É uma publicação antiga mas que continua com níveis de partilha assinaláveis, com quase 200 mil visualizações só nos últimos quatro meses. Manuel Alegre, diz esta publicação, pertenceu à Frente Nacional de Libertação de Angola. Para prová-lo mostra até a suposta cópia de um “cartão de membro” da FNLA com dados atribuídos aos socialista. Mas nada disto é verdade.

É o próprio Manuel Alegre que o diz ao Observador: “É totalmente falso. Nunca usei esta camisa, nem sequer tinha barba nesta altura. Só passei a usar barba quando nasceu o meu primeiro filho, em 1973. Nem a morada é a minha, nem esses são os meus pais”. Francisco e Manuela eram os nomes dos pais do socialista e não os que aparecem na cópia exibida, José e Maria.

Nem em termos políticos há fundamento para esta associação de ideias, já que Manuel Alegre sempre defendeu o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), depois da independência do país, mas nunca a FNLA da qual, diz, “sempre” teve “a pior impressão”.

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A FNLA foi um dos três movimentos independentistas angolanos, a par com a UNITA e o MPLA, que lideraram o processo de independência do país contra as Forças Armadas portuguesas. Na publicação é descrito como “o movimento nacionalista angolano mais sanguinário de todos… FNLA de [SIC] Holdem Roberto”. Holden Roberto criou e presidiu ao movimento.

A publicação mistura ainda, numa mesma publicação, a imagem do cartão e uma notícia do jornal Público, de abril de 2020, que dava conta de uma petição assinada pelo socialista pela celebração do 25 de abril mesmo em tempo de pandemia e de confinamento geral, como o que vigorava então. Mas o texto da publicação insurge-se contra numa “medalha” colocada no peito de Manuel Alegre pelo “Presidente de todos os portugueses”.

É verdade que Manuel Alegre já foi condecorado por duas vezes: uma em 1989, com a Ordem da Liberdade (que distingue serviços relevantes prestados em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e à causa da Liberdade), era Presidente Mário Soares; e em 2016, com a Ordem de  Sant’Iago da Espada (que destaca o mérito científico, literário e artístico), era Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Nenhuma delas aconteceu nos tempos recentes, como é possível verificar no site da Presidência.

Quanto às questões mais técnicas da publicação, é possível detetar alguns problemas na imagem partilhada, nomeadamente ao nível da letra usada no cartão, ora de imprensa ora manuscrita. E através de uma pesquisa por imagem no motor de busca específico para este efeito surge ainda uma outra imagem do mesmo cartão, como pertencente a um cidadão britânico, segundo o blogue Angola Terra Nossa. O cartão da FNLA atribuído a Manuel Alegre é uma montagem feita a partir deste.

Conclusão

Esta publicação é falsa. O próprio Manuel Alegre, a quem é atribuída a filiação na Frente Nacional de Libertação de Angola, não só desmente ter alguma vez feito parte do movimento independentista, como afirma que aquela fotografia não é sua, nunca vestiu uma camisa como a que está na imagem e os nomes da filiação estão errados. O suposto cartão de membro da FNLA surge num blogue, numa publicação com data de 2010, e é atribuído a um cidadão britânico.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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