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Casa do Ribeiro de Cândo
Gerês
Casa completa a partir de 280€ (estadia mínima de 2 noites)
Há um momento Hänsel e Gretel à chegada. Passado o portão cinzento, e no meio de um bosque frondoso, é preciso procurar uma pista para dar com a casa. Não são pedras nem migalhas, mas os primeiros degraus de uma longa escadaria que desce até à estrutura de betão e vidro, surpreendentemente camuflada na natureza. Apesar de ser uma obra de arquitetura moderna, assinada pelo Atelier Carvalho Araújo, a Casa do Ribeiro de Cândo foi desenhada para se inserir na paisagem, numa das entradas do Parque Nacional da Peneda-Gerês e a um quilómetro da barragem da Caniçada.
O rio fica apenas a uma dezena de metros, e a casa chega a parecer suspensa na água, sobretudo a partir do piso intermédio, onde fica a sala envidraçada, praticamente despida de decoração – com um cadeirão Vitra de Charles e Ray Eames, um sofá, uma coleção de tapetes vintage e pouco mais – mas com um autêntico quadro de Monet constantemente a entrar pelas janelas.
Construída como refúgio de férias para os proprietários tirarem partido da barragem, desde 2022 a casa também recebe hóspedes, através do Airbnb e do site Design Escapes, em regime de self-catering. No piso de baixo há uma cozinha equipada com uma grande ilha preta para preparar o pequeno-almoço (e não só), assim como duas zonas de refeições, no interior e ao ar livre. Mais austero, o piso de cima foi reservado para dormir e tem apenas duas aberturas de luz sobre as casas de banho. Em forma de cubos de vidro com cortinas que se podem correr, há dois quartos de casal e dois com cama de solteiro, para um máximo de seis hóspedes.
Com um deck junto à casa e outro que serve de anfiteatro à queda de água do ribeiro de Cândo, onde é possível dar de caras com pescadores locais à procura de lagostins, a casa tem ainda um passadiço privado que dá acesso a um ancoradouro. Ou seja, não só é possível chegar de barco, como há empresas locais que alugam motas de água e outros equipamentos para desportos aquáticos.
Nos meses de verão as águas tranquilas agitam-se com visitantes e a barragem baixa de nível para criar várias praias fluviais, incluindo junto à propriedade, que conta ainda com um tanque camuflado.
Monte das Queijeiras
Alandroal
Casa completa a partir de 200€ (estadia mínima de 2 noites no inverno e 5 no verão)
A culpa foi das férias no Alqueva. “A voltar para o Porto, com os miúdos a dormir no carro, vínhamos a sonhar ter um monte alentejano”, conta Leonor Afonso, de 35 anos. As quatro horas de viagem deram tempo para cimentar a ideia e passadas duas semanas já estavam, Leonor e o marido, em visitas no terreno. Foi assim que descobriram o Monte das Queijeiras, no meio de um olival orgânico e rodeado de herdades onde passeiam vacas e pouco mais, numa aldeia do Alandroal, a 15 quilómetros de Monsaraz.
“Quando encontrámos este monte, tivemos a sensação de termos chegado ao sítio que estávamos à procura. Acho que até tinha sonhado com aquele fardo de palha que estava à entrada”, recorda Leonor. Para além da envolvência e do sossego, o casal ligado à construção – Leonor é arquiteta e o marido engenheiro civil – apaixonou-se “pela casa em si e o facto de ainda estar intocada”. “O monte é de 1937 e acho que nunca tinha sido mexido.”
A reabilitação foi feita pela dupla sempre com a ideia de “respeitar a vernaculidade da arquitetura e o que os japoneses chamam de wabi-sabi: a beleza do imperfeito”. O chão de tijoleira produzido ali perto no Corval foi mantido com todas as marcas da passagem do tempo, assim como a manjedoura da antiga cavalariça, visível num dos dois quartos, agora com casa de banho e eletricidade. O xisto que forma as grossíssimas paredes foi deixado à vista aqui e ali e até as telhas foram retiradas e recolocadas uma a uma depois de ser aplicado um novo isolamento no telhado.
Lá fora, foi feita uma piscina inspirada nos tanques alentejanos – onde vale a pena reparar no detalhe engenhoso dos degraus de acesso – e mesmo junto à casa um alpendre de onde se vê Monsaraz ao fundo. Tudo convida ao descanso, numa simplicidade acolhedora desde abril partilhada com hóspedes “que também sonham ter um monte, nem que seja por uns dias”.
Para honrar o nome da propriedade, conhecida na aldeia de Cabeça de Carneiro pelos tempos em que aqui se fazia pão e queijo, à chegada é deixado um queijo de cabra fresco na cozinha – de manhã, é só pendurar um saco de pano no portão que o padeiro deixa pão alentejano fresquinho. A pedido, é também possível receber cabazes da Herdade Terra May, que explora ainda o restaurante Raya na praia fluvial Azenhas d’el Rey, a 10 minutos de carro.
