No Dia Mundial do Tumor Cerebral, que se assinala esta segunda-feira, dia 8 de junho, é fundamental lembrar que, na presença de algum dos seus sintomas, o doente deve recorrer a apoio especializado, nomeadamente a uma consulta de neurocirurgia. Apesar da pandemia, os hospitais são lugares seguros e um diagnóstico atempado pode fazer a diferença. 

Existem três principais sintomas que se podem associar aos tumores cerebrais. As dores de cabeça – cefaleias – são o sintoma mais frequente e estão habitualmente localizadas na região cerebral atingida, aumentando progressivamente de intensidade. Por vezes, surgem por aumento da pressão dentro do crânio, passando a ser difusas – e costumam agravar-se quando o doente se deita, podendo associar-se a vómitos.

A segunda forma de apresentação é pelo aparecimento de crises de epilepsia, por irritação do tumor em determinadas áreas do cérebro. Na maioria das vezes começam por surgir apenas num dos membros ou em metade do corpo, com ou sem perda de consciência. As crises de epilepsia tendem a ser mais frequentes em tumores menos agressivos. A terceira forma de apresentação é pelo surgimento de um défice neurológico, muitas vezes caracterizado por dificuldade na mobilização de um braço ou de uma perna, ou por alterações da linguagem.

É de extrema importância que, na presença de algum destes sinais ou sintomas, o doente recorra a apoio especializado, nomeadamente a uma consulta de neurocirurgia. Apesar da pandemia que atravessamos, os hospitais são seguros e as unidades de saúde já retomaram a sua atividade clínica programada, com procedimentos que garantem a completa segurança dos doentes. Da mesma forma, os doentes que estão a fazer tratamentos de radioterapia ou quimioterapia devem continuar os seus tratamentos, uma vez que a sua manutenção é fundamental para o bom desempenho final.

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Se não forem tratados a tempo, os tumores cerebrais interferem de forma significativa com a qualidade de vida dos doentes. O diagnóstico atempado, na maioria das vezes, permite um tratamento mais eficaz e com menor taxa de complicações.

Os tumores cerebrais estão agrupados por quatro graus de gravidade – desde as lesões benignas às lesões extremamente agressivas – e englobam três tipos distintos: os que crescem no interior do cérebro, os que crescem nas estruturas que o envolvem e aqueles que, embora crescendo no cérebro, são ramificações de lesões do resto do organismo, mais frequentemente do pulmão ou da mama.

Alguns tumores benignos podem apenas ser vigiados, não necessitando de qualquer tipo de tratamento. Nas lesões com mais agressividade, desde as lesões de baixo grau de malignidade às lesões malignas, o tratamento é fundamental já que vai permitir melhorar a qualidade de vida do doente, bem como aumentar o seu tempo de vida.

A cirurgia de remoção do tumor é normalmente o primeiro tratamento a efetuar. Permite a cura após a remoção completa dos tumores benignos e é o principal fator de prognóstico de tempo de vida nos doentes com tumores malignos. Há, agora, um conjunto de tecnologias que permitem aumentar a segurança da cirurgia, nomeadamente em tumores junto de áreas cerebrais que são importantes para a manutenção da integridade física do doente.

A utilização de ferramentas como a neuronavegação, que utiliza a ressonância magnética efetuada pelo doente para diagnóstico, permite que, previamente ao ato cirúrgico, o neurocirurgião possa fazer o planeamento adequado da cirurgia, escolhendo o melhor acesso cirúrgico para evitar lesar as áreas cerebrais ativas.

Durante a cirurgia é também possível fazer o mapeamento e a estimulação destas áreas cerebrais, tornando a cirurgia segura, uma vez que se identifica de forma muito pormenorizada as regiões cerebrais responsáveis pelas diferentes funções, como a linguagem ou a motricidade. De forma a garantir uma maior segurança na remoção do tumor, o cirurgião pode ter o doente acordado intraoperatoriamente para ir realizando as tarefas à medida que vai sendo feito o mapeamento das funções cerebrais e a sua estimulação.

Num subgrupo de tumores malignos, é importante a utilização de imunofluorescência intra-operatória, uma técnica que permite ver as células tumorais a apresentarem uma cor rósea intensa, fenómeno que não acontece nas células cerebrais normais. A utilização da fluorescência aumenta as taxas de remoção completa dos tumores, o que é importante porque se associam a tempos de vida maiores. Noutros tumores, a ecografia intraoperatória é uma ajuda importante. A disponibilidade de todas estas técnicas é imprescindível em qualquer centro que assegure o tratamento de tumores cerebrais, garantindo uma segurança acrescida aos doentes.

Muitos dos tumores cerebrais malignos, após a sua remoção cirúrgica, vão necessitar de tratamentos adicionais de radioterapia e quimioterapia. Com a introdução das alterações genéticas e moleculares na classificação dos tumores cerebrais, foi possível desenvolver tratamentos específicos dirigidos a estas alterações. Estes tratamentos já são muito comuns noutros tipos de tumores. Além da quimioterapia clássica, a utilização de outros medicamentos tem trazido uma nova esperança na melhoria da qualidade de vida.

Os desenvolvimentos ocorridos nos últimos anos permitem hoje encarar com mais esperança, maior segurança e melhor prognóstico o tratamento dos doentes. Um diagnóstico atempado pode fazer a diferença. Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje.