Ursula von der Leyen no seu discurso sobre o estado da União reconheceu que a pandemia tem roubado muitas oportunidades aos jovens. Não fossemos nós, a geração mais lesada pela crise pandémica que nos assola, com impacte no desenvolvimento pessoal, social e profissional de muitos e muitas jovens.
A 14 de dezembro, o Parlamento Europeu confirmou a decisão de proclamar 2022 como o Ano Europeu da Juventude. Entramos, pois, em 2022 com esperança!
Este ato promove a mobilização da atenção mediática, das instituições, dos decisores políticos e das pessoas para os problemas e desafios dos jovens de hoje.
É um ano de que Portugal muito precisa para devolver a esperança às novas gerações, promovendo respostas mais concretas e eficazes para a melhoria das suas condições de vida, que têm sido, crise após crise, secundarizadas:
- Os jovens portugueses saem de casa dos pais aos 30 anos, 4 anos mais tarde do que a média europeia (Eurostat);
- 23% dos jovens já tentaram ou pensaram suicidar-se (FFMS);
- O salário médio de um jovem licenciado é hoje 17% mais baixo do que no início da década passada (FJN);
- Perto de três quartos dos jovens empregados auferem rendimentos que não ultrapassam os 950€ líquidos por mês (FFMS).
É por isso que este ano não pode ser apenas temático ou simbólico, mas antes consequente, que revele esforço e empenho no reconhecimento das prioridades da juventude e desperte muitos da complacência.
Quero acreditar que a escolha deste ano não nos une apenas pelas tendências e pelas estatísticas que põem a nu a realidade da minha geração, mas também pelo sentimento e sentido de que nenhum jovem pode ficar esquecido, abandonado à sua sorte e de que todos – decisores políticos e jovens – temos responsabilidade na procura de soluções políticas.
A população dos 15 aos 29 anos representa 16% do total da população portuguesa, o que justifica per si o compromisso de investir na juventude, com uma articulação interministerial em áreas estratégicas como o ensino superior, a habitação, o emprego, a emancipação jovem, a sustentabilidade da segurança social, a qualidade de vida, a inclusão, a sustentabilidade ambiental, envolvendo os jovens nos processos de consulta pública que lhes digam respeito e nos vários níveis do processo de tomada de decisão.
O primeiro Plano Nacional para a Juventude em Portugal foi aprovado em 2018. Desse plano pouco mais restou do que as intenções nele inscritas. Hoje, somos desafiados e necessitamos de novos meios de ação para dar resposta a problemas estruturantes e talvez mais complexos do que havíamos pensado.
Um artigo de opinião recente no El País atenta no perigo de se lançar os jovens para um “paradigma anti-sistema, individualista e reacionário” pelo seu alheamento político e pela precaridade crescente das trajetórias profissionais. Reconhecendo que a participação política dos jovens é muito mais que a participação partidária, sou defensora de que os jovens têm sido impulsionadores de mudança ao reconhecerem-se como agentes ativos das suas próprias vidas e da nossa vida coletiva, constatando o alheamento político dos jovens portugueses como uma fake news.
Deste lado, continuaremos a participar e a apelar à participação política, social e cívica dos jovens, não deixando que a minha geração sinta que nada pode fazer para melhorar as suas condições de vida, mesmo quando defraudam as nossas expectativas. Isto significa também que devemos estar atentos às ameaças à democracia, seja em Portugal, no nosso país vizinho ou no mundo.
O país e a Europa precisam de nós, dos nossos sonhos, dos nossos projetos, do nosso talento. E nós contamos com eles, para que a nossa voz esteja no centro das atenções e para conseguirmos formar coligações de interesses tendo a juventude como propósito comum, reforçando a democracia e evitando os extremismos. 2022 está à nossa espera!