Recentemente começou a circular nas redes sociais um falso tweet sobre o caso do procurador europeu cuja autoria é atribuída ao primeiro-ministro, António Costa. Apesar de ser facilmente identificável como uma imagem manipulada — não só pelo tipo de letra usado, mas como a linguagem usada —, a verdade é que dezenas de utilizadores acreditam que este tweet foi mesmo publicado pelo primeiro-ministro. Nele, pode ler-se:

Tanta polémica com o currículo do procurador europeu…Quem nunca disse a um patrão ‘eu sei fazer isso’ só para ficar bem e dar graxa para ganhar mais uns trocos?!? Não sejam hipócritas!! Quer dizer…Agora só os licenciados é que podem ocupar lugares que exigem uma licenciatura?!? Ganhem juízo!!”

De acordo com a imagem partilhada no Facebook, o tweet teria sido publicado na página oficial do primeiro-ministro às 22h46 de dia 11 de janeiro deste ano. Ora, nesse dia, foram publicados oito tweets — nenhum deles é este, nem sequer nenhum deles é sobre o caso do procurador europeu.

Uma das publicações que partilha este tweet falso foi partilhada 81 vezes, em menos de dois dias

De facto, o primeiro-ministro publicou um tweet às 22h46 desse mesmo dia, mas, mais uma vez, não é o que surge na imagem manipulada, nem sequer se refere à polémica do procurador europeu. Trata-se de um tweet em que Costa revela que já foi informado de que o Presidente da República testou positivo ao novo coronavírus. “Já falámos ao telefone esta noite, pois quis inteirar-me do seu estado de saúde. Manteremos o contacto permanente e desejo-lhe votos sinceros de rápida e completa recuperação.” Aliás, este facto apenas sugere que terá sido este o tweet manipulado e que serviu de base para o tweet falso.

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O caso do procurador europeu foi tornado público no final do ano passado. Numa carta enviada ao Conselho Europeu para justificar a escolha do procurador europeu José Guerra em vez de Ana Carla Almeida, que tinha ficado em primeiro lugar no concurso organizado por um comité de peritos internacional com critérios comuns aos vários países, o Ministério da Justiça apresentou dados falsos sobre José Guerra: identificava-o como “procurador-geral-adjunto” — quando é apenas procurador — e como tendo tido uma participação “de liderança investigatória e acusatória” no processo UGT — quando foi apenas o procurador do julgamento. Este caso já provocou a demissão do diretor-geral da Direção Geral da Política de Justiça, Miguel Romão, e motivou muitos pedidos de demissão da própria ministra, Francisca Van Dunem.

Governo deu informações falsas à UE sobre nome escolhido para procurador europeu

António Costa nunca se pronunciou sobre este assunto no Twitter, mas já o fez noutras ocasiões. No dia 4 de janeiro, depois de receber a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, em audiência, o gabinete do primeiro-ministro emitiu uma nota avançando que, nesse encontro, o chefe do Governo “reafirmou total confiança política [na ministra] para o exercício de funções”.

Também no arranque oficial da presidência do Conselho da UE, a 5 de janeiro, o primeiro-ministro disse que esse assunto não tinha sido abordado na reunião: “Creio que não tem qualquer relevância para a presidência portuguesa, nem para a forma como vai decorrer”.

Costa segura Van Dunem e reafirma “total confiança política” na ministra da Justiça

Na conferência de imprensa no final do Conselho de Ministros de dia 7 de janeiro, Costa voltou a falar do tema para defender que Van Dunem “agiu corretamente” e reafirmar que tem “total confiança em todos os membros do Governo”. “E quando a deixar de ter eles deixarão de ser membros do Governo”, acrescentou. O primeiro-ministro disse ainda que “os únicos erros que foram verificados, mas que não estava no currículo que serviu de avaliação ao Conselho Europeu para tomar uma decisão final, antes numa carta que reproduzia essa informação, são absolutamente irrelevantes”. “Assim que os detetámos, a ministra da Justiça fez o que lhe competia: Chamou a atenção para a necessidade de correção desses dois erros”, acrescentou.

Conclusão

Circula nas redes sociais um falso tweet sobre o caso do procurador europeu cuja autoria é atribuída ao primeiro-ministro. De acordo com a imagem partilhada no Facebook, o tweet teria sido publicado na página oficial do primeiro-ministro às 22h46 de dia 11 de janeiro deste ano. Ora, nesse dia, foram publicados oito tweets — nenhum deles é este, nem sequer nenhum deles é sobre o caso do procurador europeu. Um deles foi publicado às 22h46 desse mesmo dia, mas também não é o que surge na imagem manipulada, nem sequer se refere à polémica do procurador europeu. António Costa nunca se pronunciou sobre este assunto no Twitter, mas já o fez noutras ocasiões.

A imagem é facilmente identificável como uma imagem manipulada — não só pelo tipo de letra usado, mas como a linguagem usada.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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