Celebra-se hoje, dia 15 de Maio, o Dia Internacional da Família que, desde 1994 e por sugestão Assembleia Geral da ONU,pretende destacar a importância da Família como núcleo vital da sociedade, mas também sensibilizar e promover conhecimento relacionado com as questões que impactam a estrutura familiar.

Reconhecemos, na celebração deste dia, três pontos centrais sobre a importância da Família: 1) é o lugar privilegiado para a construção de vínculos potenciadores e protetores do desenvolvimento humano; 2) é o espaço para experienciar a proteção e segurança que permitem ao indivíduo crescer mais resiliente; e, 3)  edifica uma rede de relações humanas que – diferente de todas as outras – se destaca pelo significado pessoal único que lhe atribui cada um dos membros e a própria família enquanto grupo.

Paralelamente, e por ocasião do Ano “Família Amoris Laetitia”, o Papa Francisco coloca o foco nas principais dificuldades e desafios com que as Famílias se confrontam. Desde aspetos estruturais e socioeconómicos, como a migração forçada que separa famílias (como neste contexto específico de guerra em que vivemos), a condições de vulnerabilidade, como a violência doméstica, à fragilidade de tantos relacionamentos que parecem assentar numa cultura do efémero e do descartável, aos efeitos do stresse nas famílias e à solidão a que tantos estão votados.

Neste olhar de Francisco, ocupa-nos de modo especial a desconstrução da Família e o investimento social que vem sendo feito na autonomia, na liberdade individual e na autocracia, mais do que no compromisso, na interdependência e na dedicação à solidez familiar. Ocupa-nos também a fragilidade, ou mesmo ausência, de políticas sociais, económicas, laborais, legais, que sejam verdadeiramente “amigas da Família”.

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Socialmente, importa recordar que cada Família é um sistema dinâmico em permanente construção. Não nasce acabada, sendo certo que o que acontece a cada um dos membros influenciará os outros. Cada Família não é apenas aquilo que é, mas tudo o que pode vir a ser. Para além das relações presentes, encontra-se em cada Família uma linha (in)visível que liga gerações e sonha a continuidade de uma narrativa partilhada. Encontram-se ainda, a par da intimidade e coesão que congregam histórias individuais, valores de transcendência e generatividade, potenciando que o grupo familiar não se feche em si mesmo mas contribua de forma única para o Mundo.

Não existe uma forma única de ser Família. Mas, para além das diferenças, dar vida à própria Família continua a ser uma motivação universal e, porventura, dos maiores desafios que se colocam ao ser humano: pelos desafios permanentes, mas mutáveis, que a acompanham desde o primeiro dia; pelas inalienáveis tarefas, exigentes e consequentes; pela reciprocidade, relevância e impacto de cada escolha; pela profunda responsabilidade com que importa olhar o caminho.

Ainda que muito possa ter mudado, cremos que o perfume da Família radica naquele olhar que vislumbra cada uma na sua unidade e na sua complementaridade. Um olhar que valoriza os papéis de cada um dos cônjuges, que ampara o casal na missão educativa dos filhos, que consolida tudo o que de bom emerge da família atual. Mas também um olhar que cria terreno fértil para cultivar relações profundas e experimentar a alteridade, que ultrapassa dificuldades e reúne gerações, que reforça a dignidade de todos, em qualquer circunstância ou fase da vida. E ainda, assim cremos, que se abre aos outros e à sociedade, concorrendo para o bem comum.

Este é o tempo para aprofundar a compreensão da Família e a capacidade para ser resposta face aos desafios. Sem perder de vista “um ideal”, como refere o Papa Francisco, importa sobretudo estar atento e aberto à realidade rica e complexa das Famílias. Ciente desta realidade, a Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica, acaba de reestruturar o seu Mestrado em Estudos da Família. Sendo um ciclo de estudos original no contexto nacional, assenta num programa multidisciplinar renovado que pretende aprofundar o conhecimento científico e desenvolver linhas de investigação e intervenção no domínio familiar.

Mais do que ser “leve e líquida”, como refere Bauman, possa cada Família sentir-se sólida, estável e resistente, capaz de manter a sua forma, neutralizando os difíceis impactos do percurso. E que possa a ciência contribuir para tal.