Pela noite do dia 10 de março soube-se que a direita iria ter maioria na nova composição da Assembleia da República. No entanto, é necessário dar nota de alguns pontos que julgo serem relevantes. Em primeiro lugar, o PSD teve um resultado aquém da mudança que perspetivavam na campanha. No território nacional, PS e PSD elegeram o mesmo número de deputados, apenas com Nuno Melo e Paulo Núncio a AD fica com a maioria relativa. Pode dizer-se, por isso, que o verdadeiro vencedor da noite tenha sido o Chega, que quadruplicou o resultado de 2022.

Em segundo lugar, na mesma medida que a AD assume a vitória, esta tem o ónus de dar a Portugal um governo estável para os próximos quatro anos. Mas é necessário fazer uma questão: se não negoceiam com o PS nem com o Chega, vão negociar com quem? Por este motivo, mesmo com maioria relativa, a não ser que Luís Montenegro ou André Ventura cedam e defraudem os seus eleitorados, não vejo um final feliz para este governo.

Em terceiro lugar, estas eleições indicaram uma derrota massiva da esquerda. Os deputados perdidos pelo PS foram ganhos pelo Chega, o que demonstra o ressentimento, a desilusão e a frustração da população portuguesa mediante os resultados da governação socialista dos últimos oito anos. É necessário que os partidos moderados atualizem os seus discursos, propostas e postura para convencer os eleitores dos partidos extremistas que berrar mais alto não é solução para o país. Para aqueles que votaram por protesto no partido de André Ventura, que presumo ser a grande maioria, é preciso captá-los novamente, demonstrar-lhes que o caminho passa por posições coerentes e que funcionam noutros países.

Refiro-me ao Chega, mas também aos partidos da extrema-esquerda. Todos estes têm algo em comum, a demagogia e populismo, certamente, mas principalmente a utilização do medo como arma de arremesso. Por um lado, na extrema-esquerda, BE e PCP defendem a saída da NATO, da UE e do Euro, e, caso fossem cumpridas as propostas, seria destrutivo para Portugal a nível social, económico e militar. Há uma normalização destes partidos em Portugal, que não se verifica no resto da europa. Se fossemos à Polónia e disséssemos que no nosso país temos um partido abertamente comunista, os polacos nem saberiam o que pensar depois do caos, fome e perseguição que sofreram com a União Soviética. Por outro lado, na extrema-direita, a família europeia do Chega, o Identidade e Democracia (ID), deixa muito a refletir, principalmente devido à presença de pessoas como Marine Le Pen e Matteo Salvini. Ambos têm uma postura pró-Putin sendo distinta dos restantes Estados-Membro da União Europeia, o que coloca em causa o apoio à Ucrânia. É neste momento que penso na célebre frase que ouço desde pequeno: “diz-me com quem andas e eu digo-te quem és”.

Em quarto lugar, sobre o meu partido, a Iniciativa Liberal, o resultado obtido, não sendo o desejado, foi possível manter o grupo parlamentar, em circunstâncias que se poderiam mostrar adversas. Não obstante, como o objetivo de doze deputados não foi atingido, uma reflexão interna é necessária. Essa reflexão abrange não só os órgãos internos, mas também todos os membros do partido. São conhecidas diversas quezílias internas que decerto não contribuíram positivamente para o resultado da IL. Todos somos poucos, sendo que uns escolheram participar na campanha e dar o seu contributo e outros optaram por uma outra postura. Por isso, a esses deixo um repto: analisem a vossa participação (se a tiveram) e postura neste período eleitoral.

Para terminar, não poderia deixar de dar nota, também, que o número de jovens eleitos deputados no parlamento reduziu para dez. Dos 226 deputados já eleitos, 133 desses são repetentes e que apenas cerca de 4% são jovens. No entanto, 30% dos jovens já vive fora do país, e é espectável que a percentagem continue a aumentar se nada se fizer para alterar este que parece ser um destino irremediável.

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