Em Portugal, pouco se fala sobre a situação atual em Espanha. As eleições de 23 de julho deste ano deram a vitória para Alberto Núñes Feijóo, o líder do Partido Popular. No entanto, tal como aconteceu em 2015 com Pedro Passos Coelho, os Populares não conseguiram maioria para formar governo. Nessa perspetiva, Pedro Sánchez, o primeiro-ministro espanhol, aliou-se ao Sumar, tal como tinha acontecido na legislatura anterior. A grande novidade foi que, para além da extrema-esquerda, Sánchez fez um acordo com o partido que tem como principal bandeira a independência da Catalunha.

Vê-se agora manifestações em todas as grandes cidades de Espanha, contra o novo Governo de Sánchez. Pois, à revelia dos valores democráticos, se é que alguma vez os teve, e do Estado de Direito, Pedro Sánchez, aceita o apoio dos separatistas, em troca de uma lei de amnistia pelos atos cometidos por estes na realização do referendo (ilegal) sobre a independência da Catalunha em 2017.

Em Portugal, pela terceira vez nos últimos 25 anos, o Partido Socialista deixou a política portuguesa em crise e num pântano absoluto, em primeiro com António Guterres, depois com José Sócrates e agora com António Costa. Pela primeira vez na história portuguesa, um primeiro-ministro, em funções, é investigado pela justiça por crimes de corrupção. Não podemos deixar de pensar no historial político de António Costa e ver as semelhanças com José Sócrates já que, Costa, foi secretário de estado e ministro dos diversos governos deste último. As semelhanças são acentuadas, colegas de governo e o mesmo partido, o Partido Socialista.

Em nada estes casos ajudam à credibilidade da justiça, fazendo parecer que alguns têm caminho livre para o desrespeito pelo Estado de Direito. É assim que os extremos ganham força, de esquerda ou de direita, conseguem apelar ao sentimento de injustiça e de desilusão dos portugueses em relação ao país e à política, e canalizá-la numa votação massiva.

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Portugal, por um lado, e Espanha, por outro, não podem ser governados por pessoas e partidos que não sabem quando são derrotados nas urnas, por pessoas e partidos que não têm apreço algum pelo estado de direito e pela democracia. Muitos se esquecem que somos um país envelhecido e são as novas gerações que vão herdar este país desacreditado.

Portugal e Espanha sempre estiveram em sintonia com as mudanças políticas. Francisco Franco, ditador espanhol que saiu vitorioso da Guerra Civil, entrou em funções como Caudilho em 1936, três anos depois de Salazar em Portugal. Em 1978 entrou em vigor a nova Constituição de Espanha que devolvia a democracia ao país, apenas dois anos depois de Portugal ver a sua atual constituição aprovada. Em 2015, António Costa chegaria ao poder através da Geringonça, e apenas três anos mais tarde era a vez de Pedro Sánchez, em Espanha. Agora, em 2023, vemos Portugal e Espanha enterrados em dúvidas sobre a justiça e sobre a democracia.

Para bem ou para mal, Portugal e Espanha, estarão sempre ligados umbilicalmente, sendo por isso imperativo a manutenção democrática nestes dois países.

Numa mensagem simples, nunca esquecer que mais rápido um país se transforma em ditadura do que em democracia. É, por isso, obrigação de todos, cidadãos, através do voto, e decisores políticos pelas suas ações, garantir que tal não acontece em Portugal ou em Espanha.

Nestas eleições que se avizinham, os partidos de centro e de direita devem aproveitar a oportunidade perdida pelo PS e fazer a transição de empobrecimento que aterrou sobre Portugal. Certamente que existem culpados pela crise e pelo pântano atual, mas o mais importante neste momento crítico para o país, a prioridade tem de ser melhorar a vida das pessoas, dos portugueses, porque se não é essa a grande finalidade da política, realmente não sei qual é.