Confesso que fiquei surpreso quando li o texto da Joana Bento Rodrigues. E fiquei ainda mais surpreso quando li qual era o ponto que o texto queria referir. A autora, pretendendo manifestar-se contra a nova lei da paridade, e contra o feminismo, refere o papel social e as escolhas da mulher. Contudo a sua argumentação não é a melhor, sendo totalmente falaciosa e sem base concreta alguma.

A autora parte do pressuposto que conhece bem as mulheres, ou a “mulher comum” e, ao longo de todo o texto vai descrevendo esta mulher que “idealiza”. Só que nem sempre esta corresponde à realidade factual.

Vejamos porquê.

Começa a autora por definir aquelas que são as características mais belas das mulheres (e na ótica da colunista, transversais a todas as mulheres).

A primeira, no potencial feminino, reduz a mulher a uma dona de casa. Somente tenho a dizer à autora que tenho amigas que detestam arrumar a casa. Serão elas menos femininas? E digo que tenho amigos que acham sua missão arrumar a casa; e fazem-no melhor que muitas raparigas — terão eles este “potencial feminino”?

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A segunda, no potencial matrimonial, reduz igualmente a mulher a dona de casa, podendo até ter esta uma profissão, desde que não afete a sua actividade em casa, colocando-se à disposição do marido — gostando até de ganhar menos que este, uma vez que se empenha menos na carreira e mais na casa. Bem, antes de mais tenho a dizer à autora que em minha casa a minha mãe é uma “dona de casa” mas nunca descuidou a profissão, e até recebe mais que o meu pai no emprego. E, esquece a autora, que não pode haver igualdade nos casais, de ganhos iguais, e na divisão das tarefas domésticas.

A autora fala ainda em casos que fogem ao que ela “estabelece”, dizendo que não são menos importantes que os primeiros. Com efeito, fico sem perceber a necessidade da generalização, se ela reconhece que os papeis se invertam. (Sem, contudo, a autora falar em casos de famílias homoparentais, e monoparentais; ou seja, o potencial matrimonial – familiar – da mulher só se demonstra num casamento heterossexual. Para não falar de que estabelece que a mulher tenha de formar família e não possa viver solteira e feliz da vida. Mas isso já são divagações minhas.)

Por fim fala a autora no potencial maternal, pois diz que a mulher tem vocação natural para ser mãe (ou a “melhor tia”, “melhor madrinha”). Sobre isto teço duas considerações: a primeira, é se a mulher é assim tão “boa mãe” porque é tão “má madrasta”? A segunda é interrogar-me sobre os casos em que as próprias mulheres abandonam e maltratam os filhos, E tem de ser necessariamente tia ou madrinha? Não pode ser só a “amiga da mãe”?

A autora continua o texto dizendo que a mulheres se preocupam mais com a família do que os homens, e por isso não investem na carreira. Mas será que as mulheres e os homens não podem preocupar-se com a família de igual modo? E não podem ambos investir na carreira de igual modo? E aquelas que não tem família?

Depois afirma que as mulheres já têm uma presença tal nas profissões liberais e de destaque que a sua presença “já ultrapassa de forma preocupante a masculina!” Acho que a preocupação da autora será, certamente, não termos tantos homens competentes como mulheres. Ou será que é preocupante termos mais mulheres competentes, do que homens?

Em suma, o texto reduz a mulher a ter apenas um papel social, e a autora cai na generalização de, sem ter algum dado estatístico concreto, afirmar que todas as mulheres são como ela pensam. (Ou são como ela quer que sejam). Que as mulheres são diferentes dos homens em certos aspectos, concordo. Que as mulheres são livres para serem o que quiserem, e que não podemos generalizar a “mulher comum”, ainda por cima sem nenhum dado em concreto, é uma questão de senso comum. Ou seja, que a Dra Joana tenha direito à sua opinião, tudo bem. Que eu não concorde de todo com a opinião dela, ou que para mim valha muito pouco por não se basear em nenhum facto ou dado concreto, também estou no meu direito.

Quanto à questão das leis das quotas, como meritocrata que sou, oponho-me manifestamente, pois estamos a dar lugar apenas ao “sexo” da pessoa e não à sua competência para exercer tal cargo. Mas isso trata-se de uma debate para outra época e outros termos.

Aníbal Fernandes
 Estudante de Direito, UCP Porto, 18 anos, militante do CDS