Segundo a mais recente informação divulgada pelo Instituto Nacional de Estatísticas, a taxa de desemprego em Portugal estabilizou nos 6,1% no terceiro trimestre, mantendo-se inalterada face aos três meses anteriores e ao período homólogo do ano passado. Em simultâneo, a população empregada atingiu o seu valor mais elevado desde 2011, alcançando 5,1 milhões de pessoas. Vivemos, portanto, uma fase de quase pleno emprego. Em ciências económicas utiliza-se a expressão “pleno emprego” para uma realidade na qual, entre outras caraterísticas, a taxa de desemprego se encontra abaixo dos 5%.

Longe vão os tempos em que a taxa de desemprego nacional rondava os 15% e flagelava de forma transversal a sociedade portuguesa. Atualmente, encontramo-nos num polo oposto onde se verifica escassez de mão de obra e a necessidade de um saldo migratório positivo para colmatar essa lacuna. No entanto, ultrapassada que está a epidemia de desemprego do período pós-troika, somos confrontados com outra fatalidade igualmente dramática: a pandemia dos baixos salários. Olhando àqueles que são os valores praticados em território nacional é possível verificar que, em média, os trabalhadores portugueses recebem anualmente 22.933€. Os trabalhadores lusos recebem menos 10.000€ por ano que os trabalhadores espanhóis e menos 58.000€ que os luxemburgueses. De acordo com os dados divulgados pelo Eurostat, o salário médio anual ajustado a tempo inteiro na União Europeia foi de 37.900€, o que representa um crescimento de 6,5% face ao ano anterior. Para além do Luxemburgo, países como a Dinamarca e a Irlanda destacam-se também no topo desta lista, com salários médios de 67.600€ e 58.700€, respetivamente. De entre os 27, Portugal encontra-se na 19ª posição, sendo, portanto, o nono país com a média de salários mais baixa da União.

Apesar do aumento do custo de vida, a verdade é que se tem verificado também uma trajetória de crescimento salarial. Face ao ano de 2022, em que a média salarial se cifrava nos 21.131€ anuais, deu-se uma melhoria significativa. Tem existido, de facto, uma política de crescimento salarial motivada, por um lado, por um momento inflacionista e, por outro lado, pelas políticas de crescimento salarial assumidas pelos sucessivos Governos. O acordo de concertação social assinado pelo anterior Executivo e pelo atual, assumem o reforço dos salários como uma prioridade.

Ao longo dos últimos anos o repetido aumento do salário mínimo nacional tem levado a que o seu valor se aproxime cada vez mais do salário médio nacional. No entanto, essa proximidade de valores torna-se ainda mais evidente se olharmos àquela que é a mediana salarial. A utilização da mediana para este tipo de análise reveste-se de uma ainda maior pertinência, uma vez que permite ponderar justamente os outliers altamente positivos dos salários milionários. Desta forma, expõe a fragilidade do conceito de média salarial e evidencia uma mediana significativamente mais próxima do valor do salário mínimo e daquela que é a efetiva realidade das famílias portuguesas. Importa recordar que os valores disponibilizados pelo Eurostat são, na sua totalidade, brutos, e que tendo Portugal a oitava maior carga fiscal sobre o trabalho nos países da OCDE, a liquidez será ainda mais reduzida para os portugueses.

Mais do que o salário mínimo e o salário médio, importa aumentar o salário real dos portugueses. Importa aumentar a liquidez das famílias portuguesas e o dinheiro que trazem no bolso. Só dessa forma se pode dinamizar uma economia que se quer mais resiliente, estimular o consumo interno e promover o crescimento económico.

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