Houve uma alteração na forma de pensar dos portugueses após as últimas eleições de março. Não esqueçamos que a democracia representa o povo, então quando surgem os resultados temos de aceitar tal como a democracia o exige. Não podemos ser a favor da democracia quando o partido que simpatizamos vence e criticar a democracia quando o resultado não nos agrada.
E a grande surpresa, tendo em conta as sondagens, foi a estrondosa votação do CHEGA com mais de 1,1 milhões de votantes, assumindo de forma inequívoca a terceira força política do país. André Ventura, presidente do CHEGA, discursou afirmando que o bipartidarismo em Portugal tinha chegado ao fim. Foi em Faro que o grupo político liderado por André Ventura ficou em primeiro lugar com 27,2% contra os 25,5% do PS e 22,4% da AD.
Comparando com os resultados das eleições de 2022 é de destacar a descida do PS em 13,4 pontos percentuais e a subida do CHEGA e do LIVRE em 10,9 e 1,9 pontos percentuais, respetivamente.
E quais são as possíveis causas da subida de partidos da direita mais radical quer em Portugal e na Europa?
Poderá haver diversas respostas à ascensão de partidos mais ligados à direita tais como: o descontentamento com os governos socialistas, o voto de revolta, o desagrado com as políticas de imigração, entre outras razões. Mas no meu ver existe uma possível razão que será ainda mais difícil de reverter que é a idade dos votantes de cada partido.
De acordo com estudos realizados por diversas entidades tais como o ICS/ISCTE e a Universidade Católica Portuguesa, cerca de 44 a 56% dos votantes do PS têm mais de 65 anos, enquanto apenas cerca de 3 a 10% têm entre os 18 e os 34 anos. A caminhar ao lado do PS está o CDU que deverá ter somente entre 3 a 8% de eleitores entre os 18 e os 34 anos.
Por sua vez, o CHEGA, a IL, e o BE foram os três partidos que mais conseguiram os votos entre os 18 e os 34 anos. Com base nos resultados deste ano, e com as idades de médias de cada de partido, não será de todo descabido dizer que nos próximos 10 a 15 anos, se a tendência permanecer, o CHEGA poderá atingir o primeiro ou segundo lugar e o PS por sua vez descer cada vez mais em pontos percentuais. Com a descida do PS é bastante possível que o Bloco de Esquerda consiga cada vez mais votos de simpatizantes, uma vez que consegue espalhar as suas ideias a muitos jovens.
Contudo, não é só em Portugal que os partidos de direita ganham cada vez mais relevo. Aliás, seria mais fácil mencionar os países em que não aderiram à ascensão destes partidos. Este tema é de extrema importância quando estamos com as eleições europeias à porta. Portugal tem 21 assentos no hemiciclo de Estrasburgo.
O PS, que conseguiu o maior número de cadeiras ao Parlamento Europeu nas últimas eleições, tem como cabeça de lista a antiga Ministra da Saúde Marta Temido que ganhou projeção com o COVID-19. Como principal adversário terá Sebastião Bugalho de apenas 28 anos, escolhido pela AD. A idade de Sebastião Bugalho prova que para a AD a idade é só um número e que é possível sim um jovem ter um papel importante na política. A AD tenta atrair os votos da geração mais nova que poderá ser decisiva nestas eleições.
As eleições europeias de 9 de junho poderão marcar uma nova viragem na Europa, nomeadamente nas matérias do clima e da imigração. Num estudo feito pelo European Council on Foreign Relations, os partidos de direita e extrema-direita poderão atingir a maioria. O Partido Identidade e Democracia (ID) e o Partido dos Reformistas e Conservadores Europeus (ERC) poderão ser os partidos com maior ascensão no Parlamento Europeu. Por outro lado, é possível que o Partido Popular Europeu (PPE), partido da família do PSD, e a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), onde estão afiliados os eurodeputados do PS, sejam os maiores derrotados.
Como podemos observar, o crescimento da extrema-direita não ocorre só em Portugal, mas sim em toda a Europa. E acredito que um dos motivos seja a sua normalização (devido também ao cada vez maior número de simpatizantes) e a consequente diminuição da censura social. Neste aspeto, acho bastante positiva, não a subida de eleitores, mas sim a normalização e a diminuição da censura social. Afinal, numa democracia, o cidadão tem de ter a liberdade para escolher a sua ideologia. As linhas vermelhas na política são algo bastante negativo e até, de certa forma, antidemocrático.
Ao cidadão, cabe sim, o direito de escolha, mas também o dever cívico de votar. Posto isto, acabo por promover e apelar ao voto no dia 9 de junho para dar continuidade ao projeto europeu, que seguirá o rumo que os eleitores quiserem.