Aos 13 anos, Rayssa Leal fez história. Em julho passado, a atleta tornou-se a mais jovem medalhada do Brasil ao assegurar o segundo lugar na categoria “street” na competição de skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Rayssa era já a mais nova participante da história do seu país, ganhando por apenas quatro meses à nadadora Talita Rodrigues, que participou nas olimpíadas de Londres em 1948 quando tinha 13 anos e 11 meses.

No rescaldo da vitória da skater, começou a circular nas redes sociais uma publicação que alegava que, de regresso ao Brasil após a vitória em Tóquio, Rayssa Leal se tinha recusado a tirar fotografias com os políticos de Imperatriz, a cidade no estado do Maranhão de onde é natural. A razão teria sido a falta de apoio da autarquia em outras etapas da sua carreira — de acordo com a informação partilhada, o pai da atleta teria pedido ajuda à secretaria de desporto local, mas esta foi-lhe sempre negada. Isto não é, no entanto, verdade.

Rayssa Leal tornou-se conhecida aos sete anos, quando um vídeo em aparecia andando de skate vestida de fada se tornou viral. As imagens trouxeram-lhe a fama e a alcunha — “Fadinha” — que acompanha até hoje. Nos últimos anos, Rayssa Leal foi assegurando o seu lugar entre os melhores do skate no Brasil e no mundo. Em 2019, sagrou-se vice-campeã mundial e chegou aos Jogos Olímpicos, que incluíram o skate pela primeira vez nesta edição, com boa pontuação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A final da categoria “street” realizou-se a 26 de julho. Rayssa Leal ficou em segundo lugar com 14,64 pontos, sendo apenas ultrapassada pela japonesa Nishiya Momiji, que alcançou o ouro com 15,26 pontos. Com 13 anos, Momiji também fez história: tornou-se a mais nova campeão olímpica de sempre, ultrapassando a norte-americana Marjorie Gestring, que tinha alcançado o ouro nos saltos para a água em 1936. Nesta competição, o bronze foi para outra japonesa, Funa Nakayama.

Deu-se a conhecer aos sete anos vestida de fada, fechou da melhor forma o conto mas perdeu para uma rapariga de 13 anos como ela

Rayssa Leal regressou ao Brasil a 28 de julho. A jovem aterrou no Aeroporto Prefeito Renato Moreira, em Imperatriz, ao início da tarde, depois de ter feito escala em São Paulo. A autarquia planeou um desfile pelas ruas e uma receção na Praça Mané Garrincha com a autoridades locais, mas apenas a primeira aconteceu — a skater percorreu as principais ruas da cidade em cima de um carro do Corpo de Bombeiros do Maranhão, sendo notícia em vários jornais brasileiros.

Ao contrário do que o post alega, a jovem não se recusou a tirar fotografias com os políticos locais, até porque a receção que estava inicialmente planeada acabou por não acontecer. Mas as razões invocadas pela skater não foram não querer posar ao lado de políticos em protesto pela falta de apoio. O segundo evento proposto pela autarquia foi cancelado pela própria Rayssa, que justificou a decisão com a situação que se vive no Brasil na sequência da pandemia do novo coronavírus. No Instagram, a atleta disse que queria “evitar aglomerações” e pediu aos fãs que evitassem “ir até o aeroporto” de Imperatriz. “Queria muito receber o carinho de vocês, mas esse não é o momento”, afirmou, apelando ao uso de máscara, de álcool em gel e à vacinação.

https://www.instagram.com/p/CR3jD-PlTcI/?utm_medium=share_sheet

A alegada notícia de que Rayssa Leal se terá recusado a posar com os políticos locais terá tido origem num artigo de opinião publicado no jornal online Metrópoles a 28 de julho, dia do regresso da jovem ao Brasil. Neste texto, o autor, Leo Dias, refere que a atleta “pediu para que seus fãs não comparecessem ao local, já que o Brasil ainda vive uma pandemia. Mas, nos bastidores, o que circula é que ela também não quis posar ao lado de políticos da região”. A razão seria a apontada na publicação do Facebook: “Em nenhum momento a jovem recebeu apoio dos políticos da cidade”.

Mas também não é verdade que a skater nunca tenha recebido qualquer apoio da autarquia. Recebeu-o pelo menos uma vez, em 2017, quando os pais e amigos lançaram uma campanha para angariar o dinheiro necessário para puder participar numa competição no Rio de Janeiro. Ao tomar conhecimento da campanha, a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude de Imperatriz avançou na altura com o valor necessário para a compra dos bilhetes de avião. “Fizemos todo o processo para liberação das passagens aéreas para ela e seu pai, que vai acompanhá-la durante toda a competição”, disse a secretária de Esporte, Greycivane Lindoso.

Num nota de desmentido enviada ao Metrópoles no dia da publicação do artigo de opinião, a Secretaria de Esporte garantiu que desde o primeiro mandato do atual presidente da câmara, Assis Ramos, que a autarquia tem apoiado medidas “voltadas” para o desporto e também a jovem desportista, com dinheiro para bilhetes de avião e alimentação. “Além de apoio financeiro, praticamente construiu uma nova pista de skate, tudo em conformidade com o que foi solicitado pelo pai de Rayssa e por ela mesmo”, informou a Secretaria, citada pelo mesmo Metrópoles. “Fica aqui o nosso profundo repudio às notas publicadas.”

O Observador entrou em contacto com a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude da autarquia de Imperatriz, mas não obteve resposta até à publicação deste fact-check.

Conclusão

A skater Rayssa Leal não se recusou a tirar fotografias com políticos locais ao chegar à sua cidade natal, Imperatriz, em protesto pela falta de apoios. No Instagram, a atleta disse que queria “evitar aglomerações” devido à Covid-19 e pediu aos fãs que evitassem “ir até o aeroporto” esperá-la. “Queria muito receber o carinho de vocês, mas esse não é o momento”, afirmou, apelando ao uso de máscara, de álcool em gel e à vacinação.

A alegada notícia tem origem num artigo de opinião publicado num jornal online brasileiro e não numa peça jornalística. Esta cita como fonte boatos e não factos comprovados, que apontavam a insatisfação da desportista com a autarquia como razão para a recusa da skater. Esta versão foi recusada pela câmara municipal de Imperatriz, que mostrou o seu “profundo repudio” numa nota que fez chegar à publicação, defendendo ter ajudado Rayssa Leal em vários momentos, com bilhetes de avião e alimentação. A câmara terá ajudado a atleta pelo menos uma vez, em 2017, quando pais e amigos lançaram uma campanha para angariar o dinheiro necessário para que pudesse participar numa competição no Rio de Janeiro.

Não existem, assim, evidências que apoiam a afirmação de que Rayssa Leal se recusou a pousar com políticos para mostrar o seu descontentamento com a autarquia.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge