É com alegria e gratidão que me associo à nomeação cardinalícia do Senhor D. António Marto.
Alegria, pelo reconhecimento dos seus muitos méritos e do contributo que podem dar à Igreja universal e ao ministério do Sucessor de Pedro.
Reconhecimento oportuno, no atual contexto eclesial. D. António Marto pertence à primeira geração que nasceu, cresceu e se afirmou depois da Segunda Guerra Mundial. Chegou à juventude nos anos sessenta, que tantas novidades trouxeram à sociedade e à Igreja. À sociedade mais participativa e à Igreja-comunhão, assim mesmo reafirmada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).
Sociedade participativa, onde todos se possam decidir e expressar. Igreja-comunhão, lugar de encontro de Deus com os homens e «como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Lumen Gentium, 1).
O novo cardeal é expressão eloquente desta geração, no que diz e no modo como atua. O seu percurso pessoal, da aldeia natal ao seminário, da experiência fabril ao estudo romano, do magistério universitário aos sucessivos cargos episcopais (em Braga, Viseu e Leiria-Fátima), representa na Igreja em Portugal o melhor do que essa geração nos trouxe e continua a trazer.
No seu caso pessoal, por duas razões maiores: pela inteligência e pela sensibilidade. Inteligência significa capacidade de ler e entender o que o tempo traz e promete. Evangelicamente, significa reconhecer que em cada circunstância se pode detetar a presença do Ressuscitado e o seu apelo.
Tivemos entre nós a felicidade de contar com a grande personalidade teológica e pastoral que foi o falecido Cardeal D. José Policarpo, que se revelou sobretudo um grande leitor dos “sinais dos tempos”. Com ele privei muitos anos e posso testemunhar da grande estima que nutria por D. António Marto e como acompanhava o seu percurso. É com este conhecimento que os aproximo aos dois na idêntica atitude e competência com que leem e nos ajudam a ler evangelicamente a realidade.
Também porque os aproximou a sensibilidade. Refiro-me ao modo de ser tocado pelos outros, às suas necessidades e aspirações. Refiro-me à abertura, à bondade e à beleza, irmãs gémeas da verdade. Nisto se aproximaram também os dois – o cardeal Policarpo, criado no mesmo consistório de Bergoglio; o cardeal Marto, no presente consistório do Papa Francisco.
Naturalmente, estas circunstâncias reforçam a alegria com que que acompanhei o primeiro e acompanho agora o segundo. Num sentimento que é muito justamente compartilhado pela Igreja e a sociedade em geral.
A gratidão, dirijo-a a Deus, ao Papa Francisco e ao novo cardeal. A Deus, por reconhecer também aqui um sinal da sua providência e companhia. Ao Papa Francisco, por reforçar deste modo o seu impulso evangelizador, na Igreja e no mundo, da Igreja para o mundo.
Ao cardeal Marto por tudo quanto representa e ativa entre nós, na receção conciliar que continua.
Este texto é o prefácio do livro “D. António Marto. O Cardeal de Fátima” (Paulus Editora), que sai para as bancas esta quarta-feira