Várias publicações no Facebook, difundidas em grupos com milhares de seguidores e que contam com dezenas de gostos, comentários e partilhas, acusam a comunidade do Bangladesh de representar um perigo para a sociedade portuguesa e o líder dessa mesma comunidade de querer “destruir a sociedade que o acolheu”. Mas terá Rana Taslim Uddin demonstrado essa intenção durante um discurso, em abril de 2023, como diz a referida publicação?
O vídeo partilhado é um excerto de um discurso que Uddin proferiu a 9 de abril de 2023, durante um evento da Comunidade Islâmica em Portugal. Como seria de esperar, o líder da comunidade do Bangladesh falou em bengali, a língua oficial do país, pelo que o vídeo difundido está legendado em português.
Depois de se referir à perseguição feita aos muçulmanos em Portugal no passado (devido à sua orientação religiosa) e ao número de mesquitas e de muçulmanos em Portugal, Uddin fez, segundo a tradução que acompanha o vídeo, uma declaração que está a levantar polémica. “Aqueles que encontraram uma nova sociedade, aqueles que estão aqui hoje, o que fizeram por esta sociedade? Não o fiz pela sociedade, fi-lo para fazer os do meu sangue felizes. Vou fazer o meu sangue feliz. Vou tornar esta sociedade numa realidade, e se as pessoas não estiverem felizes com isso, destruirei esta sociedade. Farei a nossa sociedade feliz”.
Mas estará esta tradução correta? Ao Observador, Jayanti Dutta, docente do Centro de Culturas e Línguas Eslavas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, explica que não. E esclarece o que, na verdade, foi dito por Rana Uddin. “Aqueles que encontraram aqui uma sociedade nova, aqueles que estão aqui presentes hoje, perguntam-me o que eu fiz para a sociedade. Irmãos, fi-lo para fazer o meu Deus feliz, não para a sociedade. Se Deus ficar feliz, ele trará uma solução para a sociedade e conduzirá esta sociedade para o caminho certo. Se não ficar feliz, então destruirá esta sociedade. Por isso tentamos agradar a Deus e ao mesmo tempo construir uma amizade com as pessoas desta sociedade.” Ou seja, Uddin fez uma referência religiosa e não ameaçou destruir a sociedade portuguesa.
Contactado pelo Observador, o próprio Rana Uddin diz que a tradução é falsa e acusa de islamofobia e xenofobia os promotores de conteúdos da página de youtube que divulgou o vídeo originalmente, a “Invictus Portucale” — uma página ligada à extrema-direita e que se foca em temas como a imigração, a criminalidade e a corrupção. “Os radicais não conseguiram manifestar-se no Martim Moniz [zona que concentra parte importante da comunidade do Bangladesh em Lisboa] e montaram esta provocação logo a seguir”, acusa o líder religioso. Rana Uddin adianta que vive em Portugal há mais de 30 anos e nunca teve “problemas” com a sociedade portuguesa.
Conclusão
É falso que o líder da comunidade do Bangladesh tenha ameaçado destruir a sociedade portuguesa. A tradução, feita originalmente por um canal no Youtube, está errada, confirmou o Observador. Rana Uddin fez uma referência religiosa, aludindo à vontade de Deus, e não à vontade da comunidade do Bangladesh em Portugal.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.