“As palavras vêm da empresa. Kamala trabalhou para eles durante algumas semanas durante o verão de 1981. Ela não o pôs no currículo pela forma como saiu.” O texto, partilhado de forma massiva nas redes sociais, deixa no ar os motivos que teriam levado Kamala Harris, atual vice-presidente dos Estados Unidos da América e candidata presidencial às eleições de 5 de novembro, a sair de um emprego numa cadeia de fast food nos anos 1980.
As três frases antecedem um retrato de Kamala Harris onde consta a legenda: “A McDonald’s Corporate confirma: Kamala Harris trabalhou para a empresa no verão de 1981. Ela foi despedida por roubar.” A imagem está multiplicada em várias publicações nas redes sociais, pelo menos, desde o dia 1 de setembro, mas a informação nela veiculada é falsa.
Desde logo, não há qualquer registo ou prova de que a McDonald’s se tenha pronunciado sobre o alegado roubo da candidata democrata à Casa Branca. Não há notícias credíveis, de órgãos de comunicação ou fontes confiáveis, sobre qualquer declaração de fonte oficial da cadeia de fast food, nem nada que se assemelhe à declaração aparece nas contas das redes sociais ou no site da McDonald’s. Pelo contrário, na imprensa norte-americana, sempre que a passagem de Kamala Harris enquanto trabalhadora da cadeia de restaurantes é reportada, o gabinete de imprensa da empresa remete-se ao silêncio e nunca responde a qualquer questão sobre o tema, algo que é assinalado em todas as peças jornalísticas.
Além disso, com um olhar mais atento à imagem amplamente divulgada é possível perceber que, no canto superior esquerdo, se lê: “America’s Last Line of Defense” e “Nothing on this page is real” (“Nada nesta página é real”, em português). Esse símbolo e texto permitem identificar a origem da imagem. Trata-se de uma criação de uma conta satírica no Facebook de nome America — Love it or Leave It. A publicação em questão foi feita no dia 29 de agosto, antes da proliferação da dita imagem nas redes sociais.
De resto, é a própria rede social Facebook que classifica a página como “Sátira/Paródia”. E, de novo, na apresentação da página consta a expressão: “Nada nesta página é real.”
Christopher Blair, da America — Love it or Leave It, em declarações ao USA Today, justifica que a maioria das publicações que têm Harris como foco são feitas “em última análise, para serem histórias positivas, mas que acabam por ter mais eco”. A paródia na saga McDonald’s-Harris continua nos comentários do post do Facebook, por exemplo, em que se pode ler que Harris roubou McNuggets para alimentar os sem-abrigo.
Harris falou durante as suas duas campanhas presidenciais sobre trabalhar no McDonald’s na faculdade, usando o caso em 2019 e 2024 para promover a ideia de que entende os eleitores da classe média e da classe trabalhadora. No entanto, os conservadores aproveitaram o facto de Kamala não ter incluído o seu trabalho de verão a fazer batatas fritas numa candidatura a um cargo de escriturária de direito, provocando acusações de que nunca trabalhou lá.
Kamala Harris, que é a candidata Democrata à presidência dos Estados Unidos, disse que trabalhou no McDonald’s quando estava na faculdade, como forma de apelar à classe trabalhadora, mas tem sido acusada por figuras como Donald Trump e outros de que não está a dizer a verdade.
Conclusão
A origem da imagem partilhada massivamente e que lança suspeita sobre um alegado roubo de Kamala Harris é uma conta paródia e satírica nas redes sociais. Não há quaisquer declarações oficiais provenientes da McDonalds que permitam afirmar que Harris deixou de ser trabalhadora da empresa nos anos 1980 por ter cometido um roubo.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.