Carlos Guimarães Pinto, o ex-presidente da Iniciativa Liberal, recordou esta semana um tweet que tinha feito em julho para assinalar a repetição por parte do Governo de anúncios vários sobre o mesmo investimento, neste caso o concurso para a compra de 117 comboios para a CP.

O economista acrescentou, num comentário publicado no dia 15 de dezembro, que até os comboios chegarem à empresa ainda antecipa mais três ou quatro anúncios feitos pelos políticos daquela que é, assim tem sido realçada pelos responsáveis políticos, a maior encomenda de sempre de material circulante feita para a ferrovia portuguesa.

Para fundamentar a afirmação, Carlos Guimarães Pinto faz uma montagem com imagens de notícias que reproduzem o mesmo anúncio em dias distintos no último ano e meio. Mas os dois primeiros “anúncios” correspondem na verdade a notícias de jornais que revelam as primeiras informações sobre este contrato. Ainda que o Governo — o Ministério das Infraestruturas tem a tutela da CP — possa ter prestado informação para a produção da notícia do DN/JN publicada a 11 de agosto de 2020 ou para a história do Público divulgada a 20 de setembro os dois artigos não são anúncios, são notícias sobre um projeto de inegável interesse público e jornalístico, dada a dimensão do concurso e a raridade com que a CP compra comboios.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já as outras duas referências ao mesmo anúncio correspondem efetivamente a informações reveladas por governantes com a tutela da CP. Em janeiro de 2021, o secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado, afirmava em declarações à Lusa que o concurso que seria lançado para a aquisição de mais de 100 comboios para a CP ia valorizar propostas que incluíssem alguma componente de fabrico em Portugal.

Concurso para novos comboios da CP vai privilegiar construção em Portugal

As declarações de Jorge Delgado foram feitas à margem de uma visita às oficinas de Guifões em Matosinhos que foram reabertas por ordem do atual ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, em 2019. Apesar de se referir ao concurso de comboios para a CP, já conhecido, Jorge Delgado estava a destacar um aspeto específico do concurso que também tinha valor acrescentado em termos noticiosos.

O tweet de Carlos Guimarães Pinto junta também a referência a notícias de julho deste ano com um vídeo do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, a anunciar o concurso para a compra de 117 comboios para a CP. Estas declarações foram feitas após o Conselho de Ministros que aprovou a decisão de autorização dada à operadora para avançar com o concurso. Este foi na verdade o primeiro anúncio propriamente dito do Governo sobre este projeto com detalhes sobre o valor — 819 milhões de euros — o número e tipo de unidades — 117 automotoras elétricas, das quais 62 para o serviço urbano e 55 para o serviço regional — e o calendário de entregas, a partir de 2026.

O Governo voltou a anunciar o projeto esta semana — numa cerimónia para o lançamento do concurso internacional que revelou detalhes sobre o caderno de encargos com uma cerimónia oficial em Guifões onde o ministro Pedro Nuno Santos confirmou aquilo que já tinha sido dito pelo seu secretário de Estado, reforçando o objetivo de que “grande parte da produção seja feita em Portugal”.

A multiplicação de anúncios e cerimónias a marcar ou assinalar grandes contratos ou projetos de obras é uma prática comum a praticamente todos os governos. Sobretudo quando estão em causa grandes investimentos que demoram tempo a ser estudados, lançados e desenvolvidos e cuja execução exige vários passos políticos, administrativos e contratuais e atravessa vários governos, e que por sua vez suscitam também o interesse jornalístico. Esse interesse suscita perguntas e notícias que voltam a dar eco ao mesmo concurso/projeto, ainda que com algum valor acrescentado em termos de informação.

Por outro lado, é provável que a profecia de Carlos Guimarães Pinto se concretize com mais anúncios feitos pelos políticos, e não necessariamente apenas socialistas, sobre o maior concurso de sempre para a compra de comboios em Portugal.

Conclusão

Nas duas publicações sobre o tema, o economista começa por referir que o último anúncio feito esta semana é o quarto, mas depois dá indicação, ilustrando com as respetivas imagens, de que houve quatro anúncios antes, portanto o mais recente seria o quinto. Por outro lado, os dois primeiros anúncios citados por Carlos Guimarães Pinto não são comunicações do Governo, mas sim notícias. Numa pesquisa feita na conta de Twitter do Ministério das Infraestruturas e do seu ministro encontram-se outros anúncios do mesmo contrato que não foram referidos no levantamento do ex-líder da IL. Por exemplo, a informação dada a propósito da revelação dos projetos do Plano de Recuperação e Resiliência em outubro do ano passado.

De acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ESTICADO

IFCN Badge