A ciência climática atual e a análise histórica dos padrões climáticos convergem para uma conclusão incontornável: a atividade humana tem sido um fator determinante no aquecimento global. Desde a revolução agrícola, há cerca de 8000 anos, até à industrialização massiva dos séculos XIX e XX, a nossa civilização tem alterado de forma determinante o clima da Terra. As evidências científicas, somadas ao estudo das antigas civilizações, oferecem-nos lições importantes sobre a relação entre o homem e o meio ambiente.
A influência humana no clima
A transição para uma sociedade agrícola, marcada pela domesticação de plantas e animais, teve um impacto profundo no clima. A prática da queima de florestas para criação de terras agrícolas aumentou significativamente a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Estudos indicam que os primeiros arrozais, criando vastas áreas inundadas, contribuíram para o aumento das emissões de metano (CH4), um gás de efeito estufa com um impacto climático 25 vezes maior que o CO2. Esses eventos, ocorridos há cerca de 8 mil anos, deram início a uma modificação climática que se intensificou com o crescimento da população humana e o avanço das tecnologias agrícolas.
O advento da revolução industrial no século XVIII marcou um ponto de inflexão no impacto humano sobre o clima. A queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, libertou grandes quantidades de CO2, acelerando o efeito estufa natural. Nos últimos 150 anos, a temperatura média global aumentou cerca de 1,1 °C, um ritmo de aquecimento sem precedentes na história geológica do planeta. Este aumento deve-se, não só à industrialização, mas também à desflorestação provocada pela atividade agropecuária e a urbanização, que continuam a transformar vastas áreas naturais em ambientes antropizados.
O papel dos Gases de Efeito Estufa (GEE)
As evidências científicas acumuladas nas últimas décadas confirmam que os gases de efeito estufa, especialmente CO2 e CH4, são os principais responsáveis pelo aquecimento global. A concentração de CO2 na atmosfera aumentou de aproximadamente 280 partes por milhão (ppm) no período pré-industrial para mais de 410 ppm atualmente. Este aumento está diretamente correlacionado com a atividade humana, especialmente a queima de combustíveis fósseis e a desflorestação, conforme evidenciado por relatórios do IPCC e dados da NOAA e da Scripps Institution of Oceanography.
Os impactos do aquecimento global já são visíveis há várias décadas: degelo das calotas polares, aumento do nível do mar, eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, e alterações nos padrões de precipitação. Projeções futuras do IPCC indicam que, sem uma redução significativa das emissões de gases de efeito estufa, a temperatura média global pode aumentar entre 2 °C e 4,5 °C até o final deste século, com consequências catastróficas para os ecossistemas e a humanidade.
A urgência de ações concretas
Para mitigar os efeitos do aquecimento global, é essencial adotar uma série de estratégias diversificadas que abordem as múltiplas facetas do problema. A proteção dos biomas florestais e a reflorestação em larga escala deve ser uma prioridade, pois as florestas desempenham um papel crucial na absorção de CO2 e na regulação do clima. Além da proteção e reflorestação das florestas, a restauração de ecossistemas, como manguezais, pradarias, ambientes ribeirinhos e marinhos, também tem um impacto significativo na captura de carbono e no aumento da resiliência a eventos climáticos extremos.
A transição para fontes de energia renovável é igualmente crítica. Investimentos em energia solar e eólica não só reduzem as emissões de CO2, mas também promovem a segurança energética e a criação de uma matriz produtiva mais verde para a indústria. Tecnologias emergentes, como a energia das marés, o hidrogénio verde e o armazenamento de energia, devem ser exploradas e desenvolvidas para complementar a matriz energética sustentável.
Uma outra área crucial de intervenção é a agricultura sustentável. Para impulsioná-la, é fundamental incentivar práticas que promovam um novo paradigma. Isso requer investimentos massivos em investigação e desenvolvimento (I&D) em biogenética, visando o surgimento de novas espécies e soluções mais adaptadas à realidade climática atual. Práticas como as agroflorestais integradas e a rotação de culturas podem aumentar a resiliência das terras agrícolas às alterações climáticas, melhorar a saúde dos solos e reduzir a dependência de fertilizantes químicos.
Políticas públicas e educação
Governos e instituições internacionais devem implementar políticas rigorosas e eficazes para a redução das emissões de gases de efeito estufa. A criação de regulamentações que incentivem a economia circular, a promoção de transporte público eficiente e a penalização de atividades poluidoras são passos essenciais. Algumas dessas, embora já definidas em medidas e políticas públicas, como no caso da União Europeia, através do Green Deal, precisam, ainda assim, de planos mais concretizáveis e operacionais em cada uma destas temáticas.
A educação ambiental é fundamental para sensibilizar a população sobre a importância da sustentabilidade e incentivar comportamentos mais ecológicos. Iniciativas educativas devem começar desde a infância e estender-se ao longo da vida, promovendo uma compreensão profunda das questões ambientais e incentivando práticas sustentáveis no cotidiano. Programas de consciencialização comunitária e campanhas podem reforçar a mensagem e mobilizar ações coletivas.
Enquanto essa sensibilidade não chega através das vontades voluntárias individuais e coletivas, é urgente e essencial criar sistemas de incentivos às boas práticas ambientais. Sistemas que quantifiquem e remunerem pela eficiência nos consumos energéticos, nos recursos hídricos, nas práticas de mobilidade sustentável e na reciclagem são essenciais para criar padrões de comportamento generalizado. Incentivos fiscais indiretos, como taxas, muitas vezes não são percetíveis pelo senso comum, levando à inoperância por falta de perceção do impacto dessas práticas ou da falta delas.
Conclusão
A história e a ciência climática deixam claro que a humanidade tem sido o principal agente das alterações climáticas desde há 8 mil anos. A escala e a rapidez das mudanças climáticas modernas exigem uma resposta global coordenada e urgente. Apenas através de ações coletivas e coordenadas à escala global, que incluam reflorestação, transição energética, agricultura sustentável e políticas públicas eficazes, podemos garantir um futuro habitável para as próximas gerações, a partir de um estado de maior consciência e boas práticas das atuais gerações.
Referência: IPCC AR6, 2021(Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change)