As próximas eleições de junho serão as primeiras a serem realizadas sem o Reino Unido e também as primeiras com conflitos armados às portas da Europa, projectando-se como as mais importantes das últimas décadas.

O tabuleiro geopolítico é turbulento e incerto e, pela primeira vez, a grande maioria de centro que historicamente se impôs, poderá experimentar uma inclinação para a extrema-direita.

A legislatura iniciou-se com a saída do Reino Unido do clube europeu e com a UE a experimentar os desafios de uma pandemia. O ponto médio desta legislatura foi marcado pela guerra na Ucrânia e, no final da legislatura, a Europa vive confrontada com o conflito no Médio Oriente e com as ruas de alguns Estados-Membros incendiadas pelos protestos do mundo rural.

O contexto destas eleições é único e carregado de consequências. Mais de 372 milhões de cidadãos europeus serão chamados a eleger os 720 eurodeputados que definirão o rumo da política e da legislação europeia nos próximos cinco anos. Este é um momento em que o tecido político e social da Europa está particularmente frágil e este acto eleitoral representa mais do que a escolha de 720 eurodeputados: é um referendo sobre o futuro da Europa num mundo cada vez mais convulsionado por crises geopolíticas, pandemias globais e desafios ambientais, que testam a resiliência e unidade europeia de maneira nunca antes experimentada.

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Durante momentos de crise, como os que vivemos no início de 2020, os europeus aprenderam que a União Europeia pode responder quando é necessário, tomando consciência sobre como as decisões da Europa impactam a vida quotidiana das pessoas. Tornou-se quase impossível discutir qualquer política ou questão política sem a noção da União Europeia e, por consequência, do Parlamento Europeu.

À medida que nos aproximamos das eleições europeias, a importância da unidade  que Delors defendia ganha um novo significado. As eleições não são um mero evento político, mas oferecem um momento de reflexão sobre o quanto a União avançou e são um momento definidor para o futuro da Europa e de Portugal. Mas os desafios que a UE hoje enfrenta são diferentes e testam a visão de Jacques Delors. A migração, uma crise sem precedentes, exige uma resposta que equilibre responsabilidades humanitárias com integração e segurança. Embora o ideal de fronteiras abertas seja louvável, os desafios práticos de integração, alocação de recursos e segurança não podem ser ignorados. A ascensão da extrema-direita por toda a Europa, apresenta um desafio quando estes movimentos populistas exploram inseguranças económicas, medos culturais e os desafios da migração para colher apoio para uma visão Europa fragmentada e nacionalista. Ainda, a perceção de um “défice democrático” nas instituições da UE, onde as decisões tomadas ao nível europeu podem parecer distantes das vidas quotidianas dos cidadãos. Romantizar as reformas institucionais da UE sem nos empenharmos em colmatar esta lacuna dá aos populistas a oportunidade de criticar a UE. Como Delors proferiu num discurso no Parlamento Europeu, “a Europa, apesar do risco de sucumbir às suas divisões, continua a ser maravilhosamente rica na sua diversidade. Devemos preservar esta diversidade, ou melhor ainda, ajudá-la a florescer, para o bem comum”. Para Jacques Delors, esta comunidade de destino deve basear-se no princípio da subsidiariedade.

As próximas eleições europeias marcam não apenas um evento político, mas são um teste decisivo ao compromisso dos ideais e legado de Delors. Para Portugal, a importância de votar nestas eleições transcende a mera participação democrática, revestindo-se de um papel fundamental na definição do nosso lugar numa Europa que está à beira de transformações significativas e uma oportunidade para reforçar o nosso compromisso com a integração europeia.