No final de julho, o Padrão de S. Lázaro, em Guimarães, foi encontrado parcialmente destruído, havendo a hipótese de se ter tratado de vandalismo. Nas redes sociais, vários utilizadores começaram de imediato a partilhar fotografias dos fragmentos, dando como certo tratar-se de um ato de vandalismo e avançando suspeitas de ter sido realizado por um “grupo de indivíduos indostânicos”, citando supostos relatos de moradores.

“Há poucas horas, teve lugar mais um ataque vil e cobarde contra a história e identidade de Portugal. O Padrão de São Lázaro, em Guimarães, foi atacado, tendo a Cruz de Cristo ficado completamente destruída, conforme se verifica nas imagens. Segundo relato de moradores locais, o ataque foi alegadamente levado a cabo por um grupo de indivíduos indostânicos. Não esquecer que este monumento simboliza a vitória de Aljubarrota, após a entrada de D. João I em Guimarães, em 1386”, pode ler-se. Mas serão verdadeiras as suspeitas que se tornaram virais no Facebook?

Nas redes sociais, a Junta de Freguesia de Creixomil reagiu logo após ter tomado conhecimento do que aconteceu, nunca arriscando falar apenas na hipótese de vandalismo.

O “património cultural de Guimarães na freguesia de Creixomil ficou mais pobre”, começava a publicação, adiantando que “pelas 22 horas [do dia 30] o monumento de património nacional — Padrão de S. Lázaro, situado na rua D. João I, foi alvo de acidente e ou eventual vandalismo”.

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Nessa publicação era referido que a Polícia Municipal já estava no local, e que ainda se aguardava a deslocação da PSP, “a fim de tomar conta da ocorrência” — que acabaria por chegar logo de seguida para fazer algumas diligências, antes de o caso passar para a alçada da PJ, por poderem estar em causa crimes contra o património cultural.

Questionada pelo Observador, a Polícia de Segurança Pública confirmou que quando chegou ao local encontrou o Padrão de São Lázaro destruído, garantindo não ter qualquer indício ou suspeita de que se tratou de um ataque de um “grupo de indivíduos indostânicos”. Aliás, nas diligências feitas no local, os agentes não registaram qualquer testemunho de moradores que fizessem referência à presença de pessoas de outras nacionalidades no local nos momentos anteriores a ter sido ouvido o som da queda do padrão.

Também o presidente da Junta de Freguesia de Creixomil, António Gonçalves (PSD), explicou ao Observador que não fazem sentido as teorias que estão a circular nas redes sociais: “Isso não tem qualquer fundamento, nem muito nem pouco. Tudo o que se possa dizer é especulativo. Estive lá no local ouvi os testemunhos reais. Aquando da queda, quem ouviu o som veio cá fora e não viu coisa nenhuma.”

Ainda que não se saiba ao certo o que aconteceu, alguns moradores avançaram uma hipótese, mas que nada tem a ver com um ato de vandalismo cometido por um grupo de estrangeiros. “Deduz-se que eventualmente possa haver, não um vandalismo premeditado, mas que estivessem lá miúdos. E, como há lá um bar à beira, poderiam eventualmente ter bebido uns copos e ter-se encostado. Mas agora as peritagens estão a ser feitas pelos técnicos competentes e depois vai obter-se alguma informação. Não faz qualquer sentido o que se anda para aí dizer”, remata o presidente da junta de Creixomil.

Cruzeiro monumento nacional destruído por possível ato de vandalismo em Guimarães

O ministério da Cultura lamentou de imediato o que aconteceu em Guimarães, dizendo em comunicado que, “face à gravidade da situação, o Património Cultural/Instituto Público operacionalizou a deslocação de uma equipa técnica a Guimarães, no sentido de avaliar, não apenas os danos materiais causados ao cruzeiro derrubado e fragmentado, mas também para diligenciar sobre as condições da sua recuperação e ponderar estratégias futuras de salvaguarda”.

O ministro da Defesa Nacional e presidente do CDS/PP, Nuno Melo, também reagiu à destruição deste monumento nas suas redes sociais. Contrariamente ao que é defendido pela junta e pela própria polícia, Melo dá como certo que se tratou de um ataque, mas nunca faz referência a qualquer grupo ou nacionalidade, pedindo que seja feita justiça e que os responsáveis sejam alvo de uma “resposta implacável no plano policial e judicial”.

“O ataque ao Padrão de S. Lázaro em Guimarães, comemorativo da vitória em Aljubarrota, independentemente dos autores, ou da motivação, foi um ato criminoso, execrável e abominável contra uma peça única do património nacional e a identidade de todo um povo, que reclama uma resposta implacável no plano policial e judicial”, escreveu.

Caso se confirme, no âmbito da investigação que agora teve início, ter sido um ato de vandalismo, não será a primeira que o monumento é atacado: segundo o site do Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, em fevereiro de 1996, “actos de vandalismo destruíram a cruz e o baldaquino”.

Conclusão

O Padrão de São Lázaro apareceu destruído no final de julho, não se sabendo para já se se tratou de vandalismo — premeditado ou não — ou de um acidente. As publicações que apontam para a possível responsabilidade de um “grupo de indivíduos indostânicos” não são verdadeiras. Tanto a PSP como a Junta de Freguesia de Creixomil garantem não ter qualquer indício que aponte para essa tese. “Isso não tem qualquer fundamento, nem muito nem pouco”, sublinhou ao Observador António Gonçalves (PSD), presidente da junta.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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