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O que é a eletroconvulsivoterapia, também conhecida como “electrochoques” ou “choques eléctricos”?

É uma técnica de tratamento na qual a aplicação de corrente elétrica é feita através de elétrodos colocados na cabeça. Em cada sessão de tratamento de eletroconvulsivoterapia (ECT) é administrado um estímulo elétrico que provoca uma convulsão no paciente, que por sua vez contribui para a alteração das ligações entre os neurónios no cérebro com o objetivo de normalizar o tecido nervoso. Surgiu na década de 1930, quando a resposta terapêutica para as doenças mentais era escassa ou inexistente, explica Sofia Ferreira, psiquiatra do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

“O termo ‘eletrochoques’ caiu em desuso pelo seu potencial estigmatizante, ao colocar o enfoque no choque elétrico, que por sua vez pode remeter para a ideia de dor ou castigo”, explica a psiquiatra. “Atualmente a designação de eletroconvulsivoterapia é a mais utilizada. A técnica foi modificada e aperfeiçoada ao longo das últimas décadas e é hoje como um tratamento eficaz e seguro para as situações clínicas nas quais está indicada.”

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Porque é que há tanta polémica em torno da eletroconvulsivoterapia?

Por um lado, porque era inicialmente administrada sem anestesia nem relaxante muscular, o que provocava dor e outros efeitos adversos. Por outro, porque nos anos 1960 e 1970 foi retratada negativamente em livros e filmes, acabando por cair em desuso até ser retomada devido às potencialidades que tinha e ao conhecimento entretanto acumulado.

“Quem não se lembra do filme Voando Sobre um Ninho de Cucos? Mas desde então fez-se muita investigação e trabalho no sentido de melhorar as condições em que a técnica é administrada, sendo atualmente um tratamento indolor, individualizado, seguro e eficaz”, garante a psiquiatra Sofia Ferreira, especialista em neuromodulação.

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O que é a neuromodulação?

É um conjunto de técnicas de tratamento psiquiátrico que utiliza a eletricidade ou os campos magnéticos para normalizar a função do tecido nervoso do cérebro. Entre as técnicas de neuromodulação contam-se então a eletroconvulsivoterapia e a estimulação magnética transcraniana, ambas não invasivas. Além da sua utilidade no tratamento da depressão major, são opções terapêuticas importantes para doentes com outros diagnósticos de doença mental resistente.

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E a estimulação magnética transcraniana?

É uma técnica de estimulação cerebral não invasiva, que consiste na criação de campos magnéticos que estimulam determinadas zonas do cérebro. É indolor e não necessita de anestesia.

“Enquanto a ECT usa estímulos elétricos, a TMS [sigla em inglês, usada universalmente] usa uma bobina que é colocada na cabeça do paciente para produzir um campo magnético em determinada região alvo do cérebro. Temos diferentes bobinas e diferentes regiões alvo, consoante o resultado que queremos obter, mas, dependendo dos parâmetros de estimulação aplicados, induz-se uma alteração da excitabilidade das estruturas cerebrais para obter o efeito terapêutico pretendido”, explica a psiquiatra Sofia Ferreira.

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Quais as doenças em que se aplica a eletroconvulsivoterapia e a estimulação magnética transcraniana?

Qualquer destas técnicas está indicada para doenças mentais graves resistentes, em que outras terapêuticas, nomeadamente recorrendo a medicação, não demonstraram eficácia. A eletroconvulsivoterapia pode também ser recomendada quando há necessidade de uma resposta rápida porque há risco de vida para o doente (elevado risco de suicídio ou recusa em alimentar-se).

A eletroconvulsivoterapia tem provas dadas como o tratamento mais eficaz na depressão major resistente, que é a indicação terapêutica mais frequente; também pode ser utilizada em doentes com esquizofrenia resistente e perturbação bipolar resistente – quer em fase maníaca quer em fase depressiva.

