Há 12 anos que existe o Dia Mundial das Redes Sociais. Comemora-se a 30 de junho. Foi criado pelo Mashable, um site norte-americano de notícias sobre internet, redes sociais e entretenimento.
Para muitos as redes sociais são vistas como um “gangster digital”, para outros são o epíteto da liberdade. Alguns apelidam-nas de inimigo número um das democracias liberais. Outros olham nas como uma “Tecnologia de Libertação”. Até à eleição de Donald Trump, em 2016, existia uma opinião positiva acerca das redes sociais. Depois da sua eleição e do entendimento do papel que desempenharam nos resultados obtidos, o sentimento quanto a esta tecnologia começou a mudar.
O verdadeiro abalo viria em 2018, com o escândalo da Cambridge Analytica, uma empresa britânica de consultoria política que que analisava dados e com isso definia a estratégia de comunicação de campanhas eleitorais. Através da construção de uma aplicação, a Cambridge Analytica, o cérebro dos dados da campanha eleitoral de Donald Trump em 2016, teve acesso, de forma ilegal, aos dados de 87 milhões de perfis do Facebook, permitindo-lhe elaborar modelos de personalidade de todos os eleitores norte-americanos. Uma vez construídos os modelos, os utilizadores “persuadíveis” (aqueles que não têm uma opinião definitiva sobre aquele em que irão votar) foram bombardeados com conteúdo falso, construído à sua medida, com o objetivo de mudar o sentido de voto.
Uns meses antes da eleição de Donald Trump, ocorrera o referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE). O “sair” ganhou por pouca margem. A Cambridge Analytica havia sido a responsável pela estratégia de comunicação da campanha a favor da saída. Para alguns o Brexit serviu de “incubadora para a campanha de Donald Trump”. O parlamento britânico investigou durante 18 meses a Cambridge Analytica e de que forma esta interveio no processo que levou os eleitores a rejeitarem a UE e a quererem sair. Os relatórios finais concluíram: “As nossas leis eleitorais não são adequadas”.
Porque não foram adequadas? O que houve de errado nas leis eleitorais britânicas para que não assegurassem eleições livres e justas? Talvez a resposta a estas perguntas seja a falta de regulação das gigantes tecnológicas por parte dos estados. É sabido o papel que o Facebook nos últimos anos tem tido na subida ao poder de governos autocráticos e na forma como utilizam esta rede social para disseminarem uma política de ódio e medo. Em 2018, Jair Bolsonaro, o candidato de extrema-direita, foi eleito devido à propagação de conteúdo falacioso encapsulado em forma de notícias pelo Whatsapp que pertence ao Facebook, hoje a Meta.
O massacre dos Rohingyas em 2017, em Myanmar, foi classificado pelos investigadores da ONU como um “genocídio”. Na origem da mortandade esteve o incitamento ao ódio racial que proliferou através do Facebook. Está provado que os serviços secretos russos criaram memes falsos do Black Lives Matter. Os utilizadores da plataforma ao clicarem nestes memes eram direcionados para páginas nas quais eram convidados a ir a protestos organizados pelo governo russo. Ao mesmo tempo, provocando a desordem e instigando ao medo, criavam páginas que visavam grupos adversários como o Blue Lives Matter. Era a política do dividir para conquistar infligida pelo Kremlin ao povo americano.
Poder-se-á, apressadamente, dizer que as redes sociais são nefastas para a sociedade. Ou até mesmo afirmar que são más para a democracia liberal. Classificá-las como vilãs ou heroínas não será a melhor opção se se pretender refletir sobre o assunto, pois, na verdade, não são necessariamente boas ou más. Em determinados contextos podem ser negativas e noutros podem-se revelar positivas.
Entre 2010 e 2012, na Tunísia, no Egipto, na Líbia e por fim na Síria eclodiu uma onda de protestos. Os ditadores há décadas no poder foram derrubados em cada um destes países. Para o efeito, os manifestantes recorreram às redes sociais para tecerem fortes críticas contra o governo e combinarem a hora e o local dos protestos. As redes sociais também tiveram um papel determinante na organização de manifestações aquando da fraude eleitoral nas presidenciais de 2009, no Irão, que deram origem à Revolução Verde.
Mais que diabolizar as redes sociais seria importante entendê-las. Atualmente, muitas delas têm impresso no seu ADN uma vocação para o discurso simplista. Os seus utilizadores tendem a oferecer soluções simples para problemas complexos. E numa sociedade da big data, em que a vida real passou do offline para online, seria da máxima urgência que os deuses de Silicon Valley alterassem a estrutura dos algoritmos das suas redes sociais com o intuito de darem maior visibilidade aos discursos devidamente justificados, que fomentassem o diálogo e não o ódio, o insulto ou o medo. Este processo certamente ficará mais robusto se for acompanhado pela vigilância acérrima dos estados de forma a regular a posse da informação. No século XXI os dados são o bem mais valioso do mundo. Deixá-lo concentrado nas mãos de uma pequena elite é aniquilar a nossa existência e desvirtuar a própria realidade. As redes sociais estão e estarão para ficar. Pensar que algum dia desaparecerão é uma ilusão.