Hoje há o mau hábito de tentar dar novas identidades às palavras. Nada de que Orwell não se tenha lembrado, o que nos leva a achar estas imitações de hoje, pobres, paupérrimas mesmo.

Inclusão é uma das palavras cuja identidade foi roubada. Para quem a oiça, pensará que ser inclusivo, nas escolas, seria garantir que houvesse professores para todos, para garantir que, os que não têm posses para explicadores, conseguissem ter um ensino de qualidade. Que os pavimentos fossem tratados de modo a que os invisuais se orientassem. Que ser inclusivo seria facultar formação em linguagem gestual para que os surdos se sentissem incluídos. Que ser inclusivo seria garantir escolas onde quem fosse portador de qualquer tipo de deficiência fosse aceite. Vi, há dias, um grupo de invisuais num museu. Uma especialista explicava a pintura e um ajudante, nas costas de cada invisual, desenhava, com um dedo, materializava a explicação. Na rua, vi invisuais a andarem descontraidamente pela rua, sozinhos. A cidade não era em Portugal. Inclusão não é uma questão de casas de banho, mas há quem não consiga perceber esta verdade tão simples.

Numa escola pública, perante uma funcionária, pública, nas imediações de um conselho de professores, públicos, dependentes de uma direcção-geral, pública, de um secretário de Estado, de um ministro e de um primeiro-ministro, uma criança foi violada. Cumprindo um desígnio que nem o Altíssimo entenderia, os violadores tiverem um “castigo” de 4 dias de suspensão, em casa. A funcionária teve um processo disciplinar, o Conselho Directivo, nada. O ministro foi para a Ucrânia. Num gritante silêncio, o senhor doutor Sampaio, o sr. dr. Pedro Strecht e o magistrado Laborinho Lúcio, especialistas no tema, não foram incomodados e não se incomodaram a manifestar-se. Não vimos as televisões a bater à porta da funcionária, dos violadores, dos professores e do ministro, persegui-los mesmo, para que “houvesse justiça”, como em passado recente. Ninguém pediu uma “comissão independente”, ou mesmo que dependente fosse. Ninguém falou em indemnizações, em penas de prisão. Não houve abertura de telejornais com o título “abusos no Estado”. Não foi formado nenhum grupo e não foi feita uma extrapolação para se estimar em 8423 violados nos últimos anos. Lembro que há dias um bispo, um cardeal para ser mais preciso, disse que aquando da entrega do “relatório” aos bispos estes perguntaram à “comissão” quem foram os bispos que encobriram, sem surpresa não souberam responder.

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