À semelhança de Martin Luther King Jr., também nós temos um sonho: tal como ele, sonhamos que todas as pessoas são avaliadas e julgadas pelo conteúdo do seu caráter; sonhamos que ninguém veja negado o seu direito de acesso à educação; sonhamos para que todos possam chegar tão longe quanto as suas capacidades em potência, aliadas à força do seu esforço, permitam chegar. E esse sonho que partilhamos não pode ser esquecido nem silenciado, na medida em que é a raiz que faz crescer todos os demais sonhos. Sonhamos com uma escola integradora e de qualidade, que volte a ser uma verdadeira alavanca social e volte a conhecer o respeito justo de uma instituição digna dessa consideração pública.

Aquilo com que sonhamos é com uma escola que seja capaz de formar indivíduos motivados pelos valores universais de uma cidadania ativa; sonhamos que os alunos sejam capazes de ver na escola mais que um local no qual têm que estar e que serve apenas para passar tempo. Aquilo com que sonhamos é uma escola que fomente um ensino de qualidade e rigoroso; sonhamos com um sistema educativo que esteja ao nível dos melhores sistemas do mundo, verdadeiramente educativo e não doutrinador, e que mantenha a sua integridade e gratuidade e universalidade de acesso. Aquilo com que sonhamos é com uma escola que recebe a gratificação que lhe é devida; sonhamos com um reconhecimento semelhante ao que os professores japoneses recebem do seu Imperador, ao serem os únicos que não têm que se vergar perante ele.

Dirão que sonhamos com muito. E sim, talvez sonhemos com muito. Mas, como diz o poeta e professor António Gedeão, “o sonho comanda a vida” e quem não sonha não tem ambições de um mundo melhor, estando, assim, condenado à resignação perpétua e ao conformismo de quem nada quer mudar na verdade. Portanto, sim, podemos dizer com certeza que sonhamos com muito. Mas também sonhamos por muitos e não abdicamos desses sonhos: sonhamos por nós, sonhamos pelos alunos e sonhamos pelos pais que sonham pelos filhos. Sonhamos por uma nação inteira a vida inteira, mas é preciso que, na hora de lutar pelo que é justo e merecido, aqueles por quem sonhamos se juntem e levantem as mãos e as vozes. Porque, como diz o escritor Valter Hugo Mãe, na sua obra Contra mim, citando a sabedoria antiga da sua Avó: “Se ajudarmos os professores, ajudamos toda a gente”.

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