As escolas são um espaço público de acesso comum a todos os cidadãos para que estes se formem a nível educativo, social e humano, procurando desenvolver habilidades que os permitam integrar-se holisticamente como homens e mulheres com um papel único na nossa sociedade. Na impossibilidade de retirar a fatalidade à dimensão familiar, porque ninguém escolhe onde nasce, as escolas continuarão a figurar como principal motor da promoção de igualdade, lutando para que todos possam iniciar a corrida ao som da mesma “pistola”. É então natural que se procure adaptar e ajustar os currículos de aprendizagem à evolução da sociedade, deixando que a progressão económica, científica e tecnológica possam ir pincelando as escolhas governativas no que à educação toca.

Numa perspectiva retroactiva e sem nunca deixar de agradecer a educação integral que tive, atrevo-me hoje a dizer que as escolas estão fortemente desconectadas de alguns desafios que se colocam na vida das gerações mais jovens. Desafios esses que, capitalizados com conhecimento sério e transparente, podem permitir desde uma reconfortante compreensão do mundo até à alavancagem de sonhos que sem o mesmo seriam apenas uma miragem irrealista. De forma ilustrativa, imagine-se um jovem que em 2025 frequentou uma disciplina de “impostos” no secundário e que uns anos mais tarde, já como adulto, não só é capaz de entender uma discussão partidária sobre o IRC como se lança na abertura de uma empresa beneficiando de um incentivo fiscal do estado sem recorrer a apoio de advogados.

Fazendo parte da geração millenial, sendo nesta que mais frequentemente me movo, são vários os temas onde se notam fragilidades gritantes de sabedoria que tantas vezes constituem barreiras ao crescimento pessoal e profissional. Sabendo que tais vulnerabilidades não foram colmatadas nos últimos anos, partilho alguns temas onde as escolas podem (e devem) formar os jovens, levando no limite a uma consciencialização das decisões pessoais de cada um:

Política / Correntes Políticas:  não, a direita não ignora os pobres e não, a esquerda não quer que a iniciativa privada acabe totalmente. Da direita à esquerda, os partidos seguem ideologias específicas, apoiando-se em correntes com uma história e um legado concretos. Isto traduz-se em projectos e formas de vida em sociedade totalmente distintas, e isso deve ser esclarecido e assimilado para se poder exigir, apoiar, desafiar e, porque não, criticar os partidos e os governos sempre que se tomam decisões que impactam as nossas vidas. Proveniente desta temática, o dever de voto deve ser sempre cultivado e o seu impacto compreendido, por mais que a classe política esteja descredibilizada e os cidadãos descrentes da mesma;

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Impostos / Subsídios: de que servem apoios de 125€ “one-shot” se depois todos os meses um cidadão com um salário médio/baixo na Europa está a pagar 37% entre IRS e segurança social? O que é o IVA e porque posso abater o IVA se tiver uma empresa em nome próprio? Há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos. Não deveríamos nós perceber o propósito de cada imposto e subsídio, como é que o governo português (e porque não um benchmarking com outros países) seleciona e implementa os mesmos e quais os pressupostos subjacentes a cada um deles? Nunca menosprezando a complexidade do tema, o domínio basilar do mesmo pode converter uma disciplina obscura num tema central e com um impacto transversal nas diversas dimensões da nossa vida;

Empresas / Finanças: a geração de valor na economia é feita maioritariamente por empresas, sejam elas públicas ou privadas. O processo de criação e gestão de qualquer negócio, desde uma grande empresa até ao mais pequeno comércio de rua, pressupõe o controlo de conceitos como receitas, custos, margens, lucros, dívidas, juro, salários, entre outros, antevendo uma constante tomada de decisão. É essencial os mais jovens entenderem a finitude intrínseca dos recursos e  perceberem como podem optimizá-los, sabendo que existe um conjunto de ferramentas, adquiridas através da literacia financeira, que lhes permitirão almejar chegar mais longe.

A busca pela liberdade começa no conhecimento individual de cada um. Acredito que quem se orienta por este princípio aumenta vertiginosamente as probabilidades de tomar decisões estruturadas e probabilisticamente mais bem sucedidas. A ignorância é, ao contrário do que se diz, a pior inimiga do Homem.