Nos Estados Unidos, a Universidade estatal de Ohio, exige que os alunos que se inscrevem no curso de saúde (e que sejam brancos, heterossexuais e sem nenhuma incapacidade), participem em atividades e discussões sobre género e raça, incluindo uma que pede para que “assumam os seus privilégios”.
A Escola de Medicina de Duke, na Carolina do Norte, tem nos seus planos de diversidade, equidade e inclusão acabar com a “pontualidade” e “individualismo”, que considera parte da cultura de supremacia branca.
Já na Europa, a Universidade belga de Liége lançou um curso obrigatório para todos os seus alunos sobre ecologia e sustentabilidade, intitulado de “Sustentabilidade e Transição”, onde na sua descrição consta que o aquecimento global é culpa do “homem branco, cristão e heterossexual”. O que têm estas instituições de ensino em comum? São comandadas pela agenda da Teoria Crítica da Raça (TCR).
A TCR surgiu na segunda metade do século XX, construída sobre a estrutura intelectual do marxismo, como um modelo de investigação teórica e cientifica, que procura encontrar explicação para as desigualdades raciais, entendendo-as como problemas sistémicos.
Partindo do pressuposto de que o direito é um instrumento de controlo social, este modelo defende que a discriminação de uma pessoa por motivos de raça não é um problema que existe apenas dentro do indivíduo que está a realizar a discriminação, mas que foi transferido para as estruturas sociais em que vivemos, estando refletido em todas as instituições, sistemas e leis. Sendo também normalmente aplicada a outros tipos de discriminação (como género, identidade sexual, religião, etc.), perpetua que para estes problemas estruturais da sociedade acabarem precisam ser reformados – mesmo que essa reforma entre em conflito com os direitos básicos da sociedade liberal, como a liberdade de expressão.
Se alguém de esquerda ler este texto, vai certamente objurgar a minha crítica, apontando ao facto de eu pertencer ao grupo visado e por isso mesmo estar a “defender o meu privilégio”. No entanto, apesar de fazer check no branca e heterossexual, sou muito consciente das injustiças que existem no mundo em que vivemos, e por isso mesmo acho um absurdo o rumo que esta ideologia está a levar. Obviamente que não podemos ignorar o passado nem a história, ou fingir que as discriminações sociais já não existem nos dias de hoje, porque não as sentimos diretamente na pele, porque acreditamos que existe meritocracia, ou mesmo porque essa igualdade de liberdades e direitos estão estabelecidos por lei. As convenções sociais com base em preconceitos levam, de facto, várias gerações até serem completamente alteradas, pelo que não é por acaso que uma pessoa transexual tem maior dificuldade para ser contratada ou que a disparidade salarial entre as mulheres e os homens ainda é uma realidade.
No entanto, tenho a certeza que não é a incriminar as civilizações dos nossos antepassados (cujas decisões foram tomadas dentro do seu contexto cultural e temporal) ou a segregar o que é considerado como o “grupo racial maioritário” que esse desenvolvimento social vai acontecer. O que vemos é exatamente o contrário, uma população cada vez mais fraturada e incompreensiva.
Estes discursos exagerados, que supostamente deviam servir para fomentar uma “consciência inclusiva”, levam a que pessoas mais conservadoras (que obviamente são livres de discordar), comecem a desprezar estes tópicos, ligando-os negativamente a todos os movimentos em prol dos direitos humanos que evoluíram historicamente a nossa sociedade, e que perigosamente se veem visados nos crescentes discursos discriminatórios extremistas.
No outro extremo, quem defende a TCR, fomenta uma cultura de rivalidade entre grupos e de “cancelamento”, capaz de censurar livros e filmes do passado cujas terminologias considera “ofensivas”, e de perpetuar um discurso de ódio e repúdio de quem pensa de forma diferente. Até porque esta teoria, como o nome indica, deveria criticar a própria terminologia de “raça”, em vez de apenas a ressignificar. Na minha opinião, o que se deveria estar a ensinar nestas instituições deveria ser pensamento crítico e tolerância pela individualidade, pois a única forma de fazermos o mundo mudar é se cada um de nós desenvolver a sua consciência humana – o problema e a solução é, e sempre será, o indivíduo.