Graças ao sofá-cama, o monte acomoda um total de seis hóspedes e é ideal também para crianças, que num passeio pelo olival darão com uma baliza para golos entre as oliveiras, e ainda um baloiço pendurado numa azinheira. No futuro, a ideia é ampliar o espaço e voltar a unir o monte com a casa do lado, que está desocupada e tem o forno antigo, todo em xisto.
Casa do Côvo
Porto Covo
A partir de 400€ (estadia mínima de 3 noites no inverno e 7 no verão)
Num dia de sol a claridade é tanta que é difícil controlar o impulso de levar a mão ao interruptor. Há vários pormenores dignos de nota na Casa do Côvo, e o duplo pé direito, com uma janela rasgada no terraço, é mesmo um dos principais. Parece que alguém se esqueceu da luz acesa em pleno dia, mas é mesmo só mestria do arquiteto.
O projeto foi assinado por Ricardo Rosa Santos, que esteve longos anos no ateliê de Eduardo Souto de Moura, como denuncia o pesado livro sobre a obra deste arquiteto premiado com um Pritzker, pousado num aparador. No lugar de uma antiga casa de pescadores em mau estado, no centro de Porto Covo, Ricardo Rosa Santos fez nascer uma moradia unifamiliar contemporânea com dois andares, terraço e jardim onde a piscina, pintada de verde, segue o mesmo tom usado na cozinha e nas portas.
A Casa do Côvo é uma casa de família, como denunciam os brinquedos no quarto dos beliches e os matraquilhos de criança por baixo das lindíssimas escadas suspensas, mas está também disponível para arrendar em regime de self catering. Há um supermercado mesmo ao lado, zona de churrascos no jardim, lareira na sala, dois quartos de casal – um deles suite – e do terraço tem-se vista para o mar, a Ilha do Pessegueiro e a baía de Porto Covo. As melhores praias da costa alentejana estão, portanto, a uma curta distância.
“O projeto foi feito com o arquiteto tendo por base os nossos gostos e inspirações que trouxemos de viagens”, conta o proprietário, realçando que uma das principais preocupações era “conseguir ver o resto da casa a partir de qualquer ponto”. O resultado é um espaço fluido, onde se destaca o chão de tijoleira artesanal de Santa Catarina e também a decoração com mobiliário nórdico recuperado e uma bonita coleção de obras de arte assinadas por Palolo, José de Guimarães, Artur Rosa e Nikias Skapinakis, entre outros.
Antiga Casa Pessoa
Lisboa
A partir de 250€ (estadia mínima de 3 noites)
Os frescos nas paredes destacam-se em cada apartamento, e foi por causa deles que toda a obra foi alterada. “No início o projeto de reabilitação foi feito achando que se iam deitar as paredes abaixo, mas quando descobrimos as pinturas foi preciso redefinir tudo”, conta Pedro Ramos, proprietário da Antiga Casa Pessoa juntamente com Maria Eugénia Ocantos.
O prédio na Rua dos Douradores, que terá sido referido n’O Livro do Desassossego e fica em plena Baixa de Lisboa, foi comprado devoluto pelos dois amigos quando ainda estavam a trabalhar em Inglaterra, já com a ideia de fazer um projeto de hospitalidade. “Queríamos ter um negócio nosso e trabalhar com um arquiteto”, conta Maria Eugenia. “Em Londres isso era inatingível e em Portugal há profissionais incríveis que nos dão a sua atenção e património que, infelizmente, está muito degradado.”
O arquiteto escolhido para recuperar o charme deste prédio pombalino – “desenhado no século XVIII, construído no século XIX e recuperado no século XXI” – foi José Adrião, conhecido por várias reabilitações na capital e que com a Antiga Casa Pessoa já foi distinguido com uma Menção Honrosa do Prémio Gulbenkian Património e finalista dos Prémios FAD de 2021 em Barcelona.
A relação constante entre o antigo e o moderno foi um dos aspetos elogiados pelos júris, assim como a recuperação dos frescos originais, que foram “destapados a bisturi e algodão” e restaurados por Elvira Barbosa – com destaque para o apartamento da Fonte, onde a pintura de um jardim romântico ocupa uma parede inteira, e para o das Flores, “que parece um bolo e dá vontade de comer”.
Todos os principais elementos históricos foram mantidos e foi mesmo rodado um documentário sobre a reabilitação, que está também incluída no livro Nem Princípio, Nem Fim, deixado em cada um dos apartamentos para consulta. As chaminés originais são agora armários nos quartos, as portas e portadas foram recuperadas sempre que possível, e foram acrescentadas casas de banho e cozinhas em mármore português sem deitar paredes abaixo. “Os cabos elétricos foram passados pelo chão e pelo teto e foi também assim que se fez o isolamento acústico entre os andares”, conta Pedro, tendo sido construído um elevador que dá acesso aos 13 apartamentos equipados.
Do duplex com cinco quartos e 150 metros quadrados, rodeado de tílias, ao T1 com 45, os apartamentos vão ficando mais baixos à medida que os pisos sobem, até chegar ao quinto andar e encontrar as vigas do telhado deixadas à vista e pintadas de branco. Com um envolvimento muito grande dos proprietários, não só nas reuniões de obra mas também nos detalhes da decoração, a Antiga Casa Pessoa é um alojamento cheio de caráter e com o conforto da vida moderna.
