A desconfiança entre os seres humanos tem sido exacerbada por um dinheiro que retrata principalmente a dimensão do poder. A decorrente crise de valores semeia o caos e a discórdia, originando, também, a fricção Leste-Oeste que agora inflama a Europa.

A forma de eliminar este atrito é criar um estado tampão entre os países ocidentais e a Federação Russa. A neutralidade da Ucrânia evitará a libertação da energia da guerra e a supressão da energia da paz. Só assim a temperatura voltará ao normal. Não há outra solução, nem para a Ucrânia, nem para a Europa, nem para o Mundo.

O plano para evitar um desfecho catastrófico foi sugerido pelo homem mais rico do mundo, alguém que se habituou a lançar foguetes para desbravar horizontes e não para destruir o planeta.

Neste plano de paz, Elon Musk pede aos ucranianos que cedam a Crimeia à Rússia (que a anexou em 2014). Propõe, também, que a Ucrânia renuncie às suas aspirações de adesão à NATO e à União Europeia, duas organizações que Moscovo considera ameaçarem a soberania da Federação Russa.

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Musk começou por destacar o seguinte “post” do jornalista Matt Taibbi, publicado no dia 14 de Outubro: “Se a Casa Branca não acha que a guerra pode ser vencida, mas se recusa a abrir negociações ou ‘incentivar’ outros a fazê-lo, qual é exatamente a estratégia final?”

Considerando esta “a pergunta certa a ser feita”, Musk alerta-nos para que os russos podem mesmo utilizar armas nucleares: “A Rússia levou um soco no nariz e foi forçada a recuar muitas vezes pela Ucrânia”, referiu a 17 de outubro, acrescentando que “a probabilidade de eles usarem armas nucleares é alta.”

Quem pensa que os russos não são capazes de lançar o mundo nas trevas para salvar a face, limitando-se a sair precipitadamente da Crimeia tal como os americanos saíram do Afeganistão, deverá pensar duas vezes. Esta analogia é errada e muito perigosa. Como aponta Musk, “A América também teve uma retirada humilhante do Afeganistão. [Mas] ninguém na América vê esse país como parte da América”, acrescentando que “a Crimeia é vista como parte crucial da Rússia pela própria Rússia, assim como o Havai é visto como uma parte crucial da América”. O raciocínio dos americanos é fácil de perceber, mesmo sabendo que o Havai está longe do seu território continental. Também a crise dos mísseis de Cuba (1962) ilustra bem este entendimento. Ora, farão os russos (em particular os seus dirigentes) um raciocínio substancialmente diferente? Tal como Musk, acredito que, infelizmente, não.

Para além do reconhecimento da Crimeia como sendo território russo, Elon Musk propõe, ainda, a realização de referendos comprovadamente livres (fiscalizados pela comunidade internacional), nas províncias do leste da Ucrânia anexadas pela Rússia.

Julgo que este plano de paz contempla posições bem mais razoáveis do que as decorrentes da guerra. É certo que a respetiva implementação parece improvável, porque reina a desinformação e estão em marcha interesses tão míopes como poderosos, mas enquanto há vida há esperança…

Mesmo conseguindo alcançar o fim da guerra na Europa, há que melhorar as perspectivas das gerações futuras indo à raiz do problema que é a desconfiança humana. Tão ambiciosa missão só é possível porque o dinheiro se tornou programável, permitindo que as moedas passem a representar o valor de troca de forma multidimensional. Creio que já nasceram as mentes brilhantes que podem fazer a humanidade entrar numa nova era de paz e desenvolvimento, e esses jovens não desperdiçarão a criptografia e o rigor matemático para obterem a transparência e a confiança distribuída necessárias à descentralização do dinheiro e do poder.

Para além de terminar a guerra, temos de dar uma verdadeira chance às futuras gerações reformando politicamente um sistema de incentivos económicos e financeiros demasiado viciado para manter a paz.