Sou autarca em Oeiras e presidente de uma associação humanitária de bombeiros voluntários na minha terra.

Para uns, serei porventura mais um corrupto, um aldrabão, ou alguém que se aproveita do erário público, como ao longo dos anos uns e outros dizem aqui e ali e um pouco de todos os políticos. Felizmente, poucos.

Para outros, serei uma espécie de herói, porque lidero a minha associação em regime de voluntariado e é precisamente nos bombeiros, em especial nos voluntários, que encontramos talvez a última reserva moral da sociedade. Homens e mulheres, que por baixos salários ou mesmo a custo zero, avançam quando os outros fogem! Sejam eles dirigentes ou fardados, todos damos o nosso melhor.

Assisti, incrédulo, à não vacinação de todos os bombeiros e bombeiras de norte a sul do país, quando são eles e elas que estão na “linha da frente… da linha da frente”!

Mais de 90% das ocorrências em matéria de proteção civil são resolvidas pelos bombeiros. São eles o princípio e o fim da linha, sendo os primeiros a ser chamados para quase tudo e de novo chamados quando nada nem ninguém funcionou.

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Foi, pois, um ultraje, não serem os primeiros a ser vacinados, quando todos os doentes Covid, antes de chegarem aos médicos e aos enfermeiros, são levados por eles. E quando, necessariamente, ao transportarem inúmeros outros cidadãos com diversas patologias, não só correm riscos sérios, como podem eles mesmos ser portadores e transmissores do vírus a quem ainda o não tem.

Agora, recebo a notícia de que “políticos irão ser vacinados ao mesmo tempo que eles”.

É, sem dúvida, o fim da moral na política. É o fim de um tempo, em que os líderes se arriscavam em nome do seu povo, em que quem lidera estaria disposto a morrer em nome de uma causa e de uma nação se preciso fosse.

Bombeiros; enfermeiros; médicos; forças de segurança; militares e funcionários de lares são prioritários. Mas também os das creches e dos jardins de infância; os professores; os funcionários das autarquias que garantem o funcionamento de toda uma cidade; os empregados dos supermercados e das cadeias de abastecimento e tantos, tantos mais!

Lembro ainda todos os membros dos grupos de risco, os nossos velhos e tantos profissionais que nos alimentam o sonho, celebram a cultura de um povo inteiro e lidam com aglomerados aqui e ali.

Não compreendo esta decisão. A sociedade precisa de exemplos, naturalmente não precisa de mártires, mas precisa urgentemente de inspiração, de união! Precisa de ter cautela, de tomar as devidas precauções, mas de lembrar que o “político é apenas mais um, entre iguais”. É o povo que o elege, é do povo que eles emanam!

Se algum dia isso mudasse, muito do que acredito deixaria de fazer sentido. Obviamente, muitos dos que estão na liderança política na gestão da pandemia deverão ser vacinados. Mas apenas se pela idade ou por pertencerem a um grupo de risco estiverem incluídos nas prioridades. Jamais pela função que ocupam!

Estarei até ao fim nesse combate. Não aceitarei jamais ser considerado prioritário, em qualquer situação.