Mais do que celebrar o Dia Internacional da Mulher, importa perceber o porquê de o continuarmos a assinalar, a sua importância e simbolismo. Ao nível corporativo, já comemorámos várias conquistas, mas a realidade continua a mostrar-nos porque é que continua a ser tão importante falar sobre esta efeméride.
Nos dias de hoje, continuamos a assistir a casos de mulheres que perdem a oportunidade de progredir na carreira quando optam pela maternidade ou que são contratadas apenas “para cumprir a quota”, por exemplo.
Uma investigação recente da Harvard Business Review, baseada em questionários a mais de 1.600 mulheres em lugares de chefia nas quatro áreas onde existe maior paridade de género nos Estados Unidos (Direito, Ensino Superior, Instituições Solidárias e Medicina), concluiu que, apesar de até estarem em superioridade numérica nestes campos, a maioria das inquiridas revelou que certos estigmas ainda persistem: comunicação seletiva/condicionada, moderação do tom; falta de reconhecimento pelos seus contributos dentro da organização; interrupções regulares quando falam; a persistência dos ‘boy’s clubs’; inexistência de processos de integração ou, em casos mais extremos, viram-se até obrigadas a limitar as suas ambições profissionais em deterimento das suas opções pessoais.
A conclusão é simples e geograficamente transversal: muitas empresas ainda não são verdadeiramente equitativas. E, para isso, não basta cumprir quotas. É por isso que, em vez de agir de acordo com números, importa agir consoante valores. Para isso, existem decisões que tanto podem ser proativamente adotadas pelos departamentos de Recursos Humanos e/ou chefias; como também exigidas pelos colaboradores que, verdadeiramente, acreditem no sentido e conceito de igualdade.
O sucesso de cada colaborador deve ser medido pelos objetivos cumpridos e não pelo tempo gasto no trabalho. Em vez de promover a competitividade, incentivar à cooperação. As decisões devem ser tomadas de forma transparente, com base em argumentos sólidos que as justifiquem. Na hora de recompensar a dedicação, fazê-lo de forma equitativa. Por fim, e tendo em conta as mudanças claras que o mercado de trabalho tem vindo a adotar, aceitar a flexibilidade e promove-la quando possível, sempre em nome do retorno que isso pode aportar à empresa. No fundo, colaboradores feliz fazem empresas felizes.
Através dos dados disponibilizados, sejam eles locais ou globais, de instituições públicas ou privadas, percebemos que ainda existem muitas limitações na ascensão feminina a cargos hierárquicos mais elevados. Quando falamos em igualdade de género, não podemos cingir-nos às questões representativas. O preconceito e o estigma existem e é preciso eliminá-lo. Parte da solução está nas empresas e em quem as lidera – se as tornarmos flexíveis, inclusivas, solidárias e equitativas – não apenas com as mulheres, mas com todos – já é um bom começo.
Há ainda um longo caminho a percorrer e este depende de vários factores e intervenientes. Mas depende também de nós, as mulheres, que temos a responsabilidade de ajudar outras mulheres a perceber as oportunidades pelas quais devem lutar. A responsabilidade de mostrar, de normalizar e de inspirar para que no futuro falemos apenas de líderes.