A estimulação magnética transcraniana está aprovada para a abordagem de casos de depressão resistente e de perturbação obsessivo-compulsiva resistente. “Existem várias linhas de investigação clínica em curso” – explica a psiquiatra – “devido ao potencial promissor da técnica em outras condições, como na abordagem dos sintomas negativos da esquizofrenia, por exemplo.”

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Estes tratamentos são seguros?

Sim. Implicam riscos, como todos os procedimentos médicos, mas são seguros.

Na eletroconvulsivoterapia, é administrada anestesia geral, assim como relaxante muscular, em todas as sessões, o que torna o procedimento indolor e sem risco de fraturas. Além disso, durante toda a sessão a função cardíaca e respiratória do paciente é monitorizada, assim como a atividade cerebral, através de eletroencefalograma.

“Todo o procedimento é individualizado e adaptado a cada doente: o posicionamento dos elétrodos para administrar o estímulo elétrico, os parâmetros da anestesia, a voltagem a usar”, explica a psiquiatra Sofia Ferreira.

“A primeira sessão é para aferir o limiar convulsivo, ou seja, a dose necessária para o paciente ter uma convulsão com características adequadas à eficácia do tratamento, que depois se desenvolve normalmente em 12 sessões, a que chamamos o ciclo de indução, divididas em duas ou três por semana, sendo dado um estímulo por sessão. Adicionalmente à avaliação inicial e intermédia, é realizada uma avaliação final para perceber se faz sentido fazer sessões de consolidação e de manutenção durante os seis meses seguintes ou a mais longo prazo”.

Também na estimulação magnética transcraniana, há uma avaliação inicial, intermédia e final, sendo este um tratamento mais simples, sobretudo porque não implica anestesia. Os cuidados mais importantes a ter são mais ou menos os mesmos que se tem quando se faz uma ressonância magnética: não ter quaisquer objetos, próteses, implantes ou acessórios de metal.

Antes de iniciar um destes tratamentos, todos os procedimentos são explicados ao doente, assim como a duração e os possíveis riscos e efeitos secundários, para que este possa esclarecer todas as dúvidas e autorizar (dar o “consentimento informado”).

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A pessoa tem de ficar internada?

Na eletroconvulsivoterapia, o ciclo de indução decorre normalmente em internamento, enquanto as sessões de consolidação e manutenção, que são mais espaçadas, são feitas em ambulatório.

A estimulação magnética transcraniana não implica anestesia e desenvolve-se normalmente em sessões diárias de menos de uma hora durante quatro a seis semanas, não exigindo internamento.

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E tem efeitos secundários?

“O que sabemos hoje é estes são procedimentos cada vez mais seguros”, diz Sofia Ferreira. De acordo com a psiquiatra, a eletroconvulsivoterapia pode provocar dores de cabeça, perdas de memória habitualmente transitórias, náuseas ou um período de confusão temporário após o tratamento. Raramente produz complicações médicas sérias (como por exemplo alterações do ritmo cardíaco ou fraturas).

No que diz respeito à estimulação magnética transcraniana, os efeitos secundários são raros. Os mais comuns são dores de cabeça. É muito raro haver convulsões durante o tratamento e a equipa médica está preparada para rapidamente agir e garantir a segurança dos doentes.

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Onde é que se pode aceder a estes tratamentos?

O Serviço Nacional de Saúde tem estes tratamentos disponíveis em alguns hospitais de norte a sul do país, nomeadamente no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

A possibilidade e pertinência de aceder a uma destas técnicas de neuromodulação deve ser discutida com o psiquiatra do serviço de psiquiatria onde a pessoa com doença mental grave é seguida. Se o tratamento não estiver disponível na área de residência do doente, este poderá ser referenciado para um hospital de outra região que tenha estas técnicas de tratamento.

“A neuromodulação é utilizada em pessoas com doença mental grave e resistente, o que significa que não responde a outros tratamentos, e por isso”, salienta Sofia Ferreira, “é claro que tem que ser o psiquiatra a aconselhar o tratamento e referenciar para as equipas que trabalham na área da neuromodulação, o que permitirá perceber se o doente beneficiará de alguma destas técnicas e qual a mais adequada e potencialmente eficaz em cada caso.”