A frase é conhecida e usada em vários contextos para, com ironia ou em tom de piada, criticar a ideologia que está por detrás do socialismo. Uma publicação partilhada no Facebook no passado dia 13 de novembro, contudo, atribui essa “piada” ao Nobel da Física Albert Einstein. Mas, claro, não é verdade: não há qualquer registo de que Einstein tenha defendido algo semelhante e, antes pelo contrário, das poucas vezes que o cientista alemão se aventurou por meandros da política foi para escrever um artigo numa revista norte-americana conotada com a esquerda política a defender uma visão socialista da sociedade.

“Por detrás de todo o jovem revolucionário socialista, está um pai capitalista a trabalhar para sustentar o vagabundo”, lê-se na citação falsamente atribuída a Albert Einstein. Teve mais de 15 mil visualizações e mais de 170 partilhas, segundo dados do Facebook.

A publicação que atribui a frase a Albert Einstein

Como referimos, primeiro, não há qualquer registo escrito de que o autor da Teoria da Relatividade tenha escrito alguma reflexão deste género, que procurasse menorizar a visão socialista da sociedade. Há, pelo contrário, registo de que Einstein escreveu um artigo, em 1949, na revista norte-americana Monthly Review, que acabava de ser lançada, onde defendia o porquê de acreditar numa visão socialista enquanto ideologia política e social.

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Intitulado “Porquê o Socialismo?”, o cientista começa por colocar uma questão inicial: “Será aconselhável para quem não é especialista em assuntos económicos e sociais exprimir opiniões sobre a questão do socialismo?”, e responde: “Eu penso que sim, por uma série de razões”. Einstein continua depois a explicar que a ciência e os métodos científicos não devem ser “sobrestimados” quando se trata de “problemas humanos” e da “organização da sociedade”, porque, para isso, a ciência não chega.

E depois de demonstrar a importância da sociedade na definição do homem, que é um ser “social”, o cientista que tinha vencido o Nobel em 1921, procura mostrar os verdadeiros “males” do capitalismo: “A anarquia económica da sociedade capitalista como existe atualmente é, na minha opinião, a verdadeira origem do mal”, na medida em que “o capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos”, escrevia na altura. O resultado do capitalismo, na sua opinião, era nada menos do que o “enfraquecimento dos indivíduos”.

É aí que Einstein vai ao ponto. Depois de descrever o capitalismo como uma forma corrosiva da sociedade e destruidora dos seres individuais, o cientista conclui: “Estou convencido de que só há uma forma de eliminar estes sérios males: a constituição de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educativo orientado para objetivos sociais”, escrevia, defendendo que nessa economia, os meios de produção seriam detidos pela própria sociedade e usados de forma planeada, a pensar no todo e nas necessidades coletivas. No final, Einstein alertava ainda para os “problemas” do socialismo, que podia resvalar para formas opressoras de governação ou para a opressão da burocracia. Mas a defesa estava lá.

O artigo foi publicado no lançamento daquela revista, de cariz socialista, que ainda hoje é editada mensalmente a partir de Nova Iorque. Um amigo do pré-candidato democrata às presidenciais norte-americanas Bernie Sanders chegou a dizer, num artigo para a revista Mother Jones, em 2015, que uma vez perguntou a Sanders o que queria dizer quando se intitulava de “socialista” e ele terá apontado para o artigo de Einstein na Monthly Review. “Acho que a ideia básica de socialismo de Bernie Sanders é tão simples quanto a formulação de Einstein”, disse o amigo Jim Rader àquela revista que procurava fazer um perfil do político norte-americano desde os tempos em que era um “jovem radical”. Em Portugal, o Bloco de Esquerda apresenta uma versão traduzida do artigo de Eisntein no seu site esquerda.net.

Conclusão

Não é verdade que Einstein tenha escrito ou dito algo semelhante. Albert Einstein era, na verdade, um grande crítico do capitalismo, que, na sua opinião, tirava o melhor que as pessoas tinham e destruía o conceito de sociedade. Prova disso é o artigo que escreveu em 1949 para uma revista socialista norte-americana onde defendeu, preto no branco, a constituição de uma economia socialista por oposição a uma economia capitalista — que era, no seu entender, a “verdadeira origem do mal”. A frase citada, e partilhada no Facebook, não é mais do que uma forma de troça ou de ironia usada pelos críticos do socialismo, que em momento algum pode ser atribuída ao cientista alemão vencedor do Nobel da Física.

Assim, de acordo com a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

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