A esquerda europeia no Parlamento Europeu, tirando alguns eurodeputados mais extremistas, não é tanto uma forca regressiva como é a da direita radical. Porém, a sua matriz ideológica fá-los ser uma forca de bloqueio a medidas económicas (tal como o Euro) a parcerias público-privadas, à proteção da propriedade privada, a medidas de contenção orçamental e controlo de dívida, e à promoção da livre iniciativa.

Particularmente, os eurodeputados do Partido Comunista Português (PCP) em algumas questões de interesse para a UE e para os europeus, age como um partido extremista. Quando o Parlamento Europeu aprovou a resolução a condenação aos ataques do Hamas a Israel, incluído a necessidade de acautelar a situação humanitária em Gaza, a resolução foi aprovada no Parlamento Europeu com 92% dos votos, 4% de abstenção, e 4% contra, onde se incluíram os eurodeputados do PCP.

Quando o Parlamento Europeu reconheceu o Holodomor como um genocídio, a grande fome imposta aos ucranianos nos anos 30 por Stalin, e que causou a morte de mais de dois milhões de pessoas, a moção foi votada a favor por 507 membros do Parlamento, e 12 contra, incluindo os eurodeputados do PCP.

Quando o Parlamento Europeu aprovou uma resolução a condenar a invasão militar da Rússia à Ucrânia, pedindo sanções severas contra o regime de Putin, 705 membros do Parlamento votaram a favor, e só 13 votaram contra, novamente com os eurodeputados do PCP envolvidos. Uma resolução aprovada a condenar a Rússia como um estado patrocinador do terrorismo, devido a atrocidades e crimes de guerra cometidas por russos contra civis na Ucrânia, o PCP votou contra, com a justificação que são o Parlamento Europeu e a EU, juntamente com os Estados Unidos e a NATO, que “instigam e alimentam a guerra da Ucrânia”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Não é de estranhar que os dois eurodeputados do PCP são quem mais apoio dá ao Moscovo em votações no Parlamento Europeu. O jornal independente russo Novaya Gazeta reportou que no período entre 2019 a 2023, em vinte e duas deliberações relacionadas com sanções a Rússia de Putin, o PCP foi o que mais vezes votou contra ou se absteve.

A membro do Parlamento Europeu, Sandra Pereira, é a terceira eurodeputada mais pro-Putin, juntando-se assim aos partidos radicais e de extrema-direita, como são o partido da Marine Le Pen (RN) e o Alternativa para a Alemanha (AfD).

O PCP, no Parlamento Europeu, defende ideias que continuam a acreditar em soluções coletivistas naquela no que é uma economia mundial moderna. Continuam a defender, por exemplo, a “dinamização do setor público”, o ‘direito ao controlo’, por parte dos trabalhadores, sobre qual a utilização de fundos da UE, ou ‘sobre a gestão dos grandes grupos económicos e multinacionais’, ou a implementação de medidas que combatam a deslocação de empresas, ou de uma ‘rejeição’ de relações entre empresas privadas e serviços públicos.

Igualmente defendem a revogação da União Bancária, do Mercado Único de Capitais, de Tratados Orçamentais e Pactos de Estabilidade, numa perspetiva isolacionista e chauvinista, muito similar ao quer observamos nos partidos da extrema-direita e direita radical, ignorando os precedentes de má gestão de finanças estatais que levaram, por exemplo, a Portugal a precisar de ser resgatado economicamente por várias vezes.

Rejeitam também um aprofundamento da União Económica e Monetária, propondo adotar ‘medidas com vista à sua dissolução’, ou seja, o fim do Euro, com ‘saídas negociadas’ da moeda única para uma ‘recuperação de soberania monetária e cambial’, o que lançaria Portugal para um choque económico do qual muito complicado recuperar

A nível de segurança interna da UE, incrivelmente, o PCP no Parlamento Europeu defende a que não haja um serviço de inteligência e informação de âmbito supranacional. Igualmente, acredita que deve haver uma rejeição da ‘militarização da EU’, o fim da Política Europeia de Segurança e Defesa, da Política Externa de Segurança Comum, e da Cooperação Estruturada Permanente, numa “lógica de rejeitar a EU como um bloco político militar imperialista”. Nade de novo aqui, uma vez que o PCP, também no Parlamento Europeu, defende a dissolução da NATO, seguramente porque todos estes sistemas de defesa devem ser desconfortáveis para Moscovo.

O PCP junta-se também a partidos como o de Orbán (Fidesz) que “rejeitam mecanismos de condicionalidade”, o que não deixa de ser curioso para um partido como este, porque muitos dos condicionalismos à Hungria acontecem por causa de Orbán atropelar valores que deviam ser caros para os comunistas. Igualmente, quer revogação de acordos comerciais com outros parceiros mundiais, que vão desde o Japão (por causa de ‘concorrência desleal’) até a África e Caribe (por causa da ‘exploração’ dos europeus desses países).

O PCP no Parlamento Europeu também defende algo que observamos no Grupo da Identidade e Democracia (ver parte 2 destas crónicas) onde está o partido Chega: o final da UE como a conhecemos, para existir no seu lugar um novo projeto de “cooperação de Estados Membros, soberanos e iguais em direitos”, algo que pode fazer sentido numa perspetiva Marxista, mas não no mundo real.

É muitas vezes repetido na imprensa e em comentadores nas redes sociais que o ‘projeto europeu está em perigo’. O projeto europeu está sempre em perigo. Essa é a realidade de um plano que incluí um número elevado de partes móveis, que são precisas de encaixar de uma forma democrática. Porém, a alternativa proposta por alguns dos eurodeputados deve preocupar todos aqueles que acreditam numa União de valores, de inclusão, de progresso económico e social.

Faz parte de todos os nós ter as ferramentas necessárias para explicar àqueles que votam nos extremos, que a solução que estes apresentam irá prejudicar