Vivemos tempos de aparente acessibilidade. As pessoas estão mais próximas, os cargos parecem ao nosso alcance, e os convites para networking chegam com um clique. Mas nunca a pressão foi tão grande. Estamos numa corrida que parece não ter linha de chegada, onde o sucesso é medido em métricas invisíveis e a aceitação depende de estarmos constantemente ocupados ou visíveis.

Somos uma sociedade inquieta, que vive num ritmo acelerado, mas sem tempo para compreender o verdadeiro significado da pressa. Corremos para cumprir metas, mas muitas vezes sem saber exatamente onde queremos chegar. E no meio desta correria, caímos na armadilha do julgamento. Julgamos quem acelera demais, como se a ambição fosse um pecado. Julgamos quem aprecia a calma de um café, como se o simples ato de parar fosse sinónimo de preguiça. Admiramos quem vive em reuniões e projetos, mas desdenhamos de quem escolhe um caminho mais lento e introspectivo, rotulando-o de improdutivo.

Portugal, com a sua alma coletiva e um espírito que se orgulha de empatia e hospitalidade, revela-se, muitas vezes, um país de paradoxos. Gostamos de nos apresentar como acolhedores, mas por baixo dessa imagem existe um peso enorme. Somos rápidos a apontar o dedo, a criticar quem faz demasiado e quem não faz nada. Cobramo-nos e cobramos aos outros. Exigimos que os empreendedores rompam barreiras, mas lamentamos que os salários sejam baixos e as oportunidades escassas. Acusamos os que ambicionam altos voos de viverem numa bolha, mas não deixamos de criticar quem escolhe ficar pelo caminho tradicional.

A geração dos 20-30 sente isso de forma visceral. Somos a geração com o maior acesso à informação, com uma infinidade de ferramentas e oportunidades à disposição. Mas nunca estivemos tão pressionados a traduzir esse acesso em resultados concretos, a transformá-lo em sucesso imediato. Nunca foi tão fácil ser visto, mas também nunca foi tão assustador. Há uma necessidade constante de parecer produtivo, ocupado, a construir algo. Mostramos a nossa vida como uma vitrina perfeita, mas por trás dela carregamos inseguranças, ansiedade e medo de falhar.

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Portugal é, talvez, uma terra de falsa acessibilidade. Parece que tudo está ao alcance, mas, na realidade, muito permanece fechado. A burocracia continua a ser um obstáculo para sonhos empreendedores. O investimento em inovação e talento é insuficiente, e as ideias muitas vezes não encontram espaço para crescer. Mas ao mesmo tempo, há uma resiliência única neste país, uma capacidade de resistir e tentar, mesmo quando tudo parece impossível. É uma terra de coração enorme, mas também de barreiras difíceis de ultrapassar.

Para esta geração, o desafio não é apenas lutar contra as barreiras externas, mas também contra as internas. Somos os primeiros a sentir o peso de uma sociedade que prega empatia, mas que frequentemente pratica julgamento. Vivemos sob a pressão de sermos tudo ao mesmo tempo – bem-sucedidos, autênticos, criativos, e tudo isto sem nunca parar. É um peso que nos esgota, porque a expectativa de perfeição está em toda parte: na carreira, na vida pessoal, nas escolhas que fazemos.

A crise que enfrentamos não é apenas económica, mas emocional, social e cultural. Vivemos numa era de possibilidades infinitas, mas o medo de falhar ou de não corresponder aos padrões impostos transforma essas possibilidades em fardos. A dúvida constante sobre o que é “certo” ou “suficiente” mina a nossa confiança e rouba-nos a liberdade de explorar caminhos alternativos sem medo do julgamento.

Talvez seja hora de questionarmos esta pressa que nos consome. Porque é que corremos? Porque é que julgamos tanto? Portugal precisa de mais do que empatia nas palavras. Precisa de ações concretas que tornem o futuro mais leve para quem o está a construir agora. Precisamos de um país que acolha os sonhos de quem quer ir mais longe, mas também respeite quem escolhe ficar onde está.

No final, a mudança que precisamos começa connosco, ao rejeitarmos o julgamento fácil e abraçarmos a compreensão. Só assim podemos tornar Portugal um lugar onde a ambição e a calma coexistem, onde ser jovem é uma oportunidade e não um fardo, e onde o futuro pode ser construído com menos pressa e mais humanidade.