam passados era Jim Baker, um dos envolvidos nos emails — e precisamente o antigo funcionário do FBI.

Clinton Attorney Michael Sussman Acquitted Of Charge Of Lying To The F.B.I.

Jim Baker, o antigo funcionário do FBI e do Twitter que foi despedido por possivelmente ter suprimido informação dos Twitter Files

Getty Images

Pouco depois, Musk anunciava o despedimento de Baker, pelo seu “possível envolvimento na supressão de informação relevante para o diálogo público”. Na prática, deixava nas entrelinhas que Baker poderá ter deixado de fora da seleção de emails informação relevante e potencialmente incriminadora — o que, ligado ao seu passado no FBI, fez disparar os alarmes para alguns.

Desde então, o fluxo de nova informação sobre os Twitter Files acelerou. Primeiro, a jornalista Bari Weiss (que se demitiu do The New York Times por considerar que foi atacada pelos colegas por ter opiniões diferentes da maioria) revelou aquilo que classificou de “listas negras”. Em concreto, o Twitter terá afinado o seu algoritmo para dar menos visibilidade a alguns tweets com ideias polémicas, o que prejudicou utilizadores mais à direita face a utilizadores que propagavam ideias de esquerda.

“Vejam o exemplo do Dr. Jay Bhattacharya, de Stanford, que defendeu que os confinamentos da Covid prejudicam as crianças”, escreveu Weiss. “O Twitter colocou-o em segredo numa ‘Lista Negra de Trends’ que impedia que os seus tweets aparecessem como trending.”

Um dia depois, Taibbi partilhava mais uma edição dos Twitter Files, que colocava a potencial ação de Jim Baker mais a nu: “As comunicações internas mostram executivos do Twitter entusiasmados com as suas relações fortalecidas com as agências federais“, escreveu o jornalista. Em concreto, mostrou vários emails onde responsáveis como Vijaya Gadde e Yoel Roth confirmavam múltiplas interações com agentes do FBI, que davam conselhos sobre como determinado material — geralmente relacionado com teorias de fraude eleitoral na eleição de 2020 — não deveria ser propagado na rede social.

Essas conversas incluem o processo de decisão sobre a expulsão do próprio Donald Trump do Twitter e ilustram o debate interno de uma empresa sobre onde traçar a linha do que autoriza ou não a propagar na sua rede social. E que, muitas vezes, acaba por ter uma inevitável inclinação ideológica, numa altura em que a fronteira entre verdade e teoria da conspiração se torna cada vez mais difusa.

Na passada quinta-feira, Matt Taibbi falou ao Politico sobre os Twitter Files e admitiu que ainda não encontrou nenhuma “smoking gun” nos ficheiros que leu: “Até agora, quase tudo o que vi só confirma o que já sabíamos, mas continua a ser embaraçoso de ler”, disse. O tempo dirá se os Twitter Files trazem alguma “smoking gun” sobre interferência política na empresa ou, em alternativa, se poderão abrir uma discussão sobre a transparência das grandes tecnológicas. As revelações continuam a um ritmo acelerado, mas, em cima da mesa, continua também a possibilidade de tudo não passar de pólvora seca.

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