Nicolás Maduro foi anunciado como o vencedor das eleições presidenciais na Venezuela, mas a falta de transparência do ato eleitoral levou a oposição a questionar a reeleição, apresentando resultados diferentes: neste caso, a vitória de Edmundo González Urrutia. Portugal é um dos países a exigir uma verificação “imparcial” e “independente” dos resultados das presidenciais na Venezuela, que a oposição contesta.

Por todo este contexto, o país tem estado mergulhado numa crise política desde o dia 29 de julho e as redes sociais trazem muitas vezes imagens do que se passa na Venezuela. Nas ruas das principais cidades venezuelanas, milhares foram detidos em protestos contra Nicolás Maduro. O presidente do país chegou a anunciar o reforço do patrulhamento militar e policial na Venezuela, uma vez que ao seu lado continuam as Forças Armadas, que de acordo com o ministro da Defesa do país, juramlealdade absoluta” ao governo de Maduro.

Já a líder da oposição venezuelana, que foi impedida de se candidatar a estas eleições, María Corina Machado, garante que “a única coisa que resta” ao Presidente Nicolás Maduro é o apoio da liderança militar, uma vez que “até as bases das forças armadas, das forças policiais (…) não estão com ele, porque não querem violência e não querem mentiras”.

É neste contexto que surgem vários vídeos nas redes sociais, um deles mostra aparentemente agentes da polícia venezuelana a “pousar as armas”, com a descrição: “Polícia renuncia à ditadura e se junta ao povo”. Mas será verdade?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Vídeo partilhado no Facebook a mostrar alegados agentes da polícia venezuelana a juntar-se aos protestos contra Nicolás Maduro.

Vídeo mostra alegados agentes da polícia venezuelana a juntar-se aos protestos contra Maduro.

No vídeo analisado surge um homem, com uma criança à frente, a erguer uma bandeira da Venezuela e a pedir a dois supostos agentes da polícia: “Já basta! Não nos reprimam. Temos crianças. Estamos a apoiar a Venezuela”.

Na sequência, os dois homens fardados baixam as armas, dizendo: “As nossas armas (…) não são para reprimir o povo. Hoje nos unimos a vocês, hoje nos unimos à Venezuela e ao seu pedido, e queremos dizer que os Bad Boys, do Peru, estão com o povo venezuelano”.

Ou seja, se se assistir ao vídeo até ao fim percebe-se que não se trata de agentes da polícia venezuelana a baixarem as armas e a apoiar manifestantes, como sugere a descrição feita pelo utilizador. Olhando atentamente para as fardas, de diferentes tons de castanho e com as palavras “police” ao peito e “bad boys” no braço, também se conclui que este não é o uniforme oficial das autoridades da Venezuela. Vídeos das redes sociais da Polícia Nacional Bolivariana comprovam que os agentes daquela força usam uniforme azul, com a bandeira da Venezuela ao braço e com a inscrição “Policia Nacional Bolivariana” nas costas.

Então que vídeo é este e o que são os Bad Boys do Peru? Nada mais, nada menos do que dois atores venezuelanos que imitam Will Smith e Martin Lawrence no filme “Bad Boys” e que fazem este tipo de encenações. Aliás, no passado dia 29 de julho, a dupla de atores chegou a ser entrevistada por canais de televisão, durante o “Grande desfile Militar“.

Além disso, são vários os links que remetem para vídeos dos Bad Boys do Peru nas redes sociais do ator Jakson Esmi, que se apresenta como o “Will Smith Peruano”.

Conclusão

Apesar das garantias de Corina Machado, de que a “base” do exército e da polícia não está ao lado de Nicolás Maduro, o vídeo que está a ser partilhado nas redes sociais não mostra dois polícias venezuelanos a baixarem as armas e a juntarem-se ao povo. O vídeo mostra atores, no Peru, a fazerem uma encenação a propósito da situação na Venezuela. A garantia é deixada no próprio vídeo, pelos atores que, numa alusão ao trabalho dos atores Will Smith e Martin Lawrence no filme “Bad Boys”, se apresentam como os “Bad Boys do Peru”.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge