A ironia da vida manifesta-se na promessa de eternidade que nos é oferecida pelas religiões e pelas doutrinas espirituais. Essa promessa, que além de ser fonte de esperança e consolo, deveria trazer sentido ao quotidiano do ser humano, torna-se um engodo falacioso que nos distrai do tesouro supremo: a singularidade que é a nossa existência presente. A vida, com todas as suas nuances sensoriais e emocionais, é uma dádiva ímpar da natureza, um momento de consciência que nunca se repetirá nessa mesma configuração. No entanto, ao apegarmo-nos à ideia de outras vidas, incentivados por pressupostos religiosos e espirituais que nos são prometidos, deixamos de valorizar a única que temos.

Cada ser humano é um universo em si, uma conjunção irrepetível de experiências e sentimentos. A vida, como a conhecemos, é um evento raro e magnífico, um milagre efémero no vasto cenário cósmico. Contudo, a promessa de uma vida além desta, de uma continuidade pós-morte ou de reencarnações sucessivas, coloca-nos num estado de suspensão, uma espera ilusória que nos impede de viver plenamente o presente. Tolos, permitimos que essa promessa de eternidade nos paralise, transformando-nos em espectros que vagueiam por uma existência suspensa, desperdiçando o presente precioso que é a vida.

A verdadeira arte de viver não reside num hedonismo desenfreado, mas numa serenidade consciente. Devemos viver com plena atenção ao momento presente, com uma mente serena que não se deixa enredar nas teias do passado ou nos medos e dúvidas sobre o futuro. O passado deve servir como um guia, não como um carcereiro e o futuro deve ser um horizonte, nunca um abismo. É apenas no presente que a vida existe, de fato, e é só nele que que podemos viver a eternidade.

A vida eterna, portanto, não é uma promessa de infinitas existências, mas a profundidade de uma única vida vivida com intensidade e consciência. Cada instante é um universo, cada momento é uma eternidade em miniatura. Ao viver plenamente o presente, transcendemos o tempo e tocamos o eterno. Essa é a verdadeira ironia: na busca por uma eternidade além, perdemos a verdadeira eternidade que está e sempre esteve, presente, no presente.

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Viver verdadeiramente é um ato de coragem e de presença. É viver cada momento, com todas as suas dores e alegrias, sem nos deixarmos aprisionar pelo passado ou paralisar pelo desconhecimento que temos do futuro. A vida revela-se na sua grandeza quando estamos plenamente presentes, quando cada respiração é sentida, cada batimento do coração é ouvido e cada momento é vivido em plenitude.

Ao reconhecermos a preciosidade de cada instante, descobrimos que a eternidade não está à nossa espera num além distante, mas mesmo à nossa frente, no presente, como sempre esteve. A vida eterna alcança-se, vivendo cada dia, cada hora, cada minuto com uma consciência plena e serena. Este é o segredo que os sábios de todas as eras nos têm sussurrado:

“A eternidade não é um tempo infinito, mas a qualidade infinita de cada tempo.”

Viver verdadeiramente, é estar presente em cada momento, é ser consciente da unicidade maravilhosa que é existir. E nessa presença plena, encontramos a verdadeira vida eterna, uma vida que, na sua profundidade e autenticidade, transcende o tempo e toca o eterno humano.