Fotos de Fernando Guerra
Monte do Corvo
Melides
A partir de 280€ (estadia mínima de 3 noites no inverno e 7 no verão)
O número oito marcado nos sobreiros assinala não só o ano em que a cortiça foi retirada como, numa feliz coincidência, aquele em que Anna Bacchetta e Francisco Aires Mateus ficaram com o Monte do Corvo. Na altura era só uma ruína, descoberta pelo casal de arquitetos quando andavam à procura de um terreno para outros clientes, em Melides, mas já dava para ver que “podiam fazer algo especial”.
Numa zona “onde a arquitetura tradicional é simples e feita com pouco, mesmo ao lado das casas contemporâneas mais espectaculares de Portugal” – algumas delas assinadas pelo ateliê Aires Mateus, onde ambos trabalham –, Anna e Francisco quiseram aproveitar “toda a história e potencial que já cá estava”. Por isso mesmo, o monte foi reconstruído em taipa, um método ancestral de erguer paredes com terra, com o isolamento feito à base de cortiça, granulada e misturada com cal. Da mesma forma, o chão não esconde as irregularidades da “tijoleira artesanal seca ao sol” e nas paredes exteriores foram deixadas grandes pedras salientes à vista – neste caso pintadas de branco, tal como as telhas. Houve também, claro, espaço para melhorias e desenho: “Subimos o telhado para aumentar a altura da casa; há mais janelas e maiores, com acesso direto ao exterior; e a cruz sobre a grande chaminé é uma reinvenção da original, de 1936”, enumera Anna.
No interior, tudo parte da sala onde está esta chaminé, agora com salamandra: a pequena cozinha em tons de preto e branco e, de cada lado, as duas suítes com uma área de estar generosa a contrastar com a zona da cama, reduzida ao essencial. As casas de banho estão escondidas nos armários de cada quarto e existem ainda dois chuveiros exteriores. Toda a decoração é minimalista – ou espartana, como diz Anna, sem esconder as suas origens italianas –, com destaque para os puxadores e o mobiliário desenhado pelos arquitetos, incluindo a longa mesa de madeira da sala e o sofá que é também secretária, onde estão pousados os fascinantes volumes sobre a Arquitetura Popular em Portugal.
Junto à casa, numa zona elevada, fica a piscina estilo tanque com cadeiras para folhear estes e outros livros. Lá ao fundo vê-se o mar – a praia Aberta Nova fica a 10 minutos de carro – e no terreno de dois hectares já foram plantados mais de 100 sobreiros para um dia fazerem companhia aos que deram cortiça há cinco anos.
Com a mesma linguagem mas mais espaço, este verão o casal prepara-se para abrir uma segunda casa na zona, para partilhar também com hóspedes. Fica na Herdade Fonte Cabo e tem quatro suítes espalhadas entre a casa principal, que nasceu também da recuperação de uma ruína, e dois anexos com aberturas geométricas para o campo. Um dos pontos altos é, na verdade, muito comprido: a piscina de mármore, com quase 20 metros.
Casa 4
Algarve
A partir de 1600€/semana
Há uma quarta guesthouse a juntar às moradas da marca belga The Addresses, e é a primeira no interior do Algarve. Quase à sombra da igreja matriz, a Casa Quatro fica no centro histórico de São Brás de Alportel, numa das casas mais antigas da vila, datada de 1937.
À semelhança do que aconteceu com os projetos anteriores, igualmente assinados pelo ateliê lisboeta Rua e com design de interiores da dupla Studio Stories, trata-se de uma reabilitação que respeita o património existente trazendo-lhe conforto e uma decoração moderna, neste caso em tons ocres que contrastam com o branco omnipresente e que são um espelho dos tijolos dos tetos abobadados (por vezes também caiados).
Há arcos por todo o lado, passagens e aberturas surpreendentes, uma lareira que comunica ao mesmo tempo com a sala e a cozinha, um terraço com tijoleira artesanal da região e um pátio com uma pequena piscina aquecida de onde se percebe o restante casario – estendais dos vizinhos incluídos. Tudo isto a juntar às quatro suítes, que acomodam até oito hóspedes em regime de self catering, isto é, com total independência.
Segundo a marca belga, lançada em 2021 por Bert Jeuris e Ludovic Beun depois de anos e anos a distribuir conselhos sobre onde ficar e o que visitar no país, a escolha de São Brás de Alportel pretende mostrar um “Portugal mais autêntico e longe das atrações turísticas”. Na página de reservas da casa é possível, inclusivamente, ficar a saber um pouco mais sobre esta vila algarvia “onde a vida é calma e simples”, incluindo que foi em tempos a maior produtora de cortiça nacional e que no século XVII era o destino de férias dos bispos do Algarve, que aqui construíram um palácio episcopal para fugir do calor do verão.
Este artigo foi originalmente publicado na revista Observador Lifestyle, n.º20, lançada em julho de 2023.