Portugal vive há mais tempo em democracia do que em ditadura. Desde a Revolução dos Cravos que felizmente habitamos num país em que a liberdade nunca passou de moda! O mesmo não se pode dizer de outras nações, onde a falta de liberdade não é um contexto do passado.

Por cá, podemos viver dois tipos de liberdade – a liberdade da indiferença e a liberdade de poder escolher entre o bem e o mal. Eu vivo a liberdade de querer escolher diariamente o certo do errado. E é na educação que encontro a forma de concretizar esta vontade, que no fundo, pretende compatibilizar a existência e o progresso da própria sociedade onde me insiro e de a dignificar para a geração que me sucede.

Foi com esta vontade de poder escolher, em liberdade e consciência, o certo do errado, que os estudantes na década de 60, em particular em 1968 e na crise académica de 69, ousaram “pedir a palavra” para afirmar “o Estado a que as coisas estavam a chegar” e que precipitaram a revolução da década seguinte.

O 25 de abril de 1974 trouxe precisamente o direito de acesso universal à educação, que permite que através dela “a filha de um camponês se torne médica, o filho de um mineiro possa chegar a chefe de mina (…)”. Mais, a educação passou a não programar e doutrinar crianças e jovens, deixando as escolas livres da “militarização”, tão característica dos regimes totalitários.

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O conhecimento constitui a arma mais valiosa que um país possui, ao despertar a consciência humana, e só ela nos protege de discursos populistas que possam seduzir cidadãos mais vulneráveis, com soluções fáceis para problemas complexos. O talento e a inteligência não escolhem classes sociais, pelo que ninguém pode ficar excluído do seu desenvolvimento pessoal.

Se antes da revolução a Educação era para elites e limitada, hoje podemos celebrá-la como um dos maiores ganhos do 25 de Abril. Mas não podemos comemorar a injustiça social coletiva que soa a silêncio aos ouvidos de muitos, mas a ruído nos ouvidos dos jovens deste país: Portugal não tem tido uma visão educativa ambiciosa, pelo que está condenando o seu destino, ou melhor dizendo, condenando os jovens portugueses à sua condição de desalento.

A educação superior de qualidade tem que ser um desígnio nacional. Falo de educação superior porque os contrates entre o Superior e o Básico e Secundário são muitos. No Ensino Superior os estudantes são já adultos, independentes e procuram o seu desenvolvimento pessoal, intelectual e profissional.

É fundamental que a aposta no conhecimento, por via da ciência e da formação superior corresponda a melhores condições de vida e ao mais eficaz elevador social que conhecemos no período a que correspondeu a democratização do país e em consequência da educação em Portugal. É vital que o Ensino Superior corresponda às expectativas de maior empregabilidade, melhores salários e melhores condições laborais, mas que tal seja compatibilizado com maior consciência social, política, ambiental, por maior realização pessoal e uma mais harmoniosa dinâmica coletiva. Só assim, estudar continuará a valer a pena para a maioria dos cidadãos e para que o progresso do país possa acontecer com base na inovação e no conhecimento.

Nesta data lembro a urgência de convocar a sociedade para refletir sobre o valor estratégico do Ensino Superior, por outras palavras, sobre o futuro do país, sem esquecer que a concretização das reflexões em ação tem tanto de liberdade individual como de determinismo coletivo.

Deve haver o interesse público em ter Instituições de Ensino Superior fortes, modernas, de pensamento livre, para que os portugueses possam contribuir com uma visão mais preparada, bem informada e para que tenham condutas sociais que abandonem a liberdade da indiferença.

Não podemos deixar que o país se degrade. Não podemos facilitar. Não podemos dar a democracia e a liberdade por adquiridas. Precisamos do Ensino Superior como bandeira política. Precisamos do Ensino Superior para fazer mais por Portugal do que aquilo que ele é hoje.