Se em breves segundos, durante uma pausa para almoço, consultar o Google no seu smartphone, ou simplesmente pedir educadamente à Siri que o/a coloque a par das mais recentes tendências sobre a palavra corrupção, certamente que os resultados não serão inspiradores. Na verdade, foi isso que fiz e sem surpresa deparei-me com mais duas novas notícias diárias sobre o tema em questão: uma sobre o caso do ex-Presidente da Moldávia, o pró-russo Igor Dodon, detido por suspeitas de corrupção, e outra sobre um novo caso de corrupção na Câmara Municipal de Lisboa. Na verdade, a lista é interminável se alargarmos as definições do motor de busca além das 24 horas mais recentes, fazendo lembrar casos como os da Operação Marquês, Operação Lex, Banco Espírito Santo, Vistos Gold, caso Freeport, entre outros.

Deixando de lado os casos internacionais, e tendo principalmente em consideração a lista algo significativa das referências à corrupção no nosso país desde o início do novo século, importa, a meu ver, perceber a origem e as motivações de quem leva a cabo estes crimes, pondo em prática comportamentos moralmente censuráveis através da instrumentalização dos seus poderes, sobretudo políticos, subjugados aos interesses socioeconómicos próprios.

No meu ponto de vista, a resposta a esta questão é a mais simples de todas e passa por uma das regras basilares da microeconomia: a motivação principal para incorrer em corrupção é a vontade intrínseca para maximizar a acumulação do valor gerado pelo processo produtivo, ou seja, o lucro. À semelhança de outros crimes, poderia alegar-se que a prática dos mesmos poderia ocorrer apenas por prazer ou especial gosto em agir à revelia da lei. Contudo, na minha ótica, estas são apenas justificações que tentam desculpabilizar as situações partindo de alegadas perturbações no estado mental dos indivíduos, que, neste caso, se regem precisamente pelo mesmo objetivo que o capitalismo, nomeadamente a necessidade de retirar o maior benefício possível de cada situação, não olhando a meios para atingir uma finalidade principal, traduzida pela acumulação de capital.

Deste modo, é a promiscuidade entre o mundo económico e capitalista, igualmente aliado ao mundo da política, que impulsiona a acumulação de capital desmedida e, consequentemente, a corrupção. Já o diziam Alfredo Saad Filho, Thomas Piketty ou David Harvey, fazendo alusão à sobrevivência deste tipo de agentes a partir de heranças ou fortunas, na sua maioria não tributadas. Basta pensarmos em Joe Berardo, Ricardo Salgado, João Rendeiro ou Luís Filipe Vieira.

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Berardo, por exemplo, contraiu um empréstimo de 300 milhões de euros à Caixa Geral de Depósitos para supostos fins relacionados com a atividade da sua Fundação Museu Coleção Berardo, acabando, contudo, por o utilizar na compra de ações do Millennium BCP. A intenção? A mesma que a de Salgado, Rendeiro, Vieira e tantos outros: aumentar a extensão da sua riqueza pessoal à custa do contribuinte comum, o que cada vez mais tem contribuído para o aumento das desigualdades e para o recuo da atividade económica devido à diminuição do investimento privado.

Deste modo, enfatizo que a solução para um mais eficaz combate à corrupção e ao capitalismo passa por três pilares fundamentais: o acréscimo da literacia financeira, o reforço das instituições públicas democráticas e a adoção de estratégias políticas maioritárias. Nesse sentido, a luta anti-capitalista deve caracterizar-se pelo entendimento da regular necessidade de mercado da contração de créditos habitacionais, por exemplo, concluindo, contudo, que não é o crédito que incentiva o capitalismo, mas sim a motivação intrínseca dos indivíduos por lhe dar o uso indevido.

Assim, qualquer pessoa que olhe para o desenlace dos seus horizontes entenderá que existe um consenso social de que o capitalismo não terá fim, mas certamente que apenas com instituições políticas coesas e transparentes, bem como com políticas de alcance e projeção maioritários, a prática capitalista e corrupta da nossa sociedade será passível de mitigação.