A anedota da semana podia ser o anúncio, a cargo da dra. Mariana Vieira da Silva, de que, desde a última segunda-feira, o governo não voltará a participar em inaugurações. A piada está no pormenor de, nas semanas anteriores à marcação oficial das eleições, o dr. Costa ter inaugurado até placas comemorativas do facto de o dr. Costa inaugurar placas comemorativas. No passado dia 11, o ministro do ramo inaugurou em Óbidos um centro de saúde sem médicos, decerto inserido na estratégia de racionalização de custos que salvará o SNS. Ou seja, o governo não inaugurará mais nada porque não há mais nada para inaugurar excepto o momento em que aquela gente ostente, pela primeira vez, um pingo de vergonha na cara. E suspeito que o 10 de Março chegará sem podermos aplaudir tamanha efeméride. Porém, a anedota da semana não é esta.

As anedotas da semana têm como invariável protagonista Pedro Nuno Santos, conhecido em círculos fechados, mas abertos ao ridículo, por O Carismático. A primeira anedota versa a ex-CEO da TAP, que afinal, segundo a TAP, não era CEO da TAP, não trabalhava para a TAP e, imagine-se, acumulava trabalho em outras empresas além da TAP, para a qual, recordo, não trabalhava de todo. Pior, os advogados da TAP acusam a senhora de trabalhar mal e porcamente, embora, insistem eles, a senhora não trabalhasse para a TAP. Naturalmente, o dr. Pedro Nuno, que contratara a senhora, ou que julgara tê-la contratado, explica que o assunto não lhe diz respeito. Aconteceu o mesmo com a engenheira cuja indemnização o dr. Pedro Nuno aprovou, sem reparar que aprovou, via WhatsApp. À semelhança de todos os visionários, o dr. Pedro Nuno não presta grande atenção a minudências como a entrada ou a saída de funcionários das empresas que tutela: o interesse dele vai inteirinho para a saída de dinheiro dos nossos bolsos e a entrada do dito em portentosos “investimentos” estatais.

A segunda anedota da semana envolve a escola do filho do dr. Pedro Nuno. Eu nunca traria o petiz para as sórdidas entranhas da vida política, mas foi o próprio pai que, sem pertinência discernível, decidiu exibi-lo às massas no congresso do PS. Também não me meteria nas respectivas opções escolares, mas foi o próprio pai que repetidamente se afirmou um irredutível defensor da “escola pública de qualidade, capaz de responder aos desafios do presente e do futuro”. Tipicamente, a criança frequenta o Colégio Moderno. Pelos vistos, a escola pública não alcançou ainda a qualidade de que a criança carece, nem responde ainda aos “desafios”, presentes e futuros, que um bisneto de sapateiro exige. Já para a ralé, a escola pública chega e sobra.

A terceira anedota da semana decorreu durante uma entrevista ao “Expresso”, quando o jornalista Bernardo Ferrão colocou o dr. Pedro Nuno perante uma pergunta difícil (pergunta difícil é qualquer uma que se faça ao Carismático, dado que ele se atrapalha com todas): “Há quanto tempo não anda de comboio?” O dr. Pedro Nuno engoliu em seco: “Já há algum tempo”. E acrescentou: “É verdade.” E acrescentou mais: “Infelizmente, porque eu gosto muito de… de…” Antes que o dr. Pedro Nuno pudesse concluir o raciocínio e informar os eleitores de que gosta muito de fingir que gosta muito de andar de comboio, Bernardo Ferrão lançou outra pergunta difícil: “Sabe quanto custa um bilhete de comboio Intercidades Lisboa-Porto?”. Resposta pronta: “Eu… Eu não… Eu não… Eu já tive essa, já tive uma dessas. E já me fizeram uma lista…” Hã? “Essa” quê? “Dessas” quais? E qual “lista”? Sempre houve políticos que fogem a perguntas: o dr. Pedro Nuno prefere não sair do sítio de modo a confundir o entrevistador com frases avulsas sem ponta de ligação à questão original. É um método pioneiro. Por azar, não conseguiu desnortear suficientemente o jornalista, que reproduziu o (caríssimo) preçário e notou o sucesso da livre concorrência no mercado de autocarros. Ripostou o dr. Pedro Nuno: “A única coisa que posso dizer é que os comboios estão lotados.” A única coisa que posso dizer é que consultei os registos oficiais e a taxa de ocupação do longo-curso da CP em 2022 ronda, com sorte, os 50% (e os 20% nos percursos breves). Senhoras e senhores, eis, nas palavras de António Costa, o “grande impulsionador da ferrovia”.

A quarta anedota da semana é a promessa do dr. Pedro Nuno em tornar “Portugal grande outra vez”, a insólita adaptação caseira do slogan de Trump e uma demonstração de que ninguém consegue que ele decore duas frases seguidas, ou uma que faça sentido. Ele ao menos assume que não usará “uma certa linguagem no debate político”.

A quinta anedota da semana e das próximas semanas é esta criatura, que o PS desenterrou Deus saberá onde, que ignora o montante do salário mínimo enquanto luta pelo seu aumento, que desconhece tudo o que há para desconhecer acerca de comboios, aviões e carros de baixa cilindrada, que condena a especulação imobiliária menos a que lhe permite revender a casa pelo dobro do preço, que se deixou convencer de que uma imitação sofrível do “eng.” Sócrates passa pela gola alta e dispensa a lábia, ser candidato a primeiro-ministro. E poder ganhar. A “punch line”, portanto, são os portugueses.

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