A Europa, outrora o farol do mundo, berço do pensamento crítico e epicentro de uma  civilização que moldou a modernidade, encontra-se agora num declínio insidioso, enredada  numa nova Era. Desta feita, porém, não são os inquisidores religiosos que lançam mão do  estandarte da ortodoxia, mas sim os arautos de uma tirania ideológica que se apresenta sob o  manto hipócrita da justiça social e da inclusão. Refiro-me, evidentemente, ao fenómeno do  wokismo, uma força aparentemente inofensiva, mas que opera como uma praga silenciosa,  corroendo os fundamentos do livre pensamento e da pluralidade.

Sob o pretexto de corrigir desigualdades históricas, o wokismo exige uma adesão  totalitária a uma nova ortodoxia cultural, sufocando qualquer forma de dissidência. Os  dissidentes não enfrentam a fogueira literal, mas sim a sua versão contemporânea: a censura  implacável, o ostracismo público e a destruição de reputações. Esta nova inquisição não precisa  de grilhões físicos; o medo de ser rotulado de intolerante, reacionário ou, pior, fascista, é  suficiente para assegurar a submissão.

Em Portugal, país de tradição humanista e de uma cultura que deveria valorizar o debate  de ideias, os sinais desta corrosão são cada vez mais visíveis. As universidades, que outrora  serviam de bastiões do pensamento livre e do espírito crítico, transformaram-se em laboratórios  de conformismo ideológico, onde se cultiva uma uniformidade asfixiante. Os media, cuja missão  deveria ser a de informar e iluminar a opinião pública, cedem cada vez mais ao papel de veículos  de doutrinação, reproduzindo narrativas unilaterais que não admitem contestação.

O ataque à linguagem, ferramenta essencial para a expressão e o pensamento, é talvez  o sintoma mais perturbador deste movimento. Palavras são reinterpretadas, conceitos são  distorcidos e os significados, até então partilhados, tornam-se voláteis. É como se o tecido da  realidade estivesse a ser continuamente rasgado e refeito de acordo com os caprichos da  ideologia dominante. Aquele que se recuse a adotar o novo léxico, que é simultaneamente um marcador ideológico e um mecanismo de controlo, é rapidamente ostracizado e marginalizado.

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As consequências deste fenómeno são devastadoras e ressoam nos mais diversos  domínios. A ciência, que deveria ser o farol da objetividade e da busca incessante pela verdade,  é agora instrumentalizada para servir agendas ideológicas, desfigurando-se no processo. A  história, cujo propósito deveria ser o de iluminar o presente através do entendimento do  passado, é reescrita, descontextualizada e distorcida para atender aos interesses do momento.  Até a arte, expressão suprema do espírito humano, é subjugada por critérios ideológicos que a  reduzem a mera propaganda, despojando-a de transcendência.

Mais grave ainda é o impacto social desta nova ideologia. O tecido da convivência  democrática, assente no diálogo e no respeito pela diferença, é substituído pela polarização e  pelo tribalismo. A sociedade fragmenta-se em blocos homogéneos, hostis uns aos outros, onde  a pertença ao grupo é ditada pela adesão incondicional a um conjunto de dogmas. Este cenário  de intolerância conduz à exclusão daqueles que ousam pensar de forma independente,  condenando-os ao isolamento social.

Este fenómeno não é apenas uma ameaça cultural; é uma crise existencial para a  Europa. A nossa herança civilizacional, construída ao longo de milénios, é tratada com desprezo,  quando não aberta hostilidade, por uma ideologia que despreza o passado e teme o futuro. A  Europa, que durante séculos simbolizou a tolerância, a diversidade e o progresso, está a perder  a sua alma.

Urge, por isso, uma reação firme e resoluta. A luta contra o wokismo não é uma querela  partidária ou ideológica; é uma luta pela própria sobrevivência dos valores fundamentais que  definem a nossa civilização: a liberdade de expressão, o pluralismo de ideias e o direito à  dissidência.

A história ensina-nos que as tiranias, por mais abrangentes e opressivas que sejam,  contêm em si as sementes da sua própria destruição. A verdade, por mais que seja reprimida,  encontra sempre um caminho para a luz. O momento de despertar é agora. A Europa precisa de  nós – cidadãos livres e conscientes – para preservar o seu legado e assegurar que as gerações  vindouras herdem uma civilização digna desse nome.

O combate não é fácil, mas é necessário. A liberdade, como bem supremo, vale cada  esforço. Que tenhamos a coragem de enfrentar esta nova tirania e de reerguer os alicerces da  nossa civilização.