Encontra-se profundamente enraizada na sociedade portuguesa, a par de uma série de outras atribuições injustas, a ideia de que os sindicatos convocam sistematicamente greves antes do fim-de-semana. Ora quero, por isso, começar este meu artigo por demonstrar a minha total solidariedade e compreensão com todos os que, com espírito de sacrifício, e alguma inveja dos que não o fazem, convocam antes greve às quintas-feiras. Ainda que apenas nas quintas-feiras que antecedem um feriado à sexta. Deve, de facto, ser uma chatice para estes profissionais dedicados e rotinados não terem a possibilidade de, como habitual, convocar greve à sexta-feira. Em vez de se limitarem a substituir o mês na ata da assembleia de trabalhadores da semana anterior, são ainda levados ao incómodo labor de substituir o dia da semana na já gasta folha que o sindicato imprime todas as sextas-feiras na última semana do mês.
Quero, em segundo lugar, demonstrar alguma empatia com aqueles que fazem parte de um projeto-piloto no nosso país para experimentar a semana de quatro dias ou, como se ouve na gíria, o fim de semana prolongado – os sindicalistas da greve à sexta-feira. De facto, não é qualquer um que está à frente do seu tempo. Ter a coragem para ir em contramão e, enquanto todos os outros trabalham cinco dias, ousar trabalhar apenas quatro é, no mínimo, louvável. No máximo, imitável. Agradeço, portanto, a disponibilidade destes trabalhadores para, aos ombros dos gigantes do nosso mundo, partirem em busca do desconhecido.
Existe, ainda, uma outra circunstância associada aos sindicatos que é conotada negativamente, e que sinto a necessidade de mencionar. A sensação de que há demasiados sindicatos, alguns dos quais até com mais dirigentes do que associados. Não pretendo fazer juízos que concluam se 16 sindicatos da PSP (2018) ou 12 dos professores são demasiados. Creio que não existindo nenhuma métrica seria injusto fazer qualquer afirmação apenas com estes números. No entanto, há duas coisas das quais não tenho a menor dúvida, e das quais os sindicatos também aparentam não ter. Por um lado, que duas cabeças pensam melhor que uma e que, por isso, quantos mais sindicatos para a mesma classe profissional, melhor. A única exceção a esta regra é mesmo o xadrez. Por outro lado, que quanto maior o número de dirigentes maior o empenho do sindicato, mesmo que isto implique mais dirigentes que associados – um pormenor como é evidente.
Como não quero que as más-línguas digam que apenas elogiei e defendi os nossos sindicalistas, quero de igual modo aproveitar este espaço para protagonizar algumas soluções que visam resolver desigualdades há muito instaladas na nossa sociedade. Desde logo, como não creio que caiba na cabeça de alguém que, por alguém ter sido crucificado há mais de dois mil anos, haja hoje quem não possa convocar greve na Sexta-feira Santa, sugiro ao nosso governo o seguinte: a promulgação com efeitos imediatos de uma lei que adie todos os feriados às sextas-feiras para as terças-feiras. Não faz sentido ambos coincidirem e, considerando que há mais greves do que feriados à sexta, presumo que seja mais fácil adiar estes últimos.
Não poderia deixar de concluir este artigo sem, num tom mais sério, abordar o cerne da questão sindicalista. De facto, por responsabilidade de uma minoria, o papel essencial que os sindicatos devem desempenhar em democracia encontra-se, pior do que menosprezado, descredibilizado. As constantes greves às sextas-feiras, o elevado número de sindicatos para a mesma classe profissionais e os sindicatos que têm mais dirigentes que associados contribuem para uma perceção generalizada de que, na realidade, os objetivos dos sindicatos são outros que não a defesa dos trabalhadores. Acredito, porém, que a solução é mais fácil do que possa parecer. É uma simples questão de bom senso, para que a minoria não desvirtue a essencial maioria.