“Bom, determino que os senhores agentes da autoridade abram as galerias ao público”, disse, em desespero, o Presidente da Assembleia da República, sem se aperceber de que havia uma “dificuldade técnica de comunicação”. Este fenómeno constitui uma metáfora para a mensagem que procuro aqui veicular ao caro leitor: a Mão invisível do socialismo atua de forma incerta e obscura, mas perante os factos (técnicos) ela não pode nada, pois a força que a guia não sabe melhor. Após ler a notícia, ao ver as comunicações do governo sobre as previsões para o próximo ano, são um equivalente a dizer “Eu determino que haja crescimento económico em 2023”, contudo temo que o facto técnico possa não obedecer.

É que para isso acontecer, é preciso mais do que ajustamentos aqui e ali de impostos e meras redistribuições. É preciso mais do que retirar a uns para dar a outros, pois isso só mantém o que há, é preciso colaborar e alimentar o setor institucional que este governo tem vindo a desprezar, mas que ao mesmo tempo conduz o crescimento em Portugal: as empresas. Não ouso dizer que tenho na minha mão a chave para os problemas, mas posso dizer com confiança que não passa pela hostilização do setor privado.

Adam Smith, publicou em 1776 um livro em que introduziu o conceito da Mão invisível, a mão do livre mercado que através da perseguição dos interesses individuais por parte de cada cidadão o levavam a fornecer aquilo que a sociedade mais precisava. Em suma, esta mão invisível explicava a ordem observada por Adam Smith nos mercados que eram mais livres, não só apesar da falta de controlo central dos mesmos, mas precisamente pela ausência desse controlo.

Agora que já introduzi o conceito original, gostaria de falar um pouco sobre uma outra mão, desta vez refiro-me à Mão invisível do socialismo (Mão), que apesar da difícil deteção, exibe um padrão em Portugal. Neste caso, por socialismo refiro-me também à tomada de decisões (política) feita de forma centralizada. Esta forma de política imerge na burocracia, no saque fiscal sem nexo que vivemos, ou no Orçamento de Estado e é sobretudo feita em gabinetes fechados, com pouca ou nenhuma ligação às consequências sobre os resultados dessas mesmas decisões. Isto por oposição ao livre mercado, onde as decisões têm de ser tomadas no terreno, de forma descentralizada, e onde a ligação do decisor às consequências é tendencialmente plena. Contudo, tanto um como outro funcionam melhor ou pior consoante a ética dos seus protagonistas, que por definição se observa também no assumir das responsabilidades individuais de cada um.

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Na sua atuação, Mão empurra os seus mais leais servos para a fogueira quando necessário, para se conservar a si mesma. É um padrão que temos vindo a observar nas demissões do governo, que parecem seguir um processo obscuro, de quem foi demonstrado como incompatível naquele período em particular. (O caso de Miguel Alves foi notório, pois quando se expressou discriminado por ser de Caminha ele parecia referir-se a este processo obscuro). Visto que todos somos pecadores, alguém terá sempre culpa no cartório, e esta Mão sabe bem disso, pelo que basta quem a conduz selecionar um alvo, e a culpa, seja ela qual for, servirá de munição. E assim, a Mão garante o seu lugar no poder o mais possível. Do ponto de vista do utilizador, embora não tenha conhecimento, só posso imaginar o inferno que será viver debaixo desta máquina de tortura, e nisto incluo o topo da cadeia, que se subjuga a esta máquina de forma voluntária.

Na economia, contudo, já posso falar mais à vontade: e posso garantir, como muitos outros, que onde esta Mão está presente, a tortura é inegável. É que, caro leitor, quando ela se move nos mercados, fá-lo de forma perversa, executando precisamente o contrário da intenção de quem a conduz. Um exemplo disto é o mercado da habitação, onde o aperto desta Mão sobre os senhorios (proprietários), justificado pela ajuda aos mais desfavorecidos, deixa os primeiros, por consequência, sem vontade de investir e os segundos sem casa. Levando a sua vontade ao limite, esta Mão destruirá qualquer mercado em que toque, e fará o contrário da mão invisível detetada por Adam Smith: em vez de levar os interesses individuais a promover o bem da sociedade, fornecendo aquilo de que ela mais necessita, levará os interesses coletivos a promover o fim da sociedade, fornecendo uma retórica que apazigua as massas e, mais importante, uma elite intelectual que elas seguem, mas que disfarça um mundo real onde se observa um vazio de bens e serviços, isto é, a miséria. Esta última constatação observa-se bem na degradação dos serviços públicos, que se deterioram dia após dia: por um lado, os servos da Mão dizem que tudo estão a fazer para repor os serviços, por outro as suas próprias políticas (decisões) lançaram a Mão sobre esses serviços, danificando-os.

Na sua lealdade, segundo a conta geral do estado, os servos da Mão acudiram à Sua exigência de inserir, 1149 milhões de euros no Novo Banco em 2019, 1200 milhões de euros na TAP em 2020, mais 640 milhões na companhia aérea em 2021 entre outras despesas, querendo com isto demonstrar apenas um pequeno exemplo do que foi feito com os recursos nacionais que permitiam alguma mudança/investimento estrutural, como, por exemplo, a redução de dívida ou o investimento em empresas mais produtivas. Em vez disso, a Mão levou os nossos preciosos recursos a empresas que os seus servos nos vendem como se fossem cisternas, mas que se revelam poços sem fundo. O mais curioso, é que para 2023, agora que se avizinham tempos desafiantes, esta Mão já exige outro tipo de decisões, e, portanto, o foco do governo em 2023 será a redução da dívida, com uma almofada financeira prevista de 8800 milhões. Adicionalmente, a Mão começa a pedir a privatização da TAP, torturando ainda mais os seus servos, que ainda há dois anos a defendiam lealmente, justificando a todo o custo a nacionalização da mesma.

Esta Mão tem uma longa história e requer algum estudo cuidado. O que sabemos hoje, é que tem servos muito leais, dos quais ela se alimenta para poder operar. Sabemos também que ela já destruiu a nossa economia várias vezes no passado (levando o país à bancarrota por três vezes). Penso que para retirarmos esta maldição que paira sobre Portugal há umas décadas temos de fazer desta Mão, e não dos seus servos, o nosso alvo, pois sabemos bem como ela arranja sempre novo sustento. Para os que confundem o Estado com a Mão, sublinho que é possível haver um Estado sem socialismo, da mesma maneira que é possível haver um mercado regulado pelo Estado, pois o socialismo é apenas uma de muitas lógicas que pode conduzir um Estado, e que no nosso caso o tem tornado disfuncional, e a minha leitura é que só e apenas após a remoção da Mão é que o nosso Estado pode ser funcional. No fundo, tudo o que peço, caro leitor, é que não sirva esta Mão.