22 de outubro de 2020. O jornal Público faz manchete com a intenção do Governo de ligar Lisboa ao Porto com uma viagem de 1h15 de comboio. 6 de julho de 1999. Mais de 20 anos antes, o mesmo diário fazia manchete com a notícia de que o “TGV [ia] ligar Lisboa ao Porto em 1h15”. Não demorou muito até que estes pontos em comum entre as duas edições suscitassem uma reação nas redes sociais. “O mesmo País. O mesmo Jornal. A mesma notícia. 20 anos depois”, escreve um dos utilizadores do Twitter. Vamos ao spoiler alert, sem perder mais tempo: não se trata, naturalmente, de o diário ter ido buscar uma notícia com duas décadas. Mas os traços em comum estão lá.

Vários utilizadores das redes sociais publicaram imagens das duas capas, lado a lado

O Governo (um governo socialista, como em 1999) quer avançar com uma ligação de Alta Velocidade entre as duas cidades e colocou essa intenção no Plano Nacional de Investimentos 2030 que António Costa e o ministro Pedro Nuno Santos anunciaram esta quinta-feira, em Lisboa. Há 20 anos, António Guterres liderava o executivo em que João Cravinho, então ministro do Planeamento e da Administração do Território, queria lançar as bases de um grande corredor ferroviário na zona litoral.

Capa do jornal Pública de 6 de julho de 1999 com manchete sobre o TGV entre Lisboa-Porto

Duas décadas de intervalo e vários pontos em comum entre os dois momentos. Desde logo, no objetivo de ligar as duas principais cidades do país numa viagem que não durasse mais de 1h15 a completar. O mega-projeto ferroviário do ministro de Guterres (que se demitiu menos de dois anos e meio mais tarde) nunca passaria do papel. As questões em que ficou enredado o debate sobre a linha de alta velocidade arrastaram o arranque de qualquer obra e, mais tarde, o terceiro pedido de assistência financeira — no segundo mandato de José Sócrates — acabariam por trancar a gaveta onde o dossier tinha sido guardado.

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Capa do jornal Público de 22 de outubro de 2020, também com a ligação de “alta velocidade” entre Lisboa e o Porto

Salto para 2018 (já voltamos ao presente). António Costa dá sinais de querer deitar fora a chave da gaveta do TGV quando, em entrevista ao jornal espanhol ABC, em fevereiro de 2018, garante que esse dossier está adiado “por muito tempo” porque era um “tabu na política portuguesa”. Ressalva: nesse momento, a discussão fazia-se à volta de uma ligação de alta velocidade entre as duas capitais ibéricas.

Costa apresenta plano para investir 43 mil milhões até 2030 e espera que daqui a 10 anos “se possa dizer: está feito”

E, assim, chegamos ao presente — e a uma manchete tirada a papel químico de uma notícia com 20 anos. Esta quinta-feira, o ministro das Infraestruturas defendeu que “andámos a perder tempo” enquanto país, ressalvando que “nunca é tarde” e que, “tendo perdido tempo, é o momento de acelerar”. Depois de prestar “homenagem” ao ex-ministro João Cravinho, pela forma como anteviu a necessidade de uma obra com estes contornos há mais de 20 anos, Pedro Nuno Santos apresentou as primeiras e principais linhas do (antigo e, agora, recuperado) projeto de ligação Lisboa-Porto.

Um projeto que terá um custo estimado de 4.500 milhões de euros (que compara com os 1000 milhões de contos de há 20 anos) e que será concretizado por fases, arrancando com uma primeira fase de ligação entre o Porto e Soure e que irá avançando, se avançar, “de acordo com capacidades” financeiras que o país for sendo capaz de captar. O plano, a ser concretizado, será “uma revolução” para o país.

Conclusão

Não se trata, como já se percebeu, de ir “buscar” uma notícia com 20 anos. Mas os pontos em comum levaram vários utilizadores das redes sociais a recordar — como o próprio jornal Público fez na sua edição desta quinta-feira — a capa do diário de julho de 1999.

A sugestão está, portanto:

ERRADA

NOTA: este artigo foi produzido no âmbito de uma parceria de fact checking entre o Observador e a TVI

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