- O que é o burnout?
- Então o burnout não é considerado uma doença mental?
- Só se pode falar em burnout em contexto laboral?
- Quais são as causas do burnout?
- Quais são os sintomas?
- Há pessoas mais vulneráveis a desenvolver burnout?
- Como é que a exaustão e o desligamento se refletem na vida pessoal?
- Como se trata o burnout?
Explicador
- O que é o burnout?
- Então o burnout não é considerado uma doença mental?
- Só se pode falar em burnout em contexto laboral?
- Quais são as causas do burnout?
- Quais são os sintomas?
- Há pessoas mais vulneráveis a desenvolver burnout?
- Como é que a exaustão e o desligamento se refletem na vida pessoal?
- Como se trata o burnout?
Explicador
O que é o burnout?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o burnout é uma síndrome [conjunto de sintomas] resultante do stress crónico, motivado por excesso de trabalho, que não foi gerido com sucesso. Tem três características principais:
- Sentimento de esgotamento ou exaustão física e emocional;
- Diminuição da eficiência e da produtividade, assim como da realização profissionais;
- Distanciamento ou desligamento em relação ao trabalho, acompanhado de sentimentos de negativismo ou “cinismo” relativamente a este.
Então o burnout não é considerado uma doença mental?
O burnout não é considerado uma doença, apesar de a OMS o ter incluído na nova Classificação Internacional de Doenças (CID), em 2019. A definição usada pela instituição é “fenómeno ocupacional”, sublinhando que este “não se classifica como uma condição médica”. Foi descrito no capítulo “Fatores que influenciam o estado de saúde ou o contacto com os serviços de saúde”, em que se listam as razões pelas quais as pessoas procuram o médico, mas não são doenças.
“O burnout não é formalmente reconhecido como um diagnóstico psiquiátrico, mas sim como uma síndrome [conjunto de sintomas] associado à exposição ao stress crónico em contexto laboral, que foi originalmente definido por Herbert Freudenberger [psicólogo alemão] nos anos 1970 e depois aprofundado, na década seguinte, pelas psicólogas americanas Christina Maslach e Susan Jackson”, explica Pedro Frias Gonçalves, psiquiatra no Hospital Magalhães Lemos.
Só se pode falar em burnout em contexto laboral?
É comum ler ou ouvir falar de burnout académico, parental ou do cuidador, contextos que, em determinadas circunstâncias, podem ser associados a grande stress e exigência e podem levar à exaustão e ao esgotamento. Mas a OMS é clara: o burnout incluído na Classificação Internacional de Doenças “refere-se especificamente a fenómenos no contexto ocupacional e não deve ser usado para descrever experiências em outras áreas da vida”.
No entanto, Pedro Frias Gonçalves entende o uso da palavra quando o contexto é académico ou de cuidados, uma vez que os fatores que levam ao conjunto de sintomas são muito semelhantes. “A primeira conceptualização do burnout deveu-se mesmo a profissões que tinham que ver com o cuidar. É uma questão que está em discussão e as fronteiras por vezes não são claras, mas de acordo com a conceptualização clássica, quando falamos de burnout, falamos de trabalho, de condições de trabalho, de ambiente de trabalho. É assim que está plasmado neste momento nos manuais.”
Quais são as causas do burnout?
O burnout é uma reação ao stress crónico associado ao trabalho, portanto encontramos as suas causas naquilo que dá origem a este stress, como explica o psiquiatra.
“O nosso corpo e o nosso cérebro respondem àquilo que interpretam como agressão ou situações stressoras, ativando uma série de respostas hormonais que são úteis para lhe responder em determinado momento. Mas quando o stress é crónico, essas repostas estão ativadas durante muito tempo e isso acaba por se traduzir em burnout.”
As causas estão identificadas e “há até bastantes modelos que nos permitem prever que tipos de trabalho e de condições de trabalho se associam a um maior sofrimento mental e também físico”:
- Excesso de trabalho, com tarefas de elevada exigência, física ou psicológica;
- Horários de trabalho extensos e incompatíveis com a fruição da vida pessoal e ausência de fronteiras claras entre o tempo de trabalho e o tempo pessoal;
- Trabalho por turnos ou de jornada contínua;
- Ausência de controlo e de autonomia por parte dos trabalhadores relativamente às suas condições de trabalho, horários, tarefas que desempenham e forma como as desempenham, etc;
- Falta de recompensa, nomeadamente baixos salários, ausência de perspetivas de progressão na carreira e de progressão salarial;
- Desequilíbrio entre o esforço e a recompensa, que causa desmotivação e precariedade laboral e cria instabilidade;
- Falta de apoio e ambiente de trabalho tóxico, com ausência de apoio por parte dos superiores hierárquicos e dos colegas;
- Questões relacionadas com assédio laboral e assédio moral no trabalho.
Quais são os sintomas?
“O quadro de sintomas está menos bem estabelecido do que para outras patologias, mas há três grandes sinais de alerta, que são aqueles de que a OMS fala na sua definição: sentimento de esgotamento ou exaustão física e emocional; desligamento em relação ao trabalho, com sentimentos de negativismo ou ‘cinismo’ relativamente a este; diminuição da eficiência e da produtividade, assim como da realização profissionais”, esclarece o psiquiatra, notando mais uma vez que “para haver o diagnóstico do burnout, tem que haver uma correlação clara entre estes sintomas e o contexto de trabalho”.
O burnout pode causar estados de depressão e ansiedade mas, normalmente, uma pessoa em burnout apresenta:
- Fadiga constante e falta de energia;
- Aumento da irritabilidade e alterações de humor;
- Insónia ou distúrbios do sono;
- Redução do desempenho no trabalho;
- Isolamento social e distanciamento;
- Sintomas físicos, como dores de cabeça ou dores musculares.
Há pessoas mais vulneráveis a desenvolver burnout?
Sim, há características individuais que poderão ser um fator de risco para o burnout e, paradoxalmente, são características à partida positivas e valorizadas pelos empregadores e gestores de recursos humanos.
“Pessoas altamente motivadas, perfecionistas, ambiciosas, muito preocupadas com a qualidade do seu trabalho e com dificuldade em reduzir o trabalho extra e em desligar são mais suscetíveis de desenvolver burnout, sobretudo quando estas características são exploradas ou esbarram com estruturas de trabalho rígidas que potenciam o sentimento de frustração e desmotivação.”
Como é que a exaustão e o desligamento se refletem na vida pessoal?
Para responder a esta pergunta, o psiquiatra Pedro Frias Gonçalves recorre a uma metáfora: “Uma boa forma de pensar isto, tendo sempre esta questão do stress como conceito central, é pensar na nossa resposta ao stress como se fôssemos atletas”.
“Quando está a correr, o atleta sujeita o corpo a stress e, se passa um determinado limite individual, começa a ter algumas dores, continua a correr e, quando para, fica bem, deixa de ter dores. Se o stress físico se for acumulando e ele for transpondo os limites da dor, quando para, a dor continua, pode chegar mesmo ao ponto de rasgar um tendão e ficar com uma limitação física para sempre. O que o stress provoca ao músculo pode ser transposto para o que o stress faz ao nosso cérebro e ao nosso corpo”.
Portanto, em fases iniciais de sintomas de burnout, a pessoa, quando sai do seu contexto de trabalho, fica bem porque se afasta dos fatores de stress, explica o psiquiatra, “mas quando os sintomas começam a instalar-se de forma mais vincada e mais crónica, a sensação de fadiga, falta de energia ou distanciamento acaba por passar para a vida pessoal e provocar outros quadros de ansiedade e depressivos”.
Como se trata o burnout?
“O tratamento passa por intervenções psicológicas, como a psicoterapia, e pela medicação para gerir os sintomas”, diz o psiquiatra Pedro Frias Gonçalves.
Indutores de sono, ansiolíticos e antidepressivos são alguns dos medicamentos que podem ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas e a torná-las mais funcionais e evitar situações mais graves. Devem ser sempre prescritos pelo médico e cada situação clínica deve ser avaliada caso a caso.
A grande dificuldade de tratamento do burnout é não depende exclusivamente da pessoa afetada nem da abordagem clínica. “O problema só se resolve quando se alteram o contexto e condições de trabalho da pessoa – ou a relação dela com o trabalho”, diz o psiquiatra. “A psicoterapia pode ser importante, a farmacologia ajuda com os sintomas, mas resolver o problema não depende apenas das respostas de saúde mental.”
Criar ambientes (e comportamentos) de trabalho mais saudáveis é fundamental para tratar o burnout, pelo que a questão passa, em grande parte, pela prevenção.