Crescemos com os nossos pais a distinguirem as boas das más influências. As boas influências chegar-nos-iam de pessoas que, sem nos transfigurarem, trariam acrescentos à nossa forma de pensar. Sendo suposto que desse contraditório crescêssemos. Sem que, contudo, pervertêssemos o carácter. E sem deixarmos de ficar ainda mais livres, depois de pensar. As más influências seriam semelhantes a um vírus oportunista que procura o seu hospedeiro para sobreviver. Como se aquilo que somos não fosse um acrescento para o seu crescimento. Sendo que nos adoecem mais do que alimentam.

A diferença entre aquilo que escutávamos acerca das más influências, trazidas pelos nossos pais, é que elas estavam identificadas. E seriam em número muitíssimo reduzido. Eles sentiam-se capazes de reconhecer em nós recursos para lhes fazermos frente. E neles a autoridade moral de nos aconselharem a escutá-los sobre elas, de forma a que não corrêssemos o risco de sermos traídos pela nossa ingenuidade.

Agora, as influências proliferam, em cascata. Há, até, pessoas que têm como profissão “reconhecida” serem influencers. Independentemente da idade. E das experiências humana e profissional mais ou menos obscuras. De terem um discurso pré-fabricado, desde o momento como nos cumprimentam à forma como nos falam. Até aquilo com que nos pretendem manipular.

A esmagadora maioria destes influenciadores não traz um lastro de singularidade que leve a crescer. Ou a pensar. Pretendem que os nossos filhos repliquem os seus pontos de vista. Ou as causas que eles vão elegendo. A ponto de a diferença entre as boas e as más influências parecer diluída. E, com isso, os manipularem ainda mais.

Se este universo de influencers já me preocupa, porque presume que não passamos senão de pessoas… influenciáveis, mais me preocupa que se associe a psicologia (na comunicação, no desporto ou na clínica) à “arte” de persuadir. De convencer. Ou de manipular.

Na verdade, o que inquieta é que não se fale de boas e de más influências. As boas não são influências mas desafios à liberdade e a pensar. E as más tomam-nos como tigres de papel. Levados a reagir por impulso e a repetir. Ignorando aquilo que somos e tudo o que pensamos.

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