Neste último mês de junho, a Europa foi abordada, como muitos gostam de dizer, de um suposto começo de uma guerra civil em França. Sendo que essa guerra seria travada entre europeus e imigrantes. Para partirmos de uma base, começo por dizer que a Europa e a União Europeia, enquanto fundadores dos princípios basilares da dignidade humana, devem acolher refugiados, ser uma estrutura que receba imigrantes da forma mais correta, legal e humana possível, e proporcionar a essas pessoas uma vida melhor do que aquela que encontram no seu país natal.

A ficção do “falhanço do multiculturalismo” é-o, pois, de facto, não falhou. O problema advém das redes sociais e do consumo rápido de conteúdo onde são partilhadas imagens de casos específicos que pretendem generalizar, para introduzir o pânico e o medo. A narrativa do “falhanço” é que está a existir uma “substituição populacional” e que os imigrantes vindos do Paquistão, Síria ou países africanos, irão substituir os europeus. Num ponto lógico e histórico, todos os europeus são descendentes de imigrantes africanos, por isso, esta intolerância em relação a imigrantes é um pouco paradoxal, pois estamos a ser intolerantes com os nossos próprios antepassados.

A partir do medo e do pânico estes extremistas conseguem desencadear na população a ideia de que o “multiculturalismo falhou”, e que apenas deveria existir uma religião na Europa, o cristianismo. Mais, dizem também que a sua religião está em risco pela falta de tolerância que existe para com os fiéis. Ora, é um pouco hipócrita alegar intolerância quando se é intolerante. O velho ditado português de “não fazer aos outros o que não queres que te façam a ti”, aplica-se muito bem nestas situações. O multiculturalismo preza pela liberdade religiosa e pela liberdade individual, todos devem ser livres de praticar as suas respetivas religiões.

Outra narrativa a desconstruir é o aumento da criminalidade devido a imigrantes. A criminalidade irá existir sempre, mas não por serem imigrantes a cometerem-na, caso assim fosse, por exemplo, em Portugal, pelo tempo já decorrido do aumento substancial de imigrantes no país, não existiria portugueses ou europeus presos, apenas imigrantes vindos de países do terceiro mundo. Como assim não o é, podemos concluir que há criminalidade pelo facto de serem indivíduos, e não por outro motivo qualquer.

Agora, se a pergunta é devemos controlar a imigração não pelo seu número, mas pela segurança de quem vive na Europa, sim devemos. Isso não implica que não se possa deixar entrar imigrantes, apenas que os Estados devem, na sua função principal, prezar pela segurança de todos nós (europeus ou residentes na Europa).

Os partidos moderados não se devem alhear de falar na imigração, não deveria ser um tabu, mas sim um tema principal. Dessa forma, não se daria palco para extremos terem o seu tempo para apresentar propostas degradantes para os direitos humanos e propostas que representam um retrocesso civilizacional.

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