Eu sei que este título contradiz muitos dos artigos de opinião publicados nos media. Porque tudo  o que acontece de mau no nosso país, e no mundo, parece ter sempre um inimigo comum aos olhos  de certas pessoas, o capitalismo. Seja em assuntos relacionados com a economia, com o clima,  com a saúde mental, com os incêndios, com tudo o que existe e que possa existir, este maltratado  sistema económico é o constante visado. Curiosamente, foi o sistema que mais riqueza gerou nas  sociedades, tirando 80% da população mundial da miséria em apenas 200 anos, já que segundo o  portal Our World in Data, cerca de 90% da população mundial estava na extrema pobreza em 1820.  Como afirma a magnifica economista Deirdre McCloskey: “O tão difamado capitalismo aumentou o  rendimento real per capita dos mais pobres desde 1800, não em 10% ou 100%, mas em mais de  3.000%”.

Mas afinal o que é mesmo o capitalismo? É um sistema baseado na propriedade privada que visa  a acumulação de capital (na forma de bens e dinheiro), ou seja, potencia o crescimento material dos  cidadãos, tornando a remuneração pelo nosso trabalho numa fonte progressiva do aumento de  poder económico.

A verdade é que o grande enriquecimento iniciado no século XIX, não levou os  trabalhadores à miséria, nem se concentrou num grande monopólio de elites, pelo contrário, transformou cada vez mais pessoas “comuns” em milionários. Afinal, no passado, quem nascia  pobre tinha a certeza que iria morrer pobre. Hoje, todos podemos ter o elevador social à nossa  disposição. E é claro que o capitalismo como o conhecemos, tem como origem justamente uma  mudança na forma de pensar para o liberalismo. A igualdade em dignidade, a liberdade económica  e o império da lei permitiram que os cidadãos individualmente empreendessem, inovassem e  gerassem valor para a sociedade. Hoje, é possível que qualquer pessoa crie o seu próprio negócio,  gerando novos empregos, alcançando a prosperidade financeira e melhorando a economia da sua  comunidade. O salto exponencial na riqueza material, que beneficiando (em diferentes medidas,  escalas e ritmos) a maioria das pessoas deste planeta, gerou bens e serviços que avançaram  significativamente as artes e as ciências, criando condições tecnológicas para a proliferação do  conhecimento, que melhoraram a saúde, a educação e todas as outras áreas da vida humana.

Com isto, não vivo numa bolha nem me iludo a achar que vivemos num mundo perfeito, mas  tento ser crítica, não culpando o capitalismo e o liberalismo, que são os únicos sistemas que podem  ser considerados como o ápice da história da humanidade (até o momento), como os culpados da  falta de equidade e injustiça que assistimos todos os dias. Com a liberdade que nos foi concedida,  também vem a responsabilidade de assumirmos que o ser humano é um ser racional, mas não é  nada perfeito, tal como percebermos que o dinheiro só tem o valor que a sociedade lhe atribui, pelo que uma pessoa tem boas ou más intenções, com ou sem dinheiro. Não podemos apontar sistemas  que apresentaram desde sempre resultados positivos como justificação do que funciona mal numa  sociedade repleta de pessoas cada vez mais desconectadas com propósitos humanistas, com falta  de empatia pelo próximo e onde o consumismo e a ganância desmedidas que podem pôr em xeque  o futuro das gerações de amanhã. No entanto, o individualismo que o liberalismo apregoa não é o  mesmo que egoísmo, e sim o exercício individual da liberdade económica e pessoal de cada  cidadão. Responsabilizar estes sistemas pelos consecutivos fracassos civilizacionais é muito perigoso, pois gera a ideia que a solução é voltar a um Estado sem as liberdades individuais garantidas.

Por outro lado, caímos sempre no erro (manipulado) de julgarmos a ambição e o poder que certos  indivíduos singulares ou plurais conquistaram como fruto do seu trabalho – muitas vezes os mesmos  que fazem crescer as economias – responsabilizando-os inconscientemente pelas desigualdades  que existem na sociedade e aceitando de forma benevolente que o governo lhes possa retirar o que  é o seu capital por direito, concentrando este dinheiro e privilégios no Estado, em nome da proteção  e equilíbrio do “bem comum”.

Pois, se existe alguma entidade a quem podemos colocar as culpas nesta história de desequilíbrios, é sim o governo e o seu corporativismo associado. Este sistema de  compadrio disfarçado de “capitalismo”, que assenta numa relação promíscua entre os interesses  instalados e usa a lei para beneficiar os grupos que dominam a máquina estatal. Substituindo  instituições inclusivas e plurais, como o livre mercado, este não visa a criação de riqueza com base  na cooperação social, mas sim o enriquecimento por via de uso abusivo do poder estatal. Mas como  constatou o fantástico economista Thomas Sowell: “Se você apoia políticos que lhe prometem dar  benefícios às custas de outros, você não tem o direito de reclamar quando retiram o seu dinheiro e  dão a outras pessoas, incluindo a eles mesmos”.

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