Ao fim de quatro finais o Benfica vence finalmente a Youth League, ou seja a Liga dos Campeões dos Sub19. Um feito enorme. Depois da segunda época consecutiva desastrosa da equipa sénior, sem a conquista de qualquer título, está vitória na youth league vem mesmo a calhar para o orgulho e para a esperança de todos nós adeptos benfiquistas.

Como sócio a minha admiração e o meu agradecimento aos jogadores, à equipa técnica e a toda a estrutura que durante todos estes anos passou pela Academia e contribuiu, muitos anonimamente, para todo este enorme sucesso e tenha feito dela uma das melhores Academias do Mundo. É a vitória da competência e do trabalho.

Para chegar à final o Benfica ultrapassou entre outras equipas, o Barcelona (3-0 e 4-0) o Bayern (4-0 e 2-0), o D. Kiev (0-4 e 1-0), o Sporting (4-0), a Juventus (2-2) e o RedBull Salzburg na final (6-0). Mas muito para além deste registo de resultados espectacular e da vitória final o que mais me impressionou foi o brilhantismo das suas exibições e o futebol entusiasmaste que apresentaram, a lembrar as grandes equipas e os grandes jogadores que tivemos no passado.

A excelente qualidade de passe, o jogo entre linhas, a agressividade na luta pelas segundas bolas, a mobilidade dos jogadores, a sua intensidade de jogo, a qualidade individual e colectiva, a paixão pelo futebol positivo, a concentração competitiva e a imensa vontade de ganhar.

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E após o jogo da final dei por mim a pensar como é que é possível que ao fim de um ciclo de quatro finais da Youth League com sucessivas excelentes gerações de jovens jogadores formados na Academia do Seixal a nossa equipa sénior seja completamente a antítese do futebol apresentado nas equipas jovens.

A equipa sénior não deveria ser em parte o corolário do que se prepara durante anos na Academia? Mas não, pelo contrário a equipa sénior dos últimos anos apresentou sempre um futebol lento, lateralizado, sem mobilidade, sem verticalidade, sem paixão, com uma qualidade de passe miserável, com uma velocidade para as competições nacionais e outra velocidade para as competições europeias

Como é possível? Quem são os responsáveis? Quem é o génio ou os génios que nos trouxeram até aqui?

E a resposta é simples, é que o Benfica não tem um modelo desportivo mas sim um modelo económico que funciona e é muito lucrativo para todos e em que o Clube está viciado e não sabe nem ousa questionar. É um modelo que no início nos permitiu crescer patrimonialmente, é um facto compreensível mas que está esgotado e que no final nos tem descaracterizado e fragilizado ano após ano na luta pelos títulos, que é para isso que cá andamos e é o desejo de todos os sócios e simpatizantes.

E também qual o sinal que este modelo económico recorrente dá a estes recentes jogadores campeões da Youth League? Estarão eles motivados e verdadeiramente convencidos de que vão conquistar grandes coisas na equipa sénior do Clube? Será que para o ano virá um treinador que dará oportunidades aos jovens jogadores ou virá um treinador que não aposta? Quantos novos jogadores estrangeiros integrarão o plantel da próxima época, a maioria como sempre de qualidade duvidosa, a receber o triplo do ordenado e que têm de jogar? Terão os jovens um plantel sénior equilibrado que os integre da melhor forma e os permite crescer ou terão como habitualmente um plantel completamente desequilibrado?

O histórico de política desportiva sénior errática do Clube legítima enormes dúvidas aos jovens jogadores sobre o futuro próximo das suas carreiras no Clube. O treinador da nossa equipa vencedora da Youth League, Luís Castro, disse em entrevista, “se não houver sequência a este trabalho este título não faz sentido” e tem toda a razão e é o sentimento de todos nós sócios.

A caminho do final da época e já na preparação da próxima, acredito que a maioria dos sócios do Clube tenha a expectativa de que nada de muito diferente venha a acontecer e esteja já à espera resignado do habitual espectáculo de fim de época da venda dos melhores jogadores, pq não há nada a fazer, é preciso pagar as contas… (será que um empresário da nossa praça já não tem um mandato de venda de mais um ex finalista da Youth League o Gonçalo Ramos que vai deixar assim o Clube sem deixar o Benfica campeão ? ),

  • resignados com a habitual entrada de novos jogadores estrangeiros escolhidos sem critério alguns de qualidade duvidosa e até que alguns nunca venham mesmo a jogar na primeira equipa,
  • resignados que se paguem a 3 e 4 empresários em cada transferência de jogadores e o valor liquido a entrar no Clube seja sempre muito inferior ao valor da venda…. terá que ser mesmo assim? É assim tão difícil vender uma grande promessa com as características do Darwin, por exemplo?,
  • resignados por todos os anos a equipa sénior ser completamente descaracterizada e fragilizada na luta pelos títulos.

Será legítimo esperar algo de diferente na próxima época? No final são as mesmas pessoas de sempre e o mesmo Modelo.

A simbologia desta extraordinária vitória na Youth League no dia 25 de Abril talvez seja um sinal que o Clube mais popular e mais democrático de Portugal talvez precise mesmo é de um 25 de Abril que mude de vez os seus actores, que aliás são exactamente os mesmos há anos, com excepção do grande líder que embora ausente continua a doutrinar por fora, e que liberte o Clube deste espartilho e deste Modelo de há anos.

E se questione tudo livremente. Se questione o modelo. Se questione a metodologia das aquisições de jogadores. Se questione o valor exorbitante das comissões pagas aos agentes e as intrincadas operações financeiras por trás das transferências. Se questione e esclareça de uma vez por todas as operações internas que têm levantado dúvidas e suspeitas no caminho da transparência prometida. Se questione a forma como os novos jogadores são integrados na equipa sénior (injustamente o valor do Paulo Bernardo e mesmo do Gonçalo Ramos é já posto em causa por muitos sócios e observadores). Se questione a enorme e cara estrutura organizacional instalada, não há outra forma? Se questione a ambição de ter de ser competitivo em 30 modalidades diferentes, isto é sustentável? Se questione o nosso modelo de financiamento caro e se procure usar melhor o mercado de capitais como alternativa, mas em prol do Clube em vez de servir para negociatas pouco transparentes… Se questione a nossa comunicação envergonhada no meio do pântano que é o futebol português onde a ameaça e a intimidação é regra e dá títulos. Se questione firmemente a Liga e a FPF pelo seu alheamento total dos problemas do futebol português assumindo o papel de maior Clube português. Etc., etc., etc.

É fácil? Não é, mas é preciso fazê-lo, o Modelo que temos está esgotado.

Mas será que com um líder pouco experiente e com um histórico como vice presidente ausente e escondido de todas as decisões importantes e com uma Direcção/Administração em funções completamente dividida é expectável haver independência, liberdade, energia e vontade para um novo caminho, um novo plano, uma nova ambição, uma nova esperança? Ou será a continuação de um Benfica capturado e adiado ?

Aguardemos para ver.