A escola, enquanto instituição fundamental para a formação do indivíduo e para a coesão social, deve funcionar com base em princípios de equidade e organização, garantindo que todos os alunos tenham acesso às mesmas oportunidades de aprendizagem. No entanto, assistimos a uma crescente tendência para a individualização das necessidades, com alguns encarregados de educação a solicitarem a adaptação dos horários escolares às atividades extracurriculares dos seus filhos. Esta inversão de lógica, em que o individual se sobrepõe ao coletivo, compromete não só a organização e o regular funcionamento do sistema educativo, mas também a formação de cidadãos responsáveis e conscientes do seu papel na sociedade.

É inegável a importância das atividades extracurriculares para o desenvolvimento integral dos alunos. Contudo, estas devem complementar o ensino formal, e não o contrário. Adaptar os horários escolares às necessidades individuais gera desigualdades e dificuldades logísticas, prejudicando a maioria dos alunos e o funcionamento da própria escola.

Esta tendência reflete uma sociedade cada vez mais individualista, onde o bem-estar individual se sobrepõe ao bem-estar comunitário. Sustento esta opinião em Zygmunt Bauman, que refere como a sociedade contemporânea caracteriza-se pela fragilidade dos laços sociais e pela procura incessante pela satisfação individual, e Lipovetsky, que também aborda o narcisismo e o hedonismo que marcam a nossa época, onde o indivíduo se torna o centro das suas preocupações, descurando o seu papel na comunidade.

A escola tem o dever de contrariar esta tendência, promovendo valores como a solidariedade, a cooperação e o respeito pelo bem comum. Deve, por isso, resistir à pressão para a individualização dos horários, reafirmando o seu papel na formação de cidadãos responsáveis e conscientes dos seus direitos e deveres.

A equidade, enquanto valor fundamental da educação, exige que as decisões sejam tomadas em função do bem da maioria, garantindo a igualdade de oportunidades para todos os alunos. Adaptar os horários escolares a casos específicos cria precedentes e abre caminho a um sistema educativo fragmentado e desigual, onde o acesso à educação depende das vontades individuais e não do direito universal à educação.

É crucial que a escola, em conjunto com os encarregados de educação, promova uma reflexão sobre o papel das atividades extracurriculares e a importância de estas integrarem-se no horário escolar e não o contrário. Só assim poderemos garantir um sistema educativo justo, equitativo e capaz de formar cidadãos responsáveis e preparados para os desafios da vida em sociedade.

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