O anúncio da criação da Superliga não me apanhou de surpresa. Surpreendeu-me foi que os clubes organizadores não tivessem sido capazes de prever a reação popular que, acredito, teria sido distinta, caso estes clubes tivessem começado por anunciar a não participação na próxima Liga dos Campeões, explicado a discordância com o modelo atual e colocado condições para “voltarem”.

Eu tenho uma enorme admiração pela organização dos principais campeonatos desportivos nos EUA, mas os donos do Liverpool e do Manchester United, ao quererem, de certa forma, replicar este modelo na Europa, não tiveram em conta as diferenças históricas e culturais. O “we heard you” de John Henry, ao pedir desculpa aos adeptos do Liverpool, mostrou humildade e grandeza, mas até fez pena vê-lo em alguém com tanto traquejo.

O facto de a conservadora, autoritária, pouco transparente e monopolista UEFA sair deste filme como a “boa da fita” e defensora do povo, deixa-me desconfortável e só espero que aproveitem a oportunidade para, nomeadamente, garantir uma maior distribuição das receitas das provas que organiza.

Os norte-americanos que estiveram na base desta Superliga têm razão numa coisa: o futebol europeu é mesmo o desporto mundial do futuro (eles, por exemplo, não conseguem exportar os “seus” desportos), mas tem que ser melhorado. Deixo aqui algumas ideias, algumas baseadas no que se passa nos EUA (uma por cada um dos clubes fundadores da fracassada Superliga):

  1. Limitação do número de equipas dos campeonatos nacionais a um máximo de 16, para garantir maior competitividade e um calendário menos apertado para os participantes nas competições europeias;
  2. Existência de um teto salarial e de um teto preço de transferências, que controle o aumento das disparidades orçamentais;
  3. Obrigatoriedade da centralização dos direitos televisivos por país (quase já só falta Portugal) para dar recursos e capacidade competitiva aos mais pequenos;
  4. A Liga dos Campões com o formato competitivo da Liga das Nações, com os melhores a jogarem tendencialmente mais vezes entre si, mas havendo a possibilidade de descidas e subidas;
  5. Aumento da percentagem do mecanismo de solidariedade por formação de atleta de 5 para 10% do valor total de cada transferência, de forma a promover a aposta na formação e os clubes dos países menos ricos;
  6. Penalizações mais duras aos agentes promotores de violência e a todos os envolvidos em esquemas fraudulentos, lavagens de dinheiro, etc;
  7. Jogos divididos em quatro partes de 25 minutos, com três momentos para substituições sem limite, sendo que nos últimos 10 minutos apenas conta o tempo útil de jogo (não se aguentam aquelas “fitas” para perda de tempo);
  8. Possibilidade de captação de entrevistas e comentários dos treinadores e capitães nos intervalos dos jogos;
  9. Fomento do recurso a árbitros de outros países nas competições internas;
  10. Mãos na bola dentro da área passam a ser sancionadas apenas com livre indireto, exceto quando haja evidente objetivo de evitar um golo iminente (a “histeria” de pedidos de penálti sempre que a bola numa área toca na parte superior do corpo de um defesa é cada vez mais comum e insuportável);
  11. Aumento do altura da baliza dos atuais 2,44 metros para 2,55 metros, para compensar o crescimento médio dos homens no último século e facilitar mais golos;
  12. Dimensão dos campos, altura dos relvados e iluminação dos estádios sempre idênticas.

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