- O que é a eletroconvulsivoterapia, também conhecida como “electrochoques” ou “choques eléctricos”?
- Porque é que há tanta polémica em torno da eletroconvulsivoterapia?
- O que é a neuromodulação?
- E a estimulação magnética transcraniana?
- Quais as doenças em que se aplica a eletroconvulsivoterapia e a estimulação magnética transcraniana?
- Estes tratamentos são seguros?
- A pessoa tem de ficar internada?
- E tem efeitos secundários?
- Onde é que se pode aceder a estes tratamentos?
Explicador
- O que é a eletroconvulsivoterapia, também conhecida como “electrochoques” ou “choques eléctricos”?
- Porque é que há tanta polémica em torno da eletroconvulsivoterapia?
- O que é a neuromodulação?
- E a estimulação magnética transcraniana?
- Quais as doenças em que se aplica a eletroconvulsivoterapia e a estimulação magnética transcraniana?
- Estes tratamentos são seguros?
- A pessoa tem de ficar internada?
- E tem efeitos secundários?
- Onde é que se pode aceder a estes tratamentos?
Explicador
O que é a eletroconvulsivoterapia, também conhecida como “electrochoques” ou “choques eléctricos”?
É uma técnica de tratamento na qual a aplicação de corrente elétrica é feita através de elétrodos colocados na cabeça. Em cada sessão de tratamento de eletroconvulsivoterapia (ECT) é administrado um estímulo elétrico que provoca uma convulsão no paciente, que por sua vez contribui para a alteração das ligações entre os neurónios no cérebro com o objetivo de normalizar o tecido nervoso. Surgiu na década de 1930, quando a resposta terapêutica para as doenças mentais era escassa ou inexistente, explica Sofia Ferreira, psiquiatra do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
“O termo ‘eletrochoques’ caiu em desuso pelo seu potencial estigmatizante, ao colocar o enfoque no choque elétrico, que por sua vez pode remeter para a ideia de dor ou castigo”, explica a psiquiatra. “Atualmente a designação de eletroconvulsivoterapia é a mais utilizada. A técnica foi modificada e aperfeiçoada ao longo das últimas décadas e é hoje como um tratamento eficaz e seguro para as situações clínicas nas quais está indicada.”
Porque é que há tanta polémica em torno da eletroconvulsivoterapia?
Por um lado, porque era inicialmente administrada sem anestesia nem relaxante muscular, o que provocava dor e outros efeitos adversos. Por outro, porque nos anos 1960 e 1970 foi retratada negativamente em livros e filmes, acabando por cair em desuso até ser retomada devido às potencialidades que tinha e ao conhecimento entretanto acumulado.
“Quem não se lembra do filme Voando Sobre um Ninho de Cucos? Mas desde então fez-se muita investigação e trabalho no sentido de melhorar as condições em que a técnica é administrada, sendo atualmente um tratamento indolor, individualizado, seguro e eficaz”, garante a psiquiatra Sofia Ferreira, especialista em neuromodulação.
O que é a neuromodulação?
É um conjunto de técnicas de tratamento psiquiátrico que utiliza a eletricidade ou os campos magnéticos para normalizar a função do tecido nervoso do cérebro. Entre as técnicas de neuromodulação contam-se então a eletroconvulsivoterapia e a estimulação magnética transcraniana, ambas não invasivas. Além da sua utilidade no tratamento da depressão major, são opções terapêuticas importantes para doentes com outros diagnósticos de doença mental resistente.
E a estimulação magnética transcraniana?
É uma técnica de estimulação cerebral não invasiva, que consiste na criação de campos magnéticos que estimulam determinadas zonas do cérebro. É indolor e não necessita de anestesia.
“Enquanto a ECT usa estímulos elétricos, a TMS [sigla em inglês, usada universalmente] usa uma bobina que é colocada na cabeça do paciente para produzir um campo magnético em determinada região alvo do cérebro. Temos diferentes bobinas e diferentes regiões alvo, consoante o resultado que queremos obter, mas, dependendo dos parâmetros de estimulação aplicados, induz-se uma alteração da excitabilidade das estruturas cerebrais para obter o efeito terapêutico pretendido”, explica a psiquiatra Sofia Ferreira.
Quais as doenças em que se aplica a eletroconvulsivoterapia e a estimulação magnética transcraniana?
Qualquer destas técnicas está indicada para doenças mentais graves resistentes, em que outras terapêuticas, nomeadamente recorrendo a medicação, não demonstraram eficácia. A eletroconvulsivoterapia pode também ser recomendada quando há necessidade de uma resposta rápida porque há risco de vida para o doente (elevado risco de suicídio ou recusa em alimentar-se).
A eletroconvulsivoterapia tem provas dadas como o tratamento mais eficaz na depressão major resistente, que é a indicação terapêutica mais frequente; também pode ser utilizada em doentes com esquizofrenia resistente e perturbação bipolar resistente – quer em fase maníaca quer em fase depressiva.
A estimulação magnética transcraniana está aprovada para a abordagem de casos de depressão resistente e de perturbação obsessivo-compulsiva resistente. “Existem várias linhas de investigação clínica em curso” – explica a psiquiatra – “devido ao potencial promissor da técnica em outras condições, como na abordagem dos sintomas negativos da esquizofrenia, por exemplo.”
Estes tratamentos são seguros?
Sim. Implicam riscos, como todos os procedimentos médicos, mas são seguros.
Na eletroconvulsivoterapia, é administrada anestesia geral, assim como relaxante muscular, em todas as sessões, o que torna o procedimento indolor e sem risco de fraturas. Além disso, durante toda a sessão a função cardíaca e respiratória do paciente é monitorizada, assim como a atividade cerebral, através de eletroencefalograma.
“Todo o procedimento é individualizado e adaptado a cada doente: o posicionamento dos elétrodos para administrar o estímulo elétrico, os parâmetros da anestesia, a voltagem a usar”, explica a psiquiatra Sofia Ferreira.
“A primeira sessão é para aferir o limiar convulsivo, ou seja, a dose necessária para o paciente ter uma convulsão com características adequadas à eficácia do tratamento, que depois se desenvolve normalmente em 12 sessões, a que chamamos o ciclo de indução, divididas em duas ou três por semana, sendo dado um estímulo por sessão. Adicionalmente à avaliação inicial e intermédia, é realizada uma avaliação final para perceber se faz sentido fazer sessões de consolidação e de manutenção durante os seis meses seguintes ou a mais longo prazo”.
Também na estimulação magnética transcraniana, há uma avaliação inicial, intermédia e final, sendo este um tratamento mais simples, sobretudo porque não implica anestesia. Os cuidados mais importantes a ter são mais ou menos os mesmos que se tem quando se faz uma ressonância magnética: não ter quaisquer objetos, próteses, implantes ou acessórios de metal.
Antes de iniciar um destes tratamentos, todos os procedimentos são explicados ao doente, assim como a duração e os possíveis riscos e efeitos secundários, para que este possa esclarecer todas as dúvidas e autorizar (dar o “consentimento informado”).
A pessoa tem de ficar internada?
Na eletroconvulsivoterapia, o ciclo de indução decorre normalmente em internamento, enquanto as sessões de consolidação e manutenção, que são mais espaçadas, são feitas em ambulatório.
A estimulação magnética transcraniana não implica anestesia e desenvolve-se normalmente em sessões diárias de menos de uma hora durante quatro a seis semanas, não exigindo internamento.
E tem efeitos secundários?
“O que sabemos hoje é estes são procedimentos cada vez mais seguros”, diz Sofia Ferreira. De acordo com a psiquiatra, a eletroconvulsivoterapia pode provocar dores de cabeça, perdas de memória habitualmente transitórias, náuseas ou um período de confusão temporário após o tratamento. Raramente produz complicações médicas sérias (como por exemplo alterações do ritmo cardíaco ou fraturas).
No que diz respeito à estimulação magnética transcraniana, os efeitos secundários são raros. Os mais comuns são dores de cabeça. É muito raro haver convulsões durante o tratamento e a equipa médica está preparada para rapidamente agir e garantir a segurança dos doentes.
Onde é que se pode aceder a estes tratamentos?
O Serviço Nacional de Saúde tem estes tratamentos disponíveis em alguns hospitais de norte a sul do país, nomeadamente no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
A possibilidade e pertinência de aceder a uma destas técnicas de neuromodulação deve ser discutida com o psiquiatra do serviço de psiquiatria onde a pessoa com doença mental grave é seguida. Se o tratamento não estiver disponível na área de residência do doente, este poderá ser referenciado para um hospital de outra região que tenha estas técnicas de tratamento.
“A neuromodulação é utilizada em pessoas com doença mental grave e resistente, o que significa que não responde a outros tratamentos, e por isso”, salienta Sofia Ferreira, “é claro que tem que ser o psiquiatra a aconselhar o tratamento e referenciar para as equipas que trabalham na área da neuromodulação, o que permitirá perceber se o doente beneficiará de alguma destas técnicas e qual a mais adequada e potencialmente eficaz em cada caso.”