A história dos “ténis satânicos” já vai longa e parece estar a aproximar-se do fim. Vamos por partes. No final do mês de março foram postos à venda uns Nike Air Max 97 personalizados com tinta vermelha e “uma gota de sangue humano”. Os conhecidos ténis da Nike surgiam com um pentagrama e podia ler-se “Luke 10:18”, uma referência ao capítulo 1º do Evangelho de São Lucas, versículo 18, onde diz que Santanás foi expulso do céu. Mais um pormenor: foram lançados 666 pares de ténis deste modelo, o número associado ao diabo.

Ao recuar um pouco, percebe-se que tudo começou no momento em que o rapper Lil Nas X lançou o seu mais recente single, “Montero (Call Me By Your Name)”, com um videoclipe em que aparece ora como anjo caído ora como um demónio em plena lap dance com o diabo. Pouco tempo depois, Nas X brindou os seguidores no Twitter com mais uma novidade, o lançamento dos “ténis satânicos”.

Os problemas começam quando se percebe que o famoso modelo da gigante marca desportiva foi modificado pelo coletivo de artistas MSCHF sem a autorização da Nike. A empresa desportiva sofreu ameaças de boicote, através das redes sociais, por estar a “apoiar o satanismo”, mas rapidamente se demarcou das acusações ao lançar um comunicado onde disse “não ter qualquer relação com o Lil Nas ou com a MSCHF” e que  “não desenhou nem lançou estes ténis nem os patrocina”.

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A Nike referiu ainda ter “sofrido consideráveis danos” com o lançamento e acabou por processar a empresa MSCHF, com sede Brooklyn, Nova Iorque, por alegamente ter infringido as regras de propriedade intelectual com as modificações feitas. O rapper não foi constituído arguido.

Pentagramas, sangue humano e várias gotas de polémica: Nike avança com ação sobre “ténis satânicos” de Lil Nas X

O processo judicial foi retirado pela Nike pouco tempo depois devido a um acordo com a MSCHF Product Studio Inc. As empresas chegaram a um acordo legal em que a fabricante aceitou retirar do mercado os “ténis satânicos”. A MSCHF ficou responsável por reembolsar as pessoas que compraram os ténis.

Esta não é a primeira vez que a empresa nova-iorquina modifica os ténis da Nike. Já tinha acontecido com os “Jesus Shoes”, os Nike Air Max 97 aos quais a MSCHF acrescentou uma cruz dourada nos atacadores, água benta do Rio Jordão na sola e um versículo da Bíblia — “Alta madrugada, Jesus dirigiu-se a eles andando sobre o mar”. Na altura foi encomendada água do rio de Israel, que foi benzida por um padre de Brooklyn, e sola das sapatilhas foi molhada em água benta, numa referência ao facto de Jesus ter andado sobre as águas, de acordo com os Evangelhos.

A companhia de artes comprou os ténis a um preço normal, cerca de 145 euros, e vendeu os 24 pares que pôs à venda por 1290 euros. Os ténis esgotaram em apenas um minuto e pouco tempo depois já estavam à venda no StockX por quatro mil euros.

Conclusão

É falso que a Nike tenha lançado os ténis satânicos com o rapper Lil Nas X. Em causa está um famoso modelo de ténis da Nike que foi modificado por uma companhia de artes nova-iorquina que, aliás, já tinha feito um processo idêntico nos “Jesus Shoes”. A prova de que a Nike não teve qualquer ligação ao lançamento foi o processo judicial interposto MSCHF e, mais tarde, o acordo legal conseguido entre as duas empresas. Perante os factos, é verdadeiro que os ténis estiveram no mercado, mas é falso que tenha sido um modelo produzido e lançado pela Nike